Imagem da matéria: Primeiro jogo do metaverso na blockchain do Bitcoin recebe investimento de US$ 3,5 milhões
O jogo de RPG acrescentará cidades on-line com NFTs de terrenos digitais (Imagem: Moonray PBC)

O metaverso está tomando forma e, embora a visão do Facebook sobre ele ainda esteja a anos de distância, jogos desenvolvidos na Ethereum como Decentraland e The Sandbox já estão se aproveitando dos benefícios.

O bitcoin (BTC) não estará fora do metaverso, graças a um jogo construído sob a Stacks, uma rede que usa o blockchain do maior token do mundo.

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O nome do game é Moonray e se trata de um estiloso jogo de RPG de ação para PC que irá disponibilizar acesso antecipado para alguns jogadores em março de 2022.

Nesta terça-feira (14), a PBC, desenvolvedora do Moonray, anunciou ter arrecadado US$ 3,5 milhões em uma rodada “seed” liderada pela empresa Anomica Brands para continuar desenvolvendo o jogo de ação focado em tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês).

A expectativa é que, no futuro, essa combinação irá abrir as portas para uma experiência compartilhada no metaverso.

Como um jogo cripto pode ser apoiado pela rede Bitcoin? O Bitcoin em si não é compatível com contratos autônomos, que são pedaços de código necessários para executar aplicações descentralizadas (ou dapps), como jogos.

No entanto, a Stacks é uma blockchain de contratos autônomos que agrupa suas transações e as liquida na rede Bitcoin.

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Stacks é o motivo pelo qual existem NFTs funcionam com o Bitcoin e como aplicações de Finanças Descentralizadas (ou DeFi) podem existir no blockchain Bitcoin.

Em outubro, Muneeb Ali, fundador do Stacks, o havia descrito ao Decrypt como uma plataforma “1.5”, diferente das soluções de escalabilidade de segunda camada da Ethereum.

Rodrigo Etcheto, CEO da PBC, contou ao Decrypt que seu estúdio possui “grandes crenças no bitcoin”. No entanto, insistiu que não são maximalistas. Ele elogiou Solana e Avalanche como “ótimos blockchains”, mas Stacks acabou os escolhendo graças à sua ligação com o Bitcoin.

“Não somos maxis”, explicou ele. “Acreditamos que haverá muitos casos de uso, então muitos blockchains terão sucesso e se sairão bem. Mas eu gosto da segurança do Bitcoin. Para mim, ainda é o blockchain mais descentralizado e seguro e não vejo isso mudar muito em breve.”

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A equipe de Etcheto fazia parte do primeiro grupo do programa Stacks Accelerator, que ajuda a financiar e mentorar equipes que desenvolvem na plataforma.

Além de Animoca Brands, a rodada de US$ 3,5 milhões inclui participação de GBV Capital, Metavest Capital, LD Capital e Lucid Blue Ventures, junto com investidores-anjo não divulgados.

O metaverso do Bitcoin

Moonray irá implementar a rede Stacks de diversas formas, incluindo colecionáveis, skins e armas que serão vendidas como NFTs.

Jogadores poderão comprar NFTs usando de início, bitcoin e, no futuro, cartões de crédito, além de revenderem os colecionáveis por meio de uma interface interna ou mercados externos.

Um NFT é um token blockchain que atua como uma prova de propriedade de um item digital raro e pode se aplicar a coisas, como fotos de perfis e cards digitais de negociação, além de representar itens exclusivos de videogames.

Etcheto também propôs o uso de NFTs para eventos exclusivos e internos ao jogo, como uma batalha de um chefão especial que só poderá ser acessada após a compra de um NFT.

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Assim, o lado positivo é que jogadores possam desbloquear um item raro e possivelmente valioso que poderá ser revendido.

Moonray será lançado com conteúdos on-line tanto para single player como para multiplayer.

Em algum momento após o lançamento, o jogo irá se expandir para incorporar cidades online onde jogadores poderão adquirir terrenos vendidos como NFTs (assim como no The Sandbox, Decentraland e Axie Infinity).

Também terá diferentes tipos de prédios, como a loja de um ferreiro ou sedes de alianças, que fazem parte da economia do jogo e beneficia jogadores.

Esse é o aspecto de metaverso do jogo. O metaverso se refere a uma futura visão da internet em que usuários interagem usando avatares em espaços compartilhados, digitais e 3D.

O Facebook está apostando bastante no metaverso enquanto uma variedade de projetos cripto estão desenvolvendo um metaverso aberto e interoperável que permite que usuários utilizem seus ativos (NFTs) entre diversas plataformas e experiências.

Em outubro, Yat Siu, presidente executivo da Anomica, disse ao Decrypt que sua empresa está “um pouco com pressa” para ajudar a desenvolver o metaverso antes que gigantes empresas de tecnologia, como Facebook e Tencent, reivindiquem o espaço.

O Moonray tem uma visão ambiciosa para um futuro de jogos repletos de NFTs, mas o jogo não teve início pensando em blockchain.

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Etcheto disse que a equipe havia começado a desenvolver Moonray como um videogame tradicional e premium, mas viu o potencial do blockchain nos jogos cedo o suficiente para mudar o design e o modelo de negócios do jogo.

“Quando vimos o que estava acontecendo com blockchain, ficou óbvio para nós que esse é o futuro dos jogos”, disse ele. “Esse é um novo modelo econômico que acredito que irá revirar totalmente a indústria de cabeça para baixo.”

Preenchendo a lacuna

Desenvolvido com Unreal Engine, a mesma ferramenta utilizada por muitos dos principais videogames atuais (incluindo Fortnite), Moonray é um jogo brilhante de batalha que Etcheto acredita que estará em sintonia com jogadores mais tradicionais.

É parte do motivo pelo qual ele acredita que Stacks é um encaixe ideal para o jogo, pois o Bitcoin é amplamente conhecido, mesmo fora dos círculos cripto.

“Realmente estamos tentando atrair jogadores tradicionais que talvez não saibam muito ou duvidem de cripto”, disse ele. “[Iremos] criar uma integração fácil e suave para jogadores tradicionais para mostrar a eles como uma economia de tokens e NFTs deve funcionar.”

O ceticismo em relação a criptomoedas e NFTs é evidente no setor tradicional dos videogames. Quando Jason Citron, CEO do Discord, sugeriu a integração de uma carteira cripto para o aplicativo popular de chats on-line, a repercussão negativa de jogadores o fez mudar de ideia.

Na semana passada, a famosa publicadora de jogos Ubisoft encontrou uma resistência significativa ao anunciar uma integração interna de NFTs, apesar de a empresa afirmar que irá avançar com os planos.

Etcheto considera essa reação parecida com a da época em que publicadoras de jogos começaram a vender extensões digitais para jogos, chamadas de conteúdos para download (ou DLC). Agora, é um padrão da indústria.

Ele sugere que, no futuro, jogadores vão aderir a itens internos vendidos como NFTs quando perceberem que realmente possuem os ativos e têm a opção de revendê-los ou integrá-los a outros jogos.

“Quando jogadores entenderem que o que vão obter governança de algo que antes só estavam alugando das empresas, irá mudar muitas opiniões”, disse ele.

Etcheto considerada a crescente investida da Ubisoft nos jogos blockchain como algo bom para a indústria, junto com o interesse de grandes empresas, como Electronic Arts e Square Enix.

Na verdade, ele acredita que a forma clássica de lançar jogos (já impactados pela normalização da DLC e o auge dos jogos “free-to-play”) irá cair rapidamente no esquecimento. Algum dia, ele espera levar Moonray a consoles, caso Sony, Microsoft e Nintendo encontrem uma forma de lidar com jogos cripto.

“Em três ou quatro anos, alguma versão de uma economia play-to-earn ou NFT se tornará tão normal que a ideia de pagar US$ 60 para jogar será um pouco estranha”, disse ele. “Irá acontecer bem mais rápido do que os estúdios tradicionais esperam que aconteça.”

*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.