Para ganhar espaço no mercado brasileiro, o marketplace asiático Shopee ofereceu a vendedores online a isenção de pagamentos de comissões até dezembro de 2020. Na prática, qualquer um que vendesse um produto no site poderia ficar com todo o dinheiro da venda, sem precisar repassar nem um centavo para a plataforma. A fintech Ebanx, unicórnio brasileiro que oferece soluções de pagamento, ficou responsável por fazer a intermediação dos depósitos.
Dezenas de vendedores, no entanto, acusam a startup Ebanx, sediada em Curitiba (PR), de não repassar o dinheiro das vendas. Pelo menos quatro pessoas relataram a história para a reportagem do Portal do Bitcoin. Todas pediram para não ter os nomes revelados. Além deles, há diversos relatos na plataforma de defesa do consumidor Reclame Aqui.
R$ 30 mil a receber do Ebanx
Na segunda-feira (4), um vendedor de acessórios para barbearia e celulares, morador de Curitiba, disse que começou a usar a Shopee no final de 2020. Ele falou que entre novembro e dezembro do ano passado vendeu R$ 30 mil em produtos na plataforma, mas não conseguiu receber.
“Mandei mais de 135 e-mails para o Ebanx para tentar reaver meu valor, mas não obtive resposta. Passei Natal e Ano Novo sem dinheiro algum. Foi desesperador”, contou ao Portal do Bitcoin.
Nesta terça-feira (5), um dia após a reportagem entrar em contato com o Ebanx e questionar o porquê dos atrasos, o vendedor informou que conseguiu recuperar o montante.
“Depositaram o dinheiro. Só que passei muita humilhação antes de conseguir. Além disso, outras pessoas ainda não conseguiram receber nada”, disse.
O auxiliar de vendas Miguel (ele pediu para a reportagem não publicar seu sobrenome) vende perfumes importados na Shopee desde agosto de 2020. Ele relatou que até dezembro recebia normalmente os valores das vendas. “Desde aquele mês, no entanto, o Ebanx não liberava R$ 11,6 mil que eu tinha. Mandei cerca de 30 e-mails, mas ninguém resolvia minha situação”.
Assim como ocorreu com o vendedor da capital paranaense, Miguel relatou que conseguiu reaver o dinheiro hoje. Uma terceira vendedora entrevistada, que não quis ter o nome revelado, também disse que conseguiu recuperar o valor de suas vendas logo após o início desta reportagem.
O último vendedor entrevistado foi o Benedito (também não quis ter o sobrenome publicado), que desde setembro vende produtos de camping, como barracas, colchões, caixas térmicas e tendas. Diferente dos outros três, ele ainda está com dinheiro bloqueado.
“Eles (Ebanx) estão a todo momento me falando que vai passar para o setor responsável e pede para eu aguardar 48 horas. Depois disso, falam a mesma coisa e pedem para eu aguardar 72 horas. Sempre com a mesma história”, disse o vendedor, que tem R$ 3 mil a receber.
“Vou falir”
Nas últimas 24 horas, pelo menos 12 pessoas reclamaram no Reclame Aqui sobre a falta de repasse dos valores por parte do Ebanx.
A vendedora Tatiana Fernandes de Oliveira, de Goiânia (GO), escreveu que não consegue sacar o dinheiro das vendas desde o dia 3 de dezembro. “Quando receberei meu dinheiro? Preciso do dinheiro para pagar fornecedores e as contas de casa”.
Um vendedor de Canoas (RS), que não se identificou, publicou no Reclame Aqui que tem R$ 31 mil bloqueados pelo Ebanx. “EU NÃO TENHO MAIS DINHEIRO PARA MANTER MINHA LOJA NA SHOPEE (em caixa alta mesmo). Estão me forçando a declarar falência por não pagarem o que É MEU! Meu trabalho! Tenho tudo documentado e registrado”.
Resposta da Ebanx
Após a publicação da reportagem a empresa enviou uma nota na qual admitiu os problemas e disse estar “trabalhando intensamente para reduzir o tempo de pagamento dos vendedores do site”.
“Desde o final do último mês, novos procedimentos foram adotados para acelerar os pedidos pendentes, e a maioria dos pagamentos de vendedores que chegaram à empresa nas últimas semanas já foi efetuada”, diz o comunicado enviado à reportagem.
De acordo com a empresa, a situação deve ser normalizada nos próximos dias e os clientes estão recebendo atendimento.
Shopee não responde
A reportagem contatou o Shopee por meio do e-mail disponibilizado no site, mas a empresa não respondeu até o fechamento desta reportagem.
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