Imagem da matéria: Os brasileiros que estão dominando a indústria de criptomoedas no exterior
Programador Rodrigo Souza em Nova York. (Foto: Divulgação)

À medida que a indústria de criptomoedas avança no mundo inteiro, muitos profissionais brasileiros decidem ir para o exterior e consolidar sua carreira nos Estados Unidos, país que concentra o capital intelectual e algumas das empresas mais importantes do setor de criptomoedas. 

O Portal do Bitcoin conversou com quatro brasileiros que estão construindo uma carreira de renome no exterior para descobrir detalhes sobre a trajetória profissional de cada um deles e em que projetos estão trabalhando ultimamente.

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O primeiro entrevistado da série é o programador Rodrigo Souza, CEO e fundador da BlinkTrade. As próximas postagens trarão as histórias de David Lawant, chefe de pesquisa de criptoativos na Bitwise; André Neves, cofundador e CTO da ZEBEDEE; e de Lucas Nizzi, gerente de produtos da CoinMetrics.

Rodrigo Souza – BlinkTrade

O desenvolvedor Rodrigo Souza, de 41 anos de idade, é uma figura popular no mercado de criptomoedas brasileiro, responsável por criar o grupo ‘Bitcoin e Altcoins’ no Facebook, que hoje possui mais de 60 mil usuários. 

Natural de Cubatão, São Paulo, Souza fundou a BlinkTrade em 2013, uma empresa que fornecia tecnologia para corretoras de criptomoedas em países como Brasil, Chile, Paquistão, Venezuela e Vietnã. Aqui no país, a BlinkTrade deu estrutura para as exchanges Foxbit e Bitcâmbio.

Souza revela que depois de oito anos mercado, o software que criou está sendo aposentado. “Eu percebi que as exchanges centralizadas não são um bom caminho para parceria. O serviço acaba sendo vantajoso só para a corretora e não para quem presta a tecnologia. Os problemas vão desde o modelo de negócio, até a parte de gestão, já que você está entregando a ferramenta foge totalmente do seu controle quando você a entrega na mão de outras pessoas”, explica.

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Agora ele e sua equipe foca no desenvolvimento da Naka.AI, uma nova plataforma focada em dar estrutura para que operadores P2P se conectem com seus clientes de forma direta e cumprindo regras de compliance. A ideia da plataforma é ajudar esses traders a organizarem toda a parte financeira como se fossem uma “corretora pessoal”, para manter a legalidade das operações e ter acesso a serviços bancários.

“No Brasil existem instituições financeiras que querem ter como cliente operador P2P. A questão é que a maioria dos possíveis clientes não são tão organizados e os bancos acabam considerando a atividade arriscada e optam por encerrar a conta. Apesar disso, eles querem ter essas pessoas como clientes e passaram a ver cripto como uma forma de ganhar vantagens competitivas”, conta o desenvolvedor.

Souza afirma que a empresa já está trabalhando para um banco brasileiro, cujo nome ainda não pode ser divulgado. A Naka.AI está no ar desde o ano passado passado, mas opera de forma privada para um grupo de 10 operadores P2P selecionados, número que deve saltar para 50 até o final do ano, antes do serviço ser aberto para o público geral.

Do Brasil aos EUA

Rodrigo se mudou para os Estados Unidos em 2008 quando foi trabalhar como desenvolvedor de software na bolsa de valores de Nova York (NYSE). Lá ele ficou até 2012 trabalhando com uma pequena equipe de programadores para manter rápidos e estáveis os sistemas utilizados por milhares de traders da bolsa.

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Antes de ir para lá, Souza já havia ganhado experiência na área trabalhando como desenvolvedor na antiga BM&F Bovespa e em outras empresas do mercado financeiro, como o banco BBA Itaú, focado na parte de construção de sistemas.

Na parte de educação, Souza se formou em processamento de dados na Faculdade de Tecnologia da Baixada Santista, algo que ele avalia como um “atraso” de vida, uma vez que ele já estava inserido no mercado de trabalho na época. “Me atrapalhou muito, poderia ter aprendido muito mais se eu não tivesse ido para faculdade já que com a internet eu era capaz de aprender mais do que eles conseguiam ensinar”.

O primeiro contato com o Bitcoin

Rodrigo Souza descobriu o bitcoin pela primeira vez em 2012 lendo um artigo e logo se interessou pela moeda já que ela resolvia um problema prático na vida dele que era enviar dinheiro para a mãe no Brasil. Antes do BTC, ele usava uma empresa para fazer as remessas, pagando altas taxas de serviços. 

“Quando eu olhei o bitcoin eu pensei ‘é, isso aqui vai mudar o mundo’. Eu como programador fui direto abrir o código do bitcoin, mas no começo não entendi absolutamente nada, mas foi suficiente para eu me fascinar pela tecnologia e tentar me educar.”

Quando saiu da bolsa de valores naquele ano, Souza não pulou direto para a área de criptomoedas, mas começou a usar o bitcoin no dia a dia para pagar pessoas ao redor do mundo que trabalharam para ele numa produtora de animação que fundou na época. 

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Até que em 2013 ele decidiu se dedicar totalmente a indústria e fundou a Blinktrade. Na época, ele também ajudou na criação da Foxbit no Brasil ao prover a tecnologia por trás da exchange. “Meu perfil sempre foi técnico, você vai me dar um problema e eu vou pensar como resolver com isso”.

O estado do mercado cripto brasileiro 

Há mais de 13 anos morando em Nova York, Rodrigo Souza observa de longe o mercado cripto se desenvolver no Brasil com “zero vontade de voltar”. Ele avalia que a indústria brasileira está hoje onde estava os EUA cinco anos atrás.

“Aí as coisas são mais difíceis de fazer, desde insegurança regulatória até a questão de tributação. Em 2013 os reguladores americanos já sentaram com as exchanges para exigir licenças, o que não aconteceu no Brasil”, aponta. 

Embora o país tenha saído na frente ao lançar um ETF de bitcoin na bolsa de valores antes que os EUA, na opinião do programador o setor cripto nacional ainda carece de estrutura para incentivar que empresas a permanecer por aqui. Ele cita o baixo capital de risco sendo investido nos projetos de cripto, algo que no exterior é um instrumento de gaveta.

“Os empreendedores no Brasil fazem as coisas com o que tem, e não tem muito. Nos EUA você tem um ambiente mais favorável e levantar capital é muito mais fácil. O investidor aqui vai dizer ‘vai lá e muda o mundo para mim’ enquanto o investidor brasileiro é ‘quando você vai dar o meu dinheiro de volta’”, brinca.

Além do ambiente de negócios, outro problema na visão de Souza é o fato de que o país se tornou um  terreno fértil de golpistas que acabam manchando a imagem da indústria. “Aqui quem erra é perseguido. No Brasil, você tem que fazer uma merda muito grande para as autoridades olharem para você. Golpes do estilo da Atlas Quantum é muito difícil de se criar nos EUA. No final, isso acaba fazendo a população ter uma visão muito negativa sobre o bitcoin”.

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Por fim, ele enxerga como vantajoso empreender fora e trazer as soluções para o Brasil, já que aqui você pode trazer inovações que ainda não estão sendo construídas de forma local. Souza pretende continuar nos EUA, o país que se tornou casa para ele e sua família.