Imagem da matéria: Banco Central anuncia data para chegada de versão piloto do Real Digital
Roberto Campos Neto, presidente do BC (Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central)

O Real Digital deve ter um piloto no segundo semestre desse ano e já tem uma estrutura de como será montado. A versão brasileira da CBDC (“central bank digital currency”, na expressão em inglês) será feita a partir uma stablecoin e com base no STR (Sistema de Transferência de Reservas). Trata-se do meio no qual são feitas as transferências de recursos entre instituições financeiras.

As informações foram divulgadas pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em live feita pela plataforma TC na manhã desta segunda-feira (11).

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O STR é o sistema central do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), responsável pela transferência de fundos com liquidação bruta em tempo real (LBTR).

“A gente tem o STR, um sistema que liquida todos os ativos e tem como garantia o Real. Então a gente vai ter como se fosse um sistema em cima desse, um STR digital, onde vai ser garantido pela moeda digital, o Real Digital, e os bancos vão conseguir emitir stablecoins em cima dos seus depósitos”, explicou Campos Neto.

Conforme o presidente do BC disse, isso é uma “forma de criar a digitalização da moeda sem criar uma ruptura no balanço dos bancos. Esse projeto deve ter algum tipo de piloto no segundo semestre”, disse.

Campos Neto garante que “não tem nenhum Banco Central no mundo que não está nesse processo de estudo”, mas que necessária uma maior coordenação entre os diversos agentes públicos e do mercado.

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“Vejo alguns lugares falando ‘vou fazer uma plataforma centralizada’, o outro ‘vou fazer uma blockchain’ … E na verdade se essas moedas digitais não tiverem esse fator de pagamento transfronteiriço com eficiência, obviamente que a criptomoeda vai ser sempre mais eficiente do que qualquer tipo de moeda digital”, aponta.

Veja abaixo a fala do presidente do BC sobre criptomoedas (começa à partir do minuto 54).

“Houve entendimento que é segura”

Campos Neto se aprofundou no tema das critpomoedas. Ressaltou que o brasileiro ainda vê muito mais essa classe de ativos como meios de investimento do que meio de pagamento, mas que quando a curva de adoção aumentar, a tendência é que o uso para pagamento aumente também.

“O que a gente pensa é que existe uma curva na qual você começa como veículo de investimento e em algum momento aquilo passa a ser um meio de pagamento porque tem um processo dos agentes financeiros se acostumarem e aceitarem isso em pagamentos”.

O executivo ressaltou que houve um entendimento entre governos de que a criptomoeda é segura, que tem “um lastro de quantidade máxima a ser emitida” (provavelmente falando do Bitcoin).

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Porém, o presidente do BC entende que a digitalização que está em curso é irreversível, mas que a discussão está muito focada em criptomoedas.

“Olhando pra frente um processo onde você tem 5G, internet das coisas, uma série de protocolos que facilitam esse processo. Acho que existe uma concentração injusta do debate entorno de cripto em si e uma falta de diagnóstico no que é o networking. Mais do que a criptomoeda, o importante é olhar o network que ela tráfega. Acho que ai temos grandes avanços. Temos networks que são construídos de tal forma que aonde quanto mais você aumenta o trafego, melhor o network fica”, exemplifica.

Regulamentação difícil, mas necessária

Sobre a corrida para regulamentar as criptomoedas, Campos Neto disse que a regulamentação é necessária, mas que o crescimento exponencial da tecnologia dificulta esse processo.

“O tema de regulamentação é super complexo, porque quando eu regulamento um processo físico e linear, eu regulamento hoje conseguindo mais ou menos ver o que vai ocorrer em dois ou três anos. Quando esse processo é não linear, é exponencial, é muito mais difícil ter essa visibilidade . Então os BCs estão nesse processo de entender como eu faço uma regulação hoje em um ambiente que deve mudar completamente em dois anos”.