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Derrubada do decreto do IOF esfria possível adoção massiva das stablecoins, apontam especialistas

Encarecimento da compra de dólar pelo decreto poderia ter dado impulso ao mercado de stablecoins

várias criptomoedas stablecoins sob uma mesa

A Câmara dos Deputados derrubou, na noite da quarta-feira (25), um decreto editado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no mês passado, que tratava de regras do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O objetivo era arrecadar recursos para cumprir a meta fiscal de 2025. Foram 383 votos favoráveis e 98 contrários, em decisão confirmada pelo Senado em votação simbólica duas horas depois.

Entre as medidas propostas no decreto, estão o aumento na taxação das apostas eletrônicas, as chamadas bets, de 12% para 18%; das fintechs, de 9% para 15% a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), igualando-se aos bancos tradicionais; a taxação das Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), títulos que atualmente são isentos de Imposto de Renda.  

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O decreto do IOF não afetou de forma direta o mercado de criptomoedas, mas encareceu a compra de dólares ao aumentar a alíquota para 3,5%, o que especialistas apontaram que teria efeitos colaterais no setor.

Um dos efeitos era possivelmente estimular o uso de stablecoins, que não eram abarcadas pelas novas alíquotas. O analista André Franco, CEO da Boost Research, aponta que de fato era uma opção comprar dólares digitais, recarregar um cartão de cripto e aí usar o ativo sem necessariamente pagar o IOF.

“Com a derrubada desse aumento do IOF, a vantagem para a cripto ficou um pouco menor. Então você volta para os cartões como Nomad ou outros cartões internacionais e a concorrência com comprar cripto diretamente é um pouco menor”, afirma.

Franco ressalta que a derrubada do decreto “traz um apetite menor para comprar, por exemplo, stablecoins”.

João Martins, executivo da Foxbit, analisa que o aumento do IOF acabou impulsionando o uso de stablecoins como alternativa mais viável à taxação nas remessas internacionais. “Com a derrubada desse aumento, temos agora a oportunidade de fortalecer ainda mais o uso legítimo das stablecoins, destacando seu real valor: são mais eficientes, baratas e seguras para esse tipo de transação, com vantagens claras em termos de custo, velocidade e transparência proporcionadas pela tecnologia blockchain.”

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Guilherme Prado, country manager da Bitget afirma que a derrubada do aumento do IOF pelo Congresso é uma “excelente notícia” para o mercado cripto no Brasil. “Segundo o Banco Central, cerca de 90% dos investidores brasileiros em cripto estão posicionados em stablecoins — ativos atrelados ao dólar que exigem operações de câmbio. Reduzir esse custo torna o acesso a esses ativos mais barato e acessível”, afirma.

O advogado Guilherme Peloso Araujo, tributarista sócio do Carvalho Borges Araujo Advogados, reconhece que o aumento do IOF gerou um debate sobre o uso de stablecoins, mas que esse aspecto também esta sendo olhado pelo governo.

“Ainda antes dos decretos, o uso de stablecoins para fins cambiais já era objeto de atenção do Banco Central e da Receita Federal, de maneira que é esperado que em breve seja produzida lei regulamentando essa situação, provavelmente equiparando a remessa de stablecoins às operações de câmbio para fins de cobrança do IOF”, diz Araujo.

Logo após receber sinais de que o decreto do IOF seria derrubado, o governo publicou a Medida Provisória 1.303/2025, que fixou uma alíquota de 17,5% para lucro com praticamente todas as aplicações financeiras, incluindo criptomoedas. Até então, vigorava uma isenção para quem operasse abaixo de R$ 35 mil por mês.

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O tema das stablecoins será regulamentado pelo Banco Central, que já fez uma consulta pública para colher as opiniões do mercado e sociedade sobre o tema.