A agência de notícias Reuters publicou nesta segunda-feira (17) uma reportagem especial na qual detalha como o CEO da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, e os assessores da corretora, “conspiraram” para escapar da vigia dos reguladores dos Estados Unidos e do Reino Unido.
De acordo com a investigação da Reuters, CZ aprovou em 2018 um plano para “isolar” a Binance das autoridades dos EUA, ao criar uma nova exchange americana, a Binance US. Essa estratégia seria uma forma da Binance desviar a atenção dos reguladores da sua plataforma principal que opera no mundo inteiro, servindo como uma “câmara de compensação de consultas regulatórias”.
Embora CZ dissesse publicamente que a Binance US era uma entidade “totalmente independente”, seu gestão sempre esteve sob controle do empresário e do conglomerado global da Binance, administrado do exterior.
Nos anos seguintes, porém, problemas começaram a surgir na subsidiária da Binance nos EUA. Segundo a reportagem, quase metade da equipe de compliance da corretora nos EUA se demitiu em 2022 depois que um novo chefe passou a dirigir a companhia no país.
Para chegar às informações, os jornalistas entrevistaram cerca de 30 ex-funcionários, consultores e parceiros de negócios da Binance. Eles também tiveram acesso a milhares de mensagens, e-mails e documentos da empresa dos últimos cinco anos.
De acordo com ex-funcionários, a equipe que trabalha para garantir a segurança regulatória da corretora saiu porque a nova direção os pressionava a registrar usuários tão rapidamente que não era mais possível fazer as verificações de identidade necessárias para impedir que a lavagem de dinheiro acontecesse na plataforma.
O uso ilícito da Binance já foi apontado por reportagens passadas da Reuters, que estimaram que criminosos usaram a plataforma para lavar cerca de R$ 12 bilhões em criptomoedas entre 2017 e 2021. Além disso, a agência aponta que, apesar das sanções dos EUA ao Irã, as exchanges iranianas Wallex e Sarmayex usaram a Binance para movimentar pelo menos US$ 29 milhões em criptomoedas desde agosto de 2021.
As novas informações sobre os problemas de compliance da Binance chegam no momento que o Departamento de Justiça dos EUA investiga se a corretora violou a Lei de Sigilo Bancário, que estabelece que as empresas que operam no país sigam uma série de requisitos antilavagem de dinheiro.
No Reino Unido, segundo a Reuters, a Binance aplicou um plano similar para escapar dos reguladores. Em 2020, CZ assinou um documento que autorizava um executivo da empresa a ocultar um documento de uma unidade da corretora no país para evitar que ele fosse revisado sob as regras de finanças ilícitas do Reino Unido.
Detalhes sobre a vida pessoal de CZ
A Reuters também revelou detalhes sobre a vida privada de CZ. De acordo com a agência, o bilionário teve um filho com Yi He, uma ex-apresentadora de um programa de viagens na TV chinesa e cofundadora da Binance. Segundo quatro pessoas familiarizadas com o assunto, a criança nasceu nos EUA e CZ e Yi He estiveram em um relacionamento romântico por vários anos.
Alguns ex-funcionários seniores da Binance apontam Yi He como uma potencial sucessora da empresa. Ela foi nomeada em agosto deste ano como chefe do braço de capital de risco da Binance, que administra US$ 7,5 bilhões em fundos, além de também ser chefe de marketing da corretora.
“As empresas geralmente têm políticas em vigor em relação a esses relacionamentos, com algumas exigindo que uma das pessoas envolvidas deixe a organização”, apontou a matéria da Reuters.
A reportagem também revelou que a Binance possui uma “regra secreta” na qual proíbe funcionários de revelarem os endereços das filiais da exchange. Mensagens vistas pela Reuters apontam que em 2018, executivos da Binance alertaram em grupo de bate-papo da empresa que os funcionários não deveriam responder a um pedido da empresa de segurança cibernética Bugcrowd, que havia pedido o endereço da sede da Binance.
Na ocasião, CZ instruiu a equipe a fornecer apenas o endereço da empresa nas Ilhas Cayman, onde a holding estava estabelecida, apesar da maioria dos funcionários da Binance estarem na Ásia.
Nos anos seguintes, a Binance oficializou a regra de sigilo para proibir que funcionários revelassem suas localizações nas redes sociais. “Parecia que estávamos fazendo algo errado”, disse à Reuters um ex-empresário da corretora.
CZ contra-ataca
CZ se negou a participar da reportagem da Reuters, mas fez uma publicação no blog da corretora para responder as acusações de forma paralela, criticando principalmente a exposição de detalhes da sua vida privada.
“Eles [Reuters] baixaram ainda mais o nível e cruzaram a linha para um território indefensável. Eles sinalizaram a intenção de escrever sobre meus filhos. […] Meus filhos não são do interesse público e estes repórteres estariam conscientemente colocando-os em perigo ao publicar informações sobre eles. Isto denota falta de princípios e é intolerável”, escreveu CZ.
Sobre as acusações de problemas no compliance da empresa, ele se limitou a apontar os esforços da Binance para esse campo nos últimos anos:
“Somente no último ano, contratamos mais de 4 mil novos funcionários, muitos dos quais nas áreas de compliance, investigações e segurança. […] Temos trabalhado lado a lado com reguladores de todo o mundo para reestruturar nossa organização e atualizar nossos sistemas. […] Esse é um esforço que nunca termina, por isso continuamos investindo para estabelecer uma estrutura de compliance em que os usuários possam confiar.”