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Regulação vai impulsionar uso de stablecoins no Brasil, dizem especialistas no DAC

Confiança é a palavra-chave para atrair investidores institucionais, que pedem infraestrutura segura, regulação clara e compliance para adotar as stablecoins.

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Criadas há mais de uma década como solução restrita ao mercado cripto, as stablecoins agora se consolidam como meios de pagamento internacionais, competindo com o lento e caro sistema Swift.

E a adoção impressiona: no último ano, as stablecoins registraram um volume maior que a Visa, conforme apontou Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios do MB, durante o evento Digital Assets Summit (DAC) na segunda-feira (22).

“Só nos primeiros dois meses deste ano já foram quase US$ 100 bilhões em transações liquidadas usando stablecoins, fora das exchanges, ou seja, no mundo real”, disse o executivo.

Para Sofia Duesberg, gerente-geral regional da Conduit, o aumento do uso desse tipo de ativo digital reflete a maior compreensão de pessoas e negócios sobre os benefícios que as stablecoins trazem.

“As stablecoins melhoram o uso do tempo. Hoje você consegue fazer um pagamento para Singapura instantaneamente e, por ser um mercado 24/7, você faz transações em qualquer dia da semana. Além disso, você remove intermediários do meio do caminho, o que diminui muito o custo. Então os benefícios são realmente imensos”, disse a executiva.

Ela ressalta, no entanto, que as stablecoins não vão substituir de forma integral os sistemas de pagamentos atuais, mas sim fornecer uma maior integração entre sistemas locais que já funcionam, no que chamou de “stablecoin sandwich”.

“Imagina um pagamento daqui do Brasil para Europa: uma empresa que quer fazer um pagamento lá fora hoje consegue mandar o real pelo Pix, nós fazemos o onramp na stablecoin para na sequência fazer o offramp no meio de pagamento que mais funciona lá fora, como o SEPA na Europa ou o SPEI no México”, exemplifica.

Além dos benefícios para os negócios que querem transacionar no exterior, as stablecoins também têm grande apelo para populações de países emergentes, que sofrem com a desvalorização de suas moedas locais.

Jefferson Bergamo, executivo de Vendas Institucionais e Desenvolvimento de Negócios da BitGo, citou o uso crescente das stablecoins em países da região com alta inflação ou restrições cambiais, como Argentina, Venezuela, Cuba e até na Bolívia, onde já é possível comprar automóveis com USDT.

Segundo ele, o fator central é a proteção do poder de compra: “As pessoas trocam a moeda local por stablecoins atreladas ao dólar para preservar renda e, ao mesmo tempo, conseguem enviar e receber pagamentos internacionais sem as altas taxas dos bancos”.

No Brasil há uma combinação das duas coisas: pessoas que buscam dolarizar seu patrimônio e, ao mesmo tempo, investir no exterior. “É uma conjunção de diversos fatores que fazem da stablecoin uma ferramenta poderosa para manter o poder de compra e, também, uma alternativa de investimento.”

Para onde vão as stablecoins?

Embora as stablecoins estejam em ascensão, o Brasil ainda tem um caminho a percorrer para que o uso desses ativos digitais se intensifique. Aqui, a regulação é a principal necessidade. Assim como os Estados Unidos impulsionaram o mercado ao aprovar o Genius Act e a Europa avançou com o MiCA, o Brasil também deve contar em breve com sua própria regulamentação para o setor.

“Para o institucional, confiança é a palavra-chave”, afirmou Sofia Duesberg, acrescentando que empresas e investidores institucionais demandam uma infraestrutura confiável, com regulação clara, segurança e compliance. 

Mas a regulação por si só, junto com a tecnologia, não é suficiente, segundo Bergamo.

“É necessário todo um conjunto: segurança de que quem está provendo aquele serviço de fato está cumprindo o combinado. Estamos falando de auditorias, de certificações, credenciamento dos players, de forma que o investidor institucional, ao se deparar com essa infraestrutura, se sinta confortável em atuar nesse mercado.”

Para concluir, os executivos defenderam que o futuro do setor será marcado pela convivência de diferentes ativos, e não pela concentração em apenas um emissor. Nesse cenário, stablecoins lastreadas em diferentes moedas locais, como o real, devem ganhar relevância ao se integrarem com as já consolidadas no mercado internacional, ampliando o alcance da tecnologia.