Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó do Bitcoin” e líder da pirâmide de criptomoedas GAS Consultoria, voltou para a prisão no Rio de Janeiro após cerca de dois anos no Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. E, aparentemente, a mudança é definitiva.
Há uma disputa entre diferentes esferas de poder, o que levantou questões se Glaidson ficaria em Bangu I, onde está agora, ou voltaria para Catanduvas. Porém, de acordo com o advogado do “Faraó”, Thiago de Souza Cardoso Lemos, ao jornal O Globo, a mudança para o Rio é definitiva.
“Ele voltou de forma definitiva e vai comparecer às audiências. Não há de se falar em retorno porque a exclusão dele do sistema federal já foi feita. Para uma nova inclusão ocorrer são necessários fatos novos”, disse o advogado.
A questão é que em 23 de setembro, a 3ª Vara Criminal Federal do Rio havia determinado o retorno de Glaidson para ele participar presencialmente de uma série de audiências, previstas para os dias 7, 8 e 9 de outubro. Dois dias depois, a 1ª Vara Criminal Especializada em Organização Criminosa do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) decidiu que ele permanecesse no Paraná, mas acabou sendo mantida a determinação anterior.
Catanduvas é uma prisão federal, e o preso pode participar de audiências de forma virtual estando lá, caso contrário, indo para o sistema penitenciário estadual, como é o caso de Bangu I, a devolução pode ser definitiva. Ou seja, se não houver novo acerto entre as esferas federal e estadual, Glaidson continuará preso no Rio de Janeiro.
Na decisão do TJRJ, que acabou não prevalecendo, o juiz pediu que o “Faraó” ficasse em Catanduvas porque ele representa risco à segurança pública do Estado do Rio de Janeiro na medida que supostamente utiliza de pessoas ligadas a ele para orientar comparsas a continuarem com o esquema criminoso, visando à prática e fraudes com criptomoedas.
“Erro grave”
Ao jornal A Tribuna, o advogado Luciano Régis, assistente de acusação no processo em que apura a morte do trader Wesley Pessano, criticou duramente a decisão de levar Glaidson ao Rio: “O sistema penitenciário do Rio é uma bagunça. Já vimos Glaidson receber regalias em presídios estaduais, como visitas fora da lista e até alimentos proibidos. Ele tinha uma lista com mais de 15 nomes marcados para morrer”.
“A única forma de garantir segurança é mantê-lo em presídio federal, como já decidiu a Justiça Estadual até 2027. A decisão federal, ao impor uma audiência presencial e contrariar todas as recomendações técnicas e judiciais, foi um erro grave”, afirmou Régis.
A decisão citada pelo advogado é de 2024, quando foi acatado um pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que argumentou que o término da permanência de Glaidson no sistema penitenciário federal só deveria ocorrer no dia 25 de janeiro de 2027.
Segundo o MPRJ, ele teria mantido liderança de uma organização criminosa voltada não apenas a fraudes financeiras, mas também a corrupção de agentes públicos e até homicídios de concorrentes no mercado de criptomoedas.
Em julho, a defesa do “Faraó” pediu para que ele fosse enviado ao RJ, mas o juiz negou citando que eles estariam tentando atrapalhar o andamento do processo. Além disso, existem diversas recomendações, de diferentes órgãos, para que Glaidson permanecesse em Catanduvas, numa prisão federal, por conta dos riscos que ele impõe ao sistema.
Em nota enviada a diversos veículos, a Seap confirmou a ida de Glaidson Acácio dos Santos ao Rio: “A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informa que Glaidson Acácio dos Santos retornou ao Sistema Prisional do Estado do Rio de Janeiro por determinação da Justiça Federal, a fim de participar, de modo presencial, de audiências marcadas para os dias 7, 8 e 9 de outubro. Ele está preso na Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino (Bangu 1)”.
A história do “Faraó do Bitcoin”
A GAS Consultoria, empresa de Glaidson, captava clientes com promessas de rendimentos que supostamente viriam do trade de criptomoedas. Mais tarde, seu modelo de operação de pirâmide financeira desencadeou uma série de investigações pelas autoridades brasileiras. As investigações falam em uma movimentação de R$ 38 bilhões pelo esquema ao longo dos anos.
Glaidson, que ficou conhecido como “Faraó do Bitcoin”, foi preso na manhã do dia 25 de agosto de 2021 na Operação Kryptos. Na ocasião, outros membros do esquema foram presos, enquanto alguns conseguiram escapar da polícia e fugir do Brasil, como a esposa de Glaidson, Mirelis Yoseline Dias Zerpa, que acabou presa em janeiro de 2024 em Chicago (EUA) por morar ilegalmente no país. Em junho deste ano, Mirelis foi deportada para o Brasil pelos Estados Unidos.
Na ocasião da prisão de Glaidson e demais suspeitos, os agentes da PF e Receita Federal apreenderam 591 bitcoins, dezenas de carros de luxo e mais de R$ 13 milhões em espécie.
Diversas pessoas próximas ao casal confirmam que a divisão de tarefas dentro da GAS era clara: Glaidson lidava com as pessoas e Mirelis com o dinheiro.
Em 2023, a GAS Consultoria fez parte de uma extensa lista de empresas convocadas na CPI das Pirâmides, que também intimou o Faraó do Bitcoin. Em depoimento, o ex-garçom protagonizou uma série de bate-bocas com alguns deputados e chegou a ser chamado por um parlamentar de “um dos maiores bandidos da história do sistema financeiro nacional”.
Além do roubo do dinheiro de milhares de investidores brasileiros pela pirâmide financeira da GAS, o Faraó do Bitcoin também é acusado de ser líder de uma organização que monitorava e assassinava rivais no mercado de criptomoedas, como mostram áudios obtidos pelas autoridades.
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