Imagem da matéria: Eleições na Argentina: como a vitória de Milei ou Massa vai afetar o mercado cripto no país? 
Os candidatos à presidência da Argentina, Javier Milei (esquerda) e Sergio Massa (direita) (Foto: Shutterstock)

A Argentina elege neste domingo (19) o seu novo presidente em uma eleição que talvez seja a mais polarizada de sua história. O segundo turno está entre o deputado ultralibertário Javier Milei e o atual ministro da Economia, Sergio Massa, o representante da esquerda e do peronismo. Para o mercado de criptomoedas, apenas uma certeza: haverá impacto independente de quem acabar ocupando o cargo mais alto da Casa Rosada.

O tema central da corrida presidencial é a inflação alucinante, que chegou a 142% ao ano. Mas as criptomoedas estão presentes em ambas as campanhas. Milei já disse que o “Bitcoin é a reação natural ao golpe dos Bancos Centrais”, enquanto Massa levantou a ideia de aproveitar os resíduos da exploração de gás natural para minerar Bitcoin.

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Sebastian Serrano, CEO da Ripio, empresa de tecnologia blockchain multiprodutos fundada na Argentina e com presença no Brasil, afirmou em entrevista ao Portal do Bitcoin que ao contrário do que muitas pessoas acreditam, Milei não é um bitcoiner. Porém, por ter uma visão libertária, uma eventual vitória pode representar algum avanço da agenda cripto.

“Eu acho que ele vai ser muito aberto a ter muita transnacionalidade e abertura econômica e comercial. E eu acho que ele vai eliminar barreiras de acesso, particularmente do Bitcoin”, afirma o executivo.

Do outro lado do espectro, a possibilidade do candidato peronista ganhar pode criar oportunidades do Estado se envolver ativamente no desenvolvimento do mercado cripto, como ocorre no Brasil.

“O Massa está falando de um peso digital argentino, assim como o Real Digital. E ele fala que quer fazer uma coisa similar ao que se está fazendo no Brasil com o DREX. Então, se ele ganhar, eu acho que poderia ter um desenvolvimento de alguma blockchain do Estado da Argentina”, analisa Serrano.

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Como eventual dolarização pode afetar mercado 

Assim como no Brasil, a Argentina tem como maior caso de uso disparado das criptomoedas as stablecoins pareadas ao dólar. Serrano afirma que mais de 80% do volume transacionado na Ripio no país é nessa classe de ativos.  

A questão é: caso Milei vença e dolarize a economia argentina, a necessidade de acessar os “criptodólares” tende a diminuir e afetar o mercado cripto? Os especialistas creem que a resposta é não.

“As stablecoins são muito eficientes. É dinheiro com a velocidade da internet. Ainda vai continuar tendo pessoas trabalhando para o exterior que vão usar stablecoins. Na economia cripto, todos os contratos são em dólares e isso impõe que todos os acordos sejam em stablecoins”, diz Serrano.

Hernán González, porta-voz da ONG Bitcoin Argentina, também acredita que as stablecoins continuarão a ser vastamente utilizadas por sua praticidade e rapidez.

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“O USDT é frequentemente usado para enviar dinheiro instantâneo para diferentes partes do mundo e com uma comissão muito baixa, algo que normalmente não pode ser feito com moeda fiduciária. Os pagamentos por trabalho remoto no setor de tecnologia e cripto continuarão a ser feitos principalmente em stablecoins”, disse em entrevista ao Portal do Bitcoin

Porém, González acredita que o acesso direto aos dólares possa ter algum efeito no uso do Bitcoin. “Penso ser possível que se as pessoas começarem a gerir em dólares e não verem o seu salário real diminuir enormemente num curto espaço de tempo, será mais fácil para elas pensarem no bitcoin como uma alternativa”.

Milei ou Massa?

A ONG Bitcoin Argentina apresentou no dia 10 de novembro, durante a LaBitConf 2023 (que foi sediada em Buenos Aires), a proposta de “Lei Bitcoin”: um marco legal para operações com Bitcoin (BTC) e criptoativos no país.

A ideia de criar legislação em um cenário no qual o presidente é a favor de menos Estado em qualquer instância pode dar a entender que uma vitória de Milei pode afetar negativamente as ideias da ONG. Mas Gonzaléz mostra otimismo com a possível eleição do deputado.

“Sabemos com certeza que [Milei] procurará abrir as portas para que não haja uma opção de moeda única sem restrições, como acontece atualmente com o peso argentino. A utilização e poupança em outras moedas é, para o atual governo, sinônimo de evasão/grande poder aquisitivo de um cidadão”, afirma.

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Já o CEO da Ripio tem demonstrado abertamente no X seu apoio a Milei. “Normalmente eu não falo de política.  Mas nesse caso, hoje, a performance do atual ministro da economia é tão pobre. Ele é o ministro da economia faz um ano, e a inflação era muito mais branda quando ele entrou. O que ele fez no último ano é terrível. Eu não sei se o Milei é o meu candidato favorito, mas entre essas duas opções, eu estou muito mais a favor de que ele ganhe”.