Muitas pessoas no mundo das blockchains estão tentando se desacostumar com o sistema Proof of Work (ou PoW, na sigla em inglês) do Bitcoin, em que máquinas de mineração – que demandam muita energia – usam seu poder computacional para verificar cada novo bloco de transações em troca de novas moedas.
No mundo do Ethereum, por exemplo, grande parte do desenvolvimento se voltou para o mecanismo alternativo de consenso Proof of Stake (ou PoS), que depende de um grupo distribuído de stakeholders. Para obter o direito de validar transações e gerar novas moedas, esses “validadores” não usam poder computacional, e sim depositam – ou fazem o staking – seu próprio dinheiro na rede.
No entanto, iniciativas de desenvolvimento de um sistema PoS geralmente têm um problema: pode ser muito fácil para que um stakeholder ou múltiplos stakeholders conspirem, acumulem fundos e neutralizem a rede.
Isso compromete a segurança e a descentralização, dois dos três alicerces de uma blockchain eficaz, pelo bem da escalabilidade. Foi por causa disso que a Harmony tentou desenvolver um sistema mais justo que mantém validadores na linha.
O que é Harmony?
Harmony é uma blockchain de primeira camada desenvolvida em 2018 e lançada em 2019 por Stephen Tse, com o objetivo de solucionar o persistente “trilema das blockchains”: equilibrar escalabilidade, segurança e descentralização.
Ela foi lançada no Binance Launchpad, arrecadando US$ 23 milhões em maio de 2019 e, agora, possui uma capitalização total de mercado em torno de US$ 1,5 bilhão.
Opera na rede Ethereum e inclui um token chamado ONE, que pode ser emitido por validadores e obtidos na forma de taxas de transação.
Seus desenvolvedores afirmam que a rede é capaz de processar duas mil transações por segundo (ou TPS), as quais demoram, em média, dois segundos para serem liquidadas – em contraste, transações no Ethereum demoram cerca de dez minutos para serem processadas.
As taxas de operação do Harmony são cerca de mil vezes menores.
Harmony também incorpora um recurso de conexão entre blockchains chamado Horizen, que permite que holders se movam entre ONE e a rede Ethereum, ou seja, podem aproveitar tanto a segurança da rede de primeira camada como a eficiência da rede de segunda camada.
Atualmente, está desenvolvendo uma plataforma para empréstimos de tokens não fungíveis (ou NFTs).
Como Harmony funciona?
A blockchain Harmony é dividida entre quatro redes conhecidas como “shards”, que são operadas de forma paralela, mas são validadas por grupos distintos de stakeholders – uma espécie de trabalho em blockchain que torna a rede mais eficiente e reduz sua latência.
Harmony chama essa abordagem de “Effective Proof of Stake” (ou EPoS).
Stakeholders do Harmony depositam o token nativo ONE e lhes é atribuído um dos quatro shards (atualmente, apenas Shard 0 está sendo utilizado).
Validadores têm de manter uma cópia completa das transações de um shard específico mas, é claro, não mantêm uma cópia completa de toda a rede.
Como recompensa, recebem moedas recém-emitidas e uma parte das taxas de transação geradas.
São rotacionados entre shards após um período conhecido como “epoch” para evitar que se acostumem. No momento, cada shard possui 250 vagas para validadores, mas a escalabilidade pode fazer esse número aumentar.
A ideia do Harmony é escolher stakeholders aleatoriamente para cada shard a fim de evitar tentativas coordenadas de dominar a rede.
Harmony também desestimula o acúmulo de tokens ao multar aqueles que fazem o staking acima de um limite específico e recompensa aqueles que investem menos. A (possível) vantagem? Transações mais rápidas e taxas menores sem prejudicar a segurança.
Quem trabalha com Harmony?
Bored Ape Yacht Club (ou BAYC)
Uma popular série de NFTs de imagens de perfil (ou PFP) repleta de primatas coloridos e que dão acesso a benefícios em uma enorme comunidade vibrante. Holders de Bored Apes podem migrar seus NFTs para o DeFi Kingdoms, um jogo “play-to-earn” desenvolvido na blockchain Harmony.
Terra
UST é uma stablecoin algorítmica popular entre corretoras descentralizadas (ou DEXs). Uma parceria entre Terra e Harmony permite que uma versão sintética da UST (“wrapped UST”) seja utilizada na blockchain Harmony, com paridade de 1 UST.
Para que serve o token ONE?
ONE, o token nativo do Harmony, pode ser colocado em staking, obtido e emitido, além de conferir direitos de governança a holders, permitindo que participem de decisões relacionadas ao futuro da rede.
Assim como o Bitcoin, possui um fornecimento limitado: limite de 12,6 bilhões de tokens, dos quais 9,4 bilhões já foram emitidos, segundo o site CoinMarketCap. Cerca de 15% dos tokens ONE foram direcionados à equipe fundadora.
Onde comprar o token ONE?
O token ONE está disponível para compra em uma variedade de corretoras, incluindo Binance, Crypto.com e Huobi Global.
Em janeiro de 2022, o token ONE atingiu uma capitalização de mercado de US$ 4,8 bilhões.
O futuro do Harmony
Harmony está desenvolvendo um recurso que permite o empréstimo de NFTs e está migrando seu token de uma extensão no navegador Chrome à MetaMask enquanto desenvolve sua própria carteira.
Também criou um fundo de US$ 13 milhões chamado Harmony Grants, que visa financiar mais pesquisa no campo PoS.
Já apresentou, por exemplo, uma organização autônoma descentralizada (ou DAO), cujo objetivo é financiar pesquisas sobre zk-SNARKs, que são maneiras de comunicar dados confidenciais entre blockchains de forma anônima.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.