O influencer Felipe Neto voltou a publicar na quarta-feira (25) em seu Instagram conteúdo com publicidade do cassino online Blaze, dizendo que o portal de jogos de azar pode ser uma opção de “renda extra” para as pessoas. A plataforma não tem sede no Brasil, o que dificulta responsabilização em casos de fraudes. A Blaze tem sido alvo de muitas queixa de lesões ao consumidor.
“Além de ter uma plataforma com inúmeras formas de conseguir uma renda extra com jogos como Crash, Double e Mines, na Blaze você também pode fazer suas apostas esportivas”, afirma Felipe Neto em um post. O influencer tem 17 milhões de seguidores no canal.
O youtuber também fez uma série de stories no Instagram promovendo a Blaze. Felipe Neto recomenda que seus seguidores usem um link para apostas esportivas e afirma que apostou em vitórias do Botafogo e Fluminense no Campeonato Carioca.
Reportagem do Portal do Bitcoin entrevistou alguns clientes da Blaze que alegam ter seus saldos bloqueados ou zerados de forma arbitrária. O padrão é parecido: a pessoa faz um depósito e quando vai jogar vê que o dinheiro sumiu; ao entrar em contato com o chat da empresa, é informado que a sua conta fez um jogo e perdeu; a pessoa diz que ninguém mais sabe sua senha e não foi ela que fez a aposta; o cassino diz que é uma falha de segurança pessoal e não pode fazer nada.
Críticas dos seguidores
A publicação de Felipe Neto gerou uma enxurrada de críticas de seus seguidores. Um deles questionou: “Você está ligado quantas famílias esse lance de jogo destrói? Você tem que ganhar a sua grana divulgando algo que afunda a vida dos outros? Estou ligado que joga quem quer e blá blá blá, porém sabemos que vício não é assim”.
Outra seguidora disse que “esses jogos estão afundando pais de família. Triste”.
Já outros seguidores ressaltam não só um aspecto moral de jogos de azar, mas também falam sobre possíveis fraudes específicas da Blaze. “Desculpa Felipe, curto tu como pessoa, mas está plataforma de enganação da Blaze, joguinhos de engano, é um dos maiores golpes que existe”, disse um seguidor.
“Se você conhece minimamente o que está divulgando, sabe que está sendo desleal”, afirmou outro. Um outro comentou: “Só perdi! Queria meu dinheiro de volta . Esse Aviator mesmo puxei o histórico um absurdo de roubos”.
Um fã do influencer lamentou: “Eu costumo muito estar do teu lado, mas dessa vez tu foi longe. Primeiro que tu não precisa da grana dessa publi, segundo que tu sabe o quanto isso tira grana de quem precisa e não dá retorno real”.
O Portal do Bitcoin procurou tanto Felipe Neto quanto a Blaze para obter seus pontos de vista sobre o assunto, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.
Felipe Neto e Blaze
A parceria de Blaze e Felipe Neto vem desde o segundo semestre de 2022. As propagandas do cassino apareceram no começo de alguns vídeos de Felipe Neto, que depois seguia com outro tema. Porém, o influencer chegou a fazer uma transmissão ao vivo no YouTube no qual passou uma hora e meia jogando e falando sobre a Blaze.
“A Blaze tá querendo ficar com a gente, fazer várias ativações ao longo do ano inteiro. Mas pra isso a gente precisa mostrar o resultado, a força das corujas. Somente com mais de 18 anos”, disse Felipe Neto na ocasião. “O mercado de apostas a gente tem que fazer com consciência. Toda vez que eu falar de Blaze, mesmo eles sendo patrocinadores, eu nunca vou chegar aqui e falar para vocês saírem gastando dinheiro. E a própria Blaze falou para a gente, não é para incentivar aposta irresponsavelmente”, completou.
Blaze no Reclame Aqui
A Blaze é atualmente ocupa a 17ª posição no ranking do Reclame Aqui de empresas com mais queixas de clientes.
Entre os problemas com o maior número de reclamações está o “estorno do valor pago”, usado geralmente por usuários com problemas no saque. Em segundo lugar, as queixas são de “propaganda enganosa”, seguido por “divergência de valores” e “instabilidade”.
Uma busca na ferramenta SimilarWeb mostrou que 98% dos acessos da Blaze vêm do Brasil, com 48,4 milhões de visitas só no mês de agosto. Mas a empresa não tem uma presença oficial aqui, tendo sede em Curaçao e os pagamentos processados por outra companhia no Chipre.
Assim, quando um consumidor é lesado, não há para quem recorrer. Apesar disso, a Blaze tem dezenas de pessoas trabalhando em sua operação no Brasil. Um ex-funcionária que conversou com o Portal do Bitcoin em reportagem passada mostrou detalhes dos processos internos do cassino.
Blaze com Neymar e Flow
Além de Felipe Neto, a Blaze é patrocinadora de outras duas grandes marcas brasileiras: o craque Neymar e o podcast Flow.
Em dezembro do ano passado, o jogador de futebol disse em suas redes sociais: ““Temos o prazer de anunciar nossa colaboração! Blaze.com x Neymar Jr. Faremos eventos ao vivo na plataforma Blaze. Fique atento para mais!”
Igor Coelho, o apresentador do show, começou em alguns episódios do Flow do final do ano passado fazendo a propaganda logo no início dos vídeos. “Já conhece o site da Blaze, site de jogos online que você joga valendo dinheiro de verdade e tem a chance de lucrar ainda por cima!?”, questiona.
Operação no Brasil
A Blaze tem dezenas de pessoas trabalhando em sua operação no Brasil. Os trabalhadores tem um contrato, que não é CLT, e recebem na grande maioria dos casos por meio de PIX. O regime de trabalho é de 8 horas por dias e as equipes são grandes: um funcionário já experiente na operação treina grupos de 30 pessoas ao mesmo tempo para fazer atendimento ao cliente e outras ações.
A Blaze fechou um contrato de patrocíno com o Botafogo em julho do ano passado. O clube se recusou a dizer quem assinou o contrato do lado do cassino, mas incluiu no comunidado para a imprensa uma declaração do executivo Santiago Alonso.
Essa parece ser a única face frente à empresa. Identificado como vice-presidente de operações da empresa, é aparentemente estrangeiro: seu perfil no LinkedIn informa que estudou em uma universidade do Canadá e teve uma passagem de três anos no escritório da montadora Toyota em Toronto.
A ex-funcionária disse que não conheceu Santiago Alonso e que os gerentes com quem teve contato eram todos brasileiros.
Como processar a Blaze
Os clientes da Blaze que se sentem lesados têm se deparado com um problema ao tentar buscar seus direitos, já que a empresa não tem representação oficial clara no Brasil. Há, porém, pelo menos duas formas de reivindicar reparos financeiros.
Como a empresa tem sede formal em Curaçao, pequeno país do Caribe, uma das saídas é o envio pelo cliente de uma carta rogatória para o sistema de Justiça do país onde a companhia é sediada; a outra, responsabilizar alguma empresa parceira que viabilize a operação da companhia estrangeira dentro do Brasil.
No caso da carta rogatória, o processo é lento, caro e em geral não compensa financeiramente em casos de valores menores. No segundo caso, empresas parceiras podem fazer parte de um processo — a Blaze permite o uso do sistema Pix como pagamentos, logo, há empresas homologadas pelo Banco Central que facilitam a jogatina.
No entanto, profissionais também se dividem sobre se estas empresas poderiam ou não ser acionadas judicialmente.
Empresa afirma que dados podem ter problemas
Por meio de uma notificação extrajudicial enviada ao Portal do Bitcoin, a Blaze disse que não rouba os saldos de clientes e que as dificuldades de saques muitas vezes ocorrem por incompatibilidade dos dados fornecidos no cadastro com os pedidos no momento da transferência.
A peça judicial foi produzida por uma empresa chamada Prolific Trade, aparentemente do grupo dono da Blaze.
Além disso, o texto é assinado por alguém chamado C. Drommond. Mas buscas pela internet não permitiram saber se é um advogado, diretor jurídico ou dono da companhia, ou qualquer informação que seja sobre tal pessoa.
- Já pensou em inserir o seu negócio na nova economia digital? Se você tem um projeto, você pode tokenizar. Clique aqui, inscreva-se no programa Tokenize Sua Ideia e entre para o universo da Web 3.0!