O regulador de valores mobiliários da China teria instruído algumas corretoras a suspender seus negócios de tokenização de ativos do mundo real (RWA, na sigla em inglês) em Hong Kong, alinhando-se à postura cautelosa de Pequim enquanto a cidade avança em iniciativas relacionadas a ativos digitais.
A Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC) teria dado orientações informais a pelo menos duas grandes corretoras, pedindo que se abstivessem de atividades offshore de RWA, segundo reportagem da Reuters de terça-feira (23) que cita duas pessoas familiarizadas com o assunto.
Diversas empresas chinesas, incluindo subsidiárias de corretoras, já lançaram ou anunciaram produtos tokenizados na cidade, de acordo com o relatório.
O que é a tokenização RWAs?
A tokenização de ativos do mundo real é um processo que converte ativos regulados, como títulos, ações, imóveis ou fundos, em tokens baseados em blockchain.
A medida da CSRC parece ser motivada por preocupações com gestão de riscos, com autoridades supostamente buscando “negócios sólidos e legítimos”.
As perspectivas e oportunidades no setor de RWAs ganharam força em Hong Kong no último ano, após a Comissão de Valores Mobiliários e Futuros de Hong Kong (SFC) apresentar um roteiro abrangente para transformar a cidade em um polo global de ativos virtuais.
Em agosto, a SFC lançou um novo regime de licenciamento para stablecoins a fim de avançar esses esforços, com cerca de 77 empresas demonstrando interesse por meio de solicitações.
Um mês antes, o regulador de ativos estatais de Xangai realizou uma reunião a portas fechadas para estudar stablecoins e infraestrutura blockchain, sinalizando que a China persegue o que analistas chamam de “experimentação em camadas” em vez de uma liberalização completa.
Ainda assim, Pequim manteve restrições rígidas desde a proibição do comércio e da mineração de criptomoedas em 2021.
Uma “abordagem medida”
Observadores, no entanto, enxergam a medida como um gesto de cautela.
“Isso sugere que os reguladores estão adotando uma abordagem medida sobre como os ativos tokenizados interagem com os mercados de capitais, especialmente em nível transfronteiriço”, disse Jakob Kronbichler, CEO e cofundador do marketplace de crédito on-chain Clearpool, ao Decrypt.
As finanças tradicionais já estão “migrando para a blockchain, seja por meio de crédito para pagamentos, empresas de trading ou outros usos institucionais”, acrescentou Kronbichler, observando que a estrutura de licenciamento de Hong Kong cria um ambiente para que players interessados possam crescer, “mesmo que a postura regional mais ampla demore a se alinhar”.
“A orientação informal da China parece refletir cautela em vez de oposição à tokenização”, afirmou Giorgia Pellizzari, chefe de custódia da instituição financeira de ativos digitais Hex Trust, ao Decrypt. Ela acrescentou que os reguladores “parecem estar acompanhando de perto como esses produtos se conectam aos mercados de capitais, especialmente transfronteiriços”.
Para as empresas do setor, “os principais riscos são atrasos no lançamento de produtos e aumento da complexidade regulatória”, destacou Pellizzari. “No longo prazo, isso pode reforçar a importância de regras claras e coordenadas entre diferentes jurisdições.”
Em junho, a unidade de Hong Kong da GF Securities lançou os “GF tokens”, produtos de rendimento atrelados a moedas fortes. O China Merchant Bank International ajudou a Shenzhen Futian Investment a emitir um título digital de 500 milhões de yuans (US$ 70,2 milhões). Já o Seazen Group lançou um instituto em Hong Kong focado em tokenização.
O Decrypt entrou em contato com a GF Securities, CMB International e Seazen Group para comentar e atualizará a reportagem caso haja resposta.
Se esses esforços continuarão sem interrupções, ainda não está claro.
A incerteza para empresas que operam “entre Hong Kong e o continente” é uma lacuna que “pode reduzir os fluxos de capital transfronteiriços no curto prazo”, observou Kronbichler.
Apesar disso, “a demanda subjacente por crédito tokenizado e financiamento de pagamentos não mudou”, disse ele. “Essa pausa é mais sobre calibrar a política do que mudar de direção, e Hong Kong ainda oferece uma estrutura clara para que instituições continuem construindo.”
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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