Imagem da matéria: Entenda as stablecoins: a revolução financeira que chegou para ficar | Opinião
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Como economista eu poderia começar falando do dinheiro. Explicaria o que é, sua história passando pelo escambo, padrão ouro, papel moeda, etc… Poderia falar das três principais funções do dinheiro: meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Poderia falar da governança centralizada, dos governos, dos bancos centrais globais imprimindo mais e mais notas (“quantitative easing”).

Mas vou considerar que você já saiba tudo isso.

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Como profissional de TI poderia começar falando da inovação tecnológica. Poderia falar de criptos (bitcoin e ether), de como são criados os tokens, de volatilidade. Poderia falar da blockchain e de uma tendência que temos para um mundo multi-chain.

Também vou considerar que você já esteja acompanhando esta revolução.

Então vou partir para uma abordagem direta linkando os dois itens acima.

Stablecoins foram criadas para que os usuários tenham a possibilidade de utilizar um ativo digital sem a volatilidade extrema das criptomoedas, com a estabilidade de preço de uma moeda fiduciária aliada a vantagens da tecnologia blockchain.

Um ativo digital com valor de um ativo real. Uma moeda fiduciária como o Dólar ou o Real. Seria equivalente ao Dólar ($) na blockchain ou o Real (R$) na blockchain.

Uma relação de 1:1, onde por exemplo: uma unidade de uma stablecoin de Dólar equivale a 1 unidade da moeda fiduciária Dólar.

É isso.  

Todas as stablecoins deveriam ser assim? SIM

Olhando para as stablecoins existentes, todas entregaram isso? NÃO

Para garantir a estabilidade do preço, as stablecoins podem utilizar diferentes estratégias. E aí chegamos aos três tipos de stablecoins:

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As colateralizadas em cripto

Funcionam como um empréstimo.

Para emitir este tipo de stablecoin, os usuários depositam uma quantidade x de criptos em um contrato inteligente. Esse depósito é o colateral para um empréstimo, normalmente com uma margem de segurança de 150% ou 200%, e é esse colateral que garante a estabilidade do preço da stablecoin.

Por exemplo, para você emitir 100 dólares de uma stablecoin deste tipo você tem que depositar um montante em cripto equivalente a 150 dólares.

Se o preço da stablecoin começar a se deslocar para cima ou para baixo, o smart contract pode sinalizar com um ajuste na posição do colateral para manter a stablecoin estável. Há risco de ser liquidado.

Exemplos:

  • A DAI, stablecoin da MakerDAO, e a sUSD da Synthetix, são stablecoins colateralizadas com criptomoedas como o ETH.

As algorítmicas

Estas não são lastreadas a um ativo real e também não tem um colateral cripto. Elas buscam a paridade com a moeda fiduciária por meio de algoritmos.

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Normalmente estes algoritmos compram e liquidam posições de acordo com a oferta e demanda pela stablecoin. E é isso que mantem sua estabilidade de preço, esse equilíbrio de oferta e demanda ajustado automaticamente pelos algoritmos.

Existem diversas stablecoins algorítmicas, com diversas propostas diferentes de manutenção da estabilidade de preço. Algumas deram certo e algumas fracassaram.

Exemplos:

  • A stablecoin FRAX da Frax Finance, a CUSD e CREAL da Celo Foundation, a USN da Tron são três tipos de stablecoins algortimicas, cada uma com um modelo de ajuste automático diferentes.
  • A UST da Terra Luna, é um exemplo de stablecoin algoritmica que infelizmente fracassou.

As lastreadas em moedas fiduciárias

Este é modelo é o que atualmente prevalece no mercado.

Para emitir uma stablecoin deste tipo, o investidor precisa depositar a moeda fiduciária, por exemplo Real (R$), em uma conta mantida pela emissora da stablecoin. A stablecoin é emitida e mantida em uma proporção 1:1 com a moeda depositada, garantindo essa estabilidade de preço. Para cada moeda depositada tem uma stablecoin criada.

Quando um investidor deseja sair da stablecoin, ele pode devolver a stablecoin para a emissora e receber a moeda correspondente de volta.

Aqui um ponto importante é que há a figura de uma entidade centralizada (a emissora) responsável pelo lastro financeiro. Para garantir a transparência essas entidades costumam apresentar um report que comprove a relação de 1:1 entre supply de tokens e lastro.

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  • Exemplos: A USDC da Circle e a USDT da Tether.to são stablecoins lastreadas em Dólares($);

Voltamos com as perguntas:

Todas stablecoins deste tipo deveriam apresentar essa transparência? SIM

Olhando para as stablecoins existentes, todas são transparentes? NÃO

Independente do tipo escolhido, stablecoins ainda precisam superar alguns desafios mas já trazem inúmeros benefícios e casos de uso:

  • Para o usuário que quer um ativo de reserva de valor na sua wallet;
  • Para o investidor/trader que busca menor volatilidade;
  • Para o iniciante no seu ingresso nos protocolos da Web 3.0;
  • Para o pagador que pode utilizar como meio de pagamento, sejam em ambientes online ou tradicionais;
  • Para o processo de câmbio com menores taxas envolvidas e maior velocidade.

Aqui um importante adendo:

Atualmente temos vários países discutindo temas como CBDC e regulação de criptos e stablecoins. A medida que estes temas forem caminhando o número de casos de uso tende a crescer. Casos que inclusive não enxergamos hoje.

Apenas exemplificando, falando de Brasil, nossa CBDC ainda em construção parte para um modelo de moeda em blockchain lastreada em moeda fiduciária, exatamente como explicado acima para a stablecoin, com a diferença de que não há necessidade neste caso de comprovação do lastro, já que o emissor seria o próprio Banco Central do Brasil.

E em um desenho onde essa moeda do Banco Central, o talvez chamado “Real Digital”, conviveria com stablecoins como a MBRL. Todas em um mesmo ecossistema!

Concluindo, o tema stablecoins está em constante evolução, com novas opções, novos tipos, novos casos de uso surgindo o tempo todo. É importante estar sempre atento e aberto à inovação para não ficar para trás.

Sobre o autor

Ruan Lima atua com criptos e ativos digitais com conhecimento nativo da indústria de blockchain e web 3.0. No Mercado Bitcoin, atua com Desenvolvimento de Negócios e Gestão de Produtos construindo pontes entre parceiros, clientes e times.

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