Imagem da matéria: Por que eu não acredito em web3? | Opinião
Foto: Shutterstock

Criptoeconomia não é uma novidade. E como qualquer inovação, ainda desperta diferentes sentimentos.

É preciso separar as emoções da realidade. Isso se resume ao seguinte:

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-Produtos e serviços baseados em blockchain são realidade e futuro. Mas precisamos ser céticos e não meros evangelistas;

-Há fraudes e negócios duvidosos nesse setor. Mas há também empresas sérias, preocupadas com seus clientes e em cumprir a lei — são essas que precisamos incentivar.

-Modas e buzzwords (como web3 e metaverso) são importantes. Aumentam o interesse e incentivam empreendedorismo. Mas não podem confundir mais do que explicar.

Tecnologias Blockchain e Imaginários

Blockchain ainda é uma tecnologia em construção.

Na história da inovação, tudo normalmente começa com conceitos mais abstratos (e = mc2). Depois vêm pesquisas aplicadas (pesquisa nuclear). Após tentativas e falhas, chegam os produtos e serviços (usinas).

A internet foi assim. Conceitos e protocolos pensados nos anos 1960 e 1970. Aplicações de rede a partir do final dos anos 1970. A internet comercial somente em meados dos anos 1990.

Mas o mundo não funciona mais assim, de forma tão lenta e linear.

A inovação de hoje é descentralizada. São ecossistemas em que mercado, academia e setor público agem ao mesmo tempo.

Então é normal que produtos e serviços em construção sejam colocados no mercado. Blockchain não está totalmente pronta, mas precisa ser colocada no mercado. O melhor teste sempre é de quem consome.

Aliás, tentativa e erro no empreendedorismo é algo sensacional. Por conta disso, produtos e serviços chegam mais rápido para o mercado. Lembram do primeiro Iphone? Então, faz só 15 anos.

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Fonte. Linkedin

Com novas tecnologias, surgem também narrativas de entusiasmo e otimismo. A inovação é sempre anunciada como um caminho para mudar o mundo.

Pensem em como motores a vapor permitiram o surgimento de fábricas e novos produtos. E como tudo isso catalisou a revolução industrial, o pensamento da modernidade. Aliás, até criaram fantasias e ficções científicas — já ouviram falar de steampunks? E A Volta ao Mundo em 80 dias?

O entusiasmo e otimismo com blockchain existe. Mas não se deve acreditar nas fantasias.

Narrativas surgem mais rápido com ecossistemas descentralizados e mídias sociais. E também evaporam mais rápido.

Só lembrar do ciberespaço livre de leis humanas nos anos 1990. E das primaveras construídas pelas redes sociais no início dos anos 2010.

Imaginários construídos pelo mercado são importantes. Cumprem funções econômicas e até mesmo motivam políticas públicas. Mas não criam fantasias.

Essa postura pode até parecer tradicional e antiquada. “Meu avô disse a mesma coisa sobre a internet”. Mas há bons exemplos em que ser mais racional em relação à criptoeconomia pode ser mais sensato.

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Criptomoedas substituindo moedas tradicionais e bancos centrais parece algo ingênuo. Pelo menos hoje. Não admitir problemas de especulação nesse mercado parece a atitude dos Três Macacos Sábios.

Tudo isso não diminui o otimismo com a tecnologia blockchain.

Ainda não exploramos nem uma fração de seu potencial. Há aplicações incríveis sendo testadas. Empresas investindo muito em P&D. Conceitos que ainda nem imaginamos. O cenário futuro é, sim, positivo.

As Maçãs Podres da Criptoeconomia

Toda semana surgem escândalos e denúncias relacionadas à criptoeconomia. Há sites, inclusive, que mapeiam todas essas notícias negativas.

Mas vamos parar para pensar como funcionam os jornais desde que surgiram. Notícias mais críticas e negativas costumam ocupar com mais frequência as manchetes de jornais e portais. Também ocupam o primeiro bloco de programas em vídeo. É normal, né?

Essa é a função da mídia. Ser crítica e denunciar o que acontece de errado na sociedade e no mercado. Mas isso não significa que não haja muita, mas muita gente séria trabalhando nesse mercado.

Claro que até mesmo o setor de capital de risco erra. Afinal, são atividades baseadas na incerteza. Se não fosse assim, não haveria nem as Grandes Navegações, quanto mais o venture capital!

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Há inúmeros exemplos de empresas que vão muito bem, obrigado. Inclusive tentam influenciar o setor e o poder público para criação de boas práticas, regras de autorregulações e até mesmo novas legislações. Isso pode dar maior segurança jurídica e tirar do mercado oportunistas, que não contribuem para a imagem do setor.

Hypes e Buzzwords

Modas e palavras-conceito para divulgar novas tendências é uma estratégia antiga (e eficiente) do marketing. É legítima, faz parte do jogo. Ajuda a conscientizar audiências. Motiva consumidores e consumidoras.

Mais importante: estimula as pessoas a empreender. São os espíritos selvagens, inconformados, e que enxergam uma nova tendência. A oportunidade de criar algo e transformar comunidades.

O risco dessas estratégias é simplificar demais coisas complexas e confundir o público.

A pesquisa trabalha com informações concretas e testadas. Já o marketing é com a persuasão. Se campanhas são criadas para facilitar conceitos difíceis, excelente. Mas quando isso desvia os propósitos iniciais e confundi mais do que ajuda, não é bacana.

Metaverso, por exemplo, é uma expressão que ajudou bastante o público. Ajuda entender como funcionam ambientes virtuais (algo que não é novo) e seu potencial futuro. Que, aliás, agora é muito maior por conta de equipamentos de VR mais estáveis e as conexões 5G.

Ao mesmo tempo, essa expressão no singular em vez do plural confunde. Não há um único metaverso controlado por uma empresa. Há metaversos: jogos virtuais, redes sociais em ambiente virtual ou até mesmo iniciativas descentralizadas por blockchain.

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Aliás, usar o hype dos metaversos para vinculá-los com tecnologias blockchain (como se fossem o único caminho para o verdadeiro metaverso) é também forçar a barra.

Web3 já é algo mais confuso, e tem ajudado pouco o mercado.

Foi criada para reunir todas as iniciativas que utilizam blockchain, e apresentá-las como (muito) transformadoras para a sociedade.

Mas essa expressão simplifica demais um setor diverso. Ao usar o número 3, também passa a falsa impressão de que significa uma nova era para a internet — o que não é verdade.

O blockchain, assim como as redes sociais (dita como Web 2.0) e a world wide web (a Web 1.0) não alteram nenhum fundamento técnico da internet — continua TCP/IP, acesso universal, redes privadas interoperáveis.

A descentralização de decisão, argumento principal de quem defende esse conceito de Web3, parece mais um argumento de persuasão do que algo provado (ou comprovável). A tecnologia nem está totalmente pronta para isso.

Blockchain não é (nem foi criado para) uma mudança na economia política da internet.

O mercado ainda funciona na lógica do empreendedorismo de inovação. Criar produtos, destruir tecnologias antigas, dominar mercados e centralizar a oferta por meio de efeitos de rede.

Logo, não parece coerente statups e VCs fazendo essa defesa da descentralização ao mesmo tempo em que captam volumosos investimentos para dominar seus campos de atuação.

Web 1.0, com os grandes sites e portais, e Web 2.0, com rede sociais, foram por esse caminho. Começaram com discursos de marketing e incentivaram surgimento de campeões. E não há nada de errado nisso, aliás. É como a economia funciona, e sempre que houver abusos o Estado deve intervir para equilibrar as coisas.

Empresas podem usar Web3 como parte de suas estratégias de marketing. Isso é legítimo. Mas há também outras formas de defender o entusiasmo e as promessas baseadas no blockchain, de uma forma que seja mais razoável e sincera.

A criptoeconomia vai bem, obrigado. Mas não acredito em web3.

Artigo originalmente publicado no Medium.

Sobre o autor

Pedro Henrique Ramos é professor do Ibmec/SP e advogado. É doutorando em Comunicação e Consumo pela ESPM/SP.

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