O Solana está prestes a apresentar um novo modelo de priorização de taxas, que foi criado para ajudar a mitigar o impacto de aplicações e serviços em alta demanda junto com outras novas atualizações tecnológicas. Porém, diferente do Ethereum, conforme o cofundador do Solana Anatoly Yakovenko alega, o modelo não irá punir usuários com altas taxas por toda a rede.
O Solana Labs havia divulgado os primeiros detalhes da nova implementação de taxas no mês passado em um relatório “post mortem” após a queda da rede atribuída a robôs (ou programas automatizados por usuários) que sobrecarregaram uma emissão de tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês).
Segundo o relatório, o novo modelo terá uma abordagem de “taxas vizinhas” que não impactam a ampla rede.
Na quinta-feira (16), Yakovenko publicou uma série de tuítes para explicar como a nova abordagem de priorização de taxas funciona após o lançamento inicial da atualização versão 1.10.25 da rede Solana. Em entrevista ao Decrypt, ele compartilhou a perspectiva sobre como a atualização pode ajudar a estabilizar a rede.
Em seus tuítes, Yakovenko utilizou a analogia de haver um “interruptor de luz” que “todo mundo quer apertar ao mesmo tempo”. No fim, “quem pagar mais conseguirá apertar o interruptor”.
Em outras palavras, quando aplicada a uma rede blockchain em que validadores agem por interesse próprio, a pessoa que pagar a maior taxa de gas — a quantia paga à rede — tem sua transação colocada no início da fila.
No Ethereum, taxas de gas podem ser absurdamente caras, variando de centenas a milhares de dólares — como aconteceu na recente venda de terrenos virtuais do Otherside pelos criadores da coleção Bored Ape Yacht Club. Pior ainda: Um único airdrop de NFTs ou lançamento de tokens pode impactar, encarecendo cada vez mais as transações no Ethereum.
Esse não é o caso do novo modelo do Solana, de acordo com Yakovenko. Ele escreveu que cada aplicação descentralizada (ou dapp) funciona como um único interruptor em sua analogia.
“Um leilão específico de NFTs ou mercado específico no Serum, ou um pool de AMM [formação automatizada de mercado] no Orca é um interruptor”, afirmou. As taxas são usadas para priorizar transações em uma aplicação ou um protocolo específico, e não na rede inteira.
Como consequência, taxas crescentes em uma dapp não devem ter impacto na rede Solana como um todo.
Colecionadores que tentam obter NFTs em uma emissão ou lançamento em alta demanda verão taxas elevadas — possivelmente resultando em uma espécie de “guerras de gas” que colecionadores já vivenciaram no Ethereum — mas pessoas que estiverem negociando em outras partes da rede Solana não terão impacto em suas taxas.
Como funciona o novo modelo de taxas
Em entrevista ao Decrypt, Yakovenko explicou que a arquitetura do Solana permite essa capacidade porque pode especificar com qual parte do estado da rede está interagindo — para que possa escolher certas contas a serem gravadas. Um lançamento de NFT usando o contrato de emissão Candy Machine da Metaplex seria uma conta dentre várias que poderia estar ativa no Solana.
Validadores da rede serão capazes de acrescentar certos números de transações para uma conta gravável e específica em cada bloco, conforme priorizados pelas taxas adicionadas pagas por usuários.
Mas Yakovenko disse que terão “muitos recursos para acrescentar transações” de outras contas em outros locais da rede — sem que haja impacto na rede por uma aplicação ou um serviço em alta demanda.
“É possível ver esses baldes sendo enchidos por ordem de ‘balde mais bem-pago’”, disse ele ao Decrypt, “mas logo em que um estiver saturado, o restante também será enchido”.
A taxa-base de transações no Solana é pequena — geralmente uma fração de um centavo no token nativo SOL. O que usuários podem pagar nesse novo modelo será considerado como uma taxa adicional, que Yakovenko afirmou que será uma taxa especificada por usuários com base nas unidades computacionais necessárias para completar as instruções da transação.
Quanto usuários poderão pagar por taxas adicionais? Ainda não se sabe. Um representante do Solana Labs afirma que nenhuma estimativa poderia ser apresentada, pois é direcionada por demanda.
Ainda veremos se as taxas vão ficar “caras” em comparação à taxa-base do Solana ou à taxa de outras redes, mas a demanda por aplicações específicas não deve afetar todos que estiverem usando a rede em um momento específico.
Conforme mencionado, o modelo de priorização de taxas faz parte da atualização beta v1.10.25 à rede principal do Solana. Mas não é o único acréscimo tecnológico e o conjunto completo deve ajudar a estabilizar a rede solana após três períodos notáveis de paralisação desde 2021.
Outra parte fundamental do quebra-cabeças é QUIC, um protocolo desenvolvido pela Google que irá substituir o atual protocolo de datagrama de usuário (ou UDP) “bruto” do Solana, segundo Yakovenko. O QUIC inclui as capacidades do fluxo de controle “onde você pode forçar robôs e emissores a recuarem e desacelerarem”, acrescentou.
Isso é essencial para manter a rede de pé e funcionando, como vimos em 30 de abril. Na época, robôs enviaram milhões de transações por segundo para tentar participar de um grande lançamento de NFT no Solana e deixou de fora usuários legítimos. Acrescentou cerca de 100 gigabits de dados por segundo, de acordo com Yakovenko, sobrecarregando o dispositivo de validadores.
“Essa taxa estava alta o suficiente a ponto de sobrecarregar a rede e estressar partes de teste do sistema que talvez pudessem não ter registrar essa quantidade de tráfego anteriormente”, explicou.
Com QUIC, os robôs são “basicamente limitados na origem”, acrescentou, efetivamente diminuindo o impacto de tais intermediários exigentes. Anteriormente, a Metaplex havia implementado uma “taxa-robô” específica para lançamentos de NFTs que usam seu protocolo Candy Machine, mas o impacto do QUIC pode ser amplamente sentido por toda a rede Solana.
Estabilidade a caminho?
Além do QUIC e do modelo de priorização de taxas, outro acréscimo é a qualidade de serviço ponderada por staking, um recurso que considera a quantidade de tokens SOL em staking (ou armazenada) na rede por qualquer nó que opera o cliente Solana.
Se um nó possui 0,5% do staking total, então deve ser capaz de enviar pelo menos 0,5% dos pacotes de dados ao validador principal durante épocas de congestionamento.
É outro elemento criado para evitar o enorme congestionamento de rede proveniente de robôs ou outras fontes mal intencionadas.
Com esse modelo, conexões sem staking “são retiradas mais rápido do que as que têm staking”, explicou Yakovenko, enquanto conexões com um staking de rede serão limitadas ao ponto em que não estarão bloqueando outros usuários com staking de participarem da rede.
Dito isso, as atualizações tecnológicas implementadas na atualização v1.10.25 foram criadas como um golpe certeiro para melhorar a estabilidade da rede Solana.
Recentemente, o Solana ficou fora do ar por cerca de quatro horas no dia 1º de junho por conta de uma falha após uma paralisação de sete horas em abril e uma interrupção de 17 horas em setembro de 2021 por conta de um enorme tráfego proveniente do lançamento de um token de Finanças Descentralizadas (ou DeFi).
Neste momento, validadores estão no processo de adesão à atualização e quando 95% da rede descentralizada estiver atualizada, validadores podem começar a “ligar os recursos”, garantiu Yakovenko. Ele acrescentou que isso pode exigir mais iterações e pode levar algumas semanas até que usuários comecem a se deparar com as taxas adicionais.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.