Depois de fechar contas de exchanges e relacionar as criptomoedas com a prática de lavagem de dinheiro, o Itaú Unibanco resolveu entrar no mercado que tanto criticou.
Na quarta-feira (14), o diretor de produtos do banco, Eric Altafim, disse durante o podcast Investidor em Foco que os correntistas do Itaú Personnalité poderão investir — por meio de sua plataforma — no primeiro ETF de criptomoedas do Brasil, da gestora Hashdex.
Além de Itaú, o Genial Investimentos e o BTG Pactual também vão emitir o novo produto financeiro, que já foi aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e será disponibilizado para o mercado no final de abril.
No podcast, Altafim falou que a instituição financeira resolveu se aproximar das criptomoedas porque o mercado está mais ‘maduro”, principalmente por causa da entrada de investidores institucionais e profissionais, do aumento de liquidez dos criptoativos e do ‘aval’ de bancos internacionais:
“Investidores tradicionais estão olhando para a criptomoeda e falando ‘olha, talvez seja um ativo descorrelacionado com o restante da economia do mercado financeiro e vale a pena olhar com mais carinho’”.
Altafim também disse que a mudança na postura da empresa se deve ao pedido dos clientes:
“Esse mercado está crescendo muito e a gente tem cada vez mais clientes nos questionando sobre a possibilidade de fazer algum investimento ou ter algum grau de exposição à criptomoeda”.
“A gente ainda não está confortável para fazer recomendações sobre tamanho de portfólio, grau, nível de preço etc, pois ainda há bastante incerteza nesse mercado. Mas ao mesmo tempo a gente tem o foco aqui em atender o cliente da maneira que ele quer ser atendido”, completou.
Itaú versus corretoras de criptomoedas
Apesar da aproximação com o mercado de criptomoedas, que atingiu valor de mercado de US$ 2 trilhões no início de abril, o Itaú Unibanco tem um histórico de conflito com exchanges.
Nos últimos anos, a empresa fechou as contas bancárias de pelos menos três exchanges brasileiras – Braziliex, Mercado Bitcoin e Foxbit são alguns exemplos – e até de empresários do setor.
Em 2020, a disputa entre o banco e a Foxbit, que corria desde 2017, chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na sentença, a Justiça deu razão ao banco e manteve a conta da corretora fechada.
Na época, o ministro relator Paulo de Tarso Sanseverino disse que o STJ entende que “é cabível a resilição unilateral do contrato de contas bancárias pela instituição financeira, desde que haja prévia notificação”.
Nos outros casos, o entendimento da Justiça foi o mesmo.
Nesta sexta-feira (16), o fundador da Foxbit, João Canhada, escreveu em seu perfil no LinkedIn sobre a relação entre a instituição bancária e sua corretora.
“Infelizmente, o Itaú Unibanco não gosta de mim e do meu trabalho de levar ao público em geral a oportunidade de negociar e conhecer o bitcoin e criptomoedas no Brasil à frente da Foxbit. Tive minha conta encerrada por desinteresse comercial e o mesmo aconteceu com o meu avô que recebia aposentadoria pelo banco”, disse.
“Porém, o final é feliz, pois mesmo brigando com diversos clientes e corretoras que têm bitcoin durante esses últimos 8 anos, (a empresa) se rendeu e começou a ofertar o produto da Hashdex de criptomoedas dentro do banco, inclusive anunciando publicamente isso nos canais do Instagram do Itaú”, completou.