O presidente do Conselho de Estabilidade Financeira (ou FSB, na sigla em inglês), um órgão internacional com sede na Suíça que emite recomendações sobre o setor financeiro, alerta que as criptomoedas podem ter um “efeito desestabilizador pelo setor financeiro” que pode “escalonar rapidamente”.
Em um novo relatório, Klass Knot pressionou legisladores a criarem regras para o mercado de criptoativos, afirmando que “claramente existe um grau mais elevado de urgência”.
Knot e o FSB argumentam que o mercado cripto e o amplo sistema financeiros estão se tornando cada vez mais interconectados. Isso porque muitas instituições financeiras tradicionais agora estão expostas a criptomoedas de uma forma ou de outra.
Grandes bancos, como Standard Chartered e Morgan Stanley, por exemplo, investiram diretamente em cripto ou na tecnologia blockchain.
O FSB também acredita que stablecoins apresentam um grave risco devido a quão suscetíveis podem ser a “rompantes em suas reservas”.
Grandes emissores de stablecoins, desde Tether (USDT) à Circle (USDC), afirmam que suas stablecoins em circulação são completamente lastreadas em reservas em dinheiro.
Knot sugere que, se holders dessas stablecoins fossem resgatar simultaneamente suas posses pelos dólares (ou outros ativos) que representam e os tokens não estiverem completamente lastreados, a consequência pode se espalhar para os mercados tradicionais.
“Se uma grande stablecoin falhasse, é possível que a liquidez no amplo ecossistema de criptoativos (incluindo as finanças descentralizadas) poderia se tornar limitada, atrapalhando a negociação e possivelmente gerando estresse nesses mercados”, afirmou o FSB.
“Isso também pode se refletir em mercados de financiamento a curto prazo caso posses de reservas de stablecoins fossem liquidadas de forma desorganizada.”
O FSB também se preocupa com o crescente uso de negociação por alavancagem em corretoras cripto não regulamentadas que, às vezes, oferecem uma alavancagem de até 125 vezes.
O FSB teme que uma perda potencial devido ao uso de alta alavancagem possa afetar o mercado financeiro mais amplo devido à sua conexão com a criptomoeda.
O FSB está preocupado principalmente com a segurança e a falta de supervisão regulatória em cripto e DeFi. “Hacks relacionados às DeFi totalizam mais de 75% dos hacks de US$ 481 milhões e volume roubado de criptoativos até setembro de 2021”, cita o relatório.
“Se o setor continuar aumentando de tamanho, a cristalização dessas vulnerabilidades pode ter consequências para o funcionamento ou a confiança no amplo sistema financeiro.”
O FSB também está trabalhando na criação de padrões globais para criptomoedas, que Knot espera que “progrida um pouco em 2022”.
Em 2020, a reguladora havia publicado um relatório que fornecia recomendações de alto nível sobre como regulamentar stablecoins, incluindo uma estrutura efetiva de gerenciamento de risco para a gestão de reservas.
Zero regulações para cripto
Os alertas do FSB sobre stablecoins aumentaram nos últimos anos conforme o setor cripto ficou maior. Mas Klass Knot dificilmente é o único regulador que quer criar normas para o setor cripto.
Gary Gensler, presidente da Comissão de Valores Mobiliários e de Câmbio dos EUA (ou SEC), sempre fala sobre impor regulações a cripto para fornecer melhores proteções a clientes.
Sir Jon Cunliffe, vice-presidente de estabilidade financeira no Banco da Inglaterra (ou BoE), também disse que criptomoedas podem gerar uma crise financeira se continuarem sem regulamentação.
Mais recentemente, o Canadá recorreu à Lei Emergencial (que permite que o governo congele contas bancárias e acesso a fundos, incluindo cripto, sem precisar recorrer ao sistema tribunal) em uma tentativa de restringir o acesso a fundos de manifestantes que se opõem à obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19.
Conforme a discussão sobre regulações muda para verdadeiras ações regulatórias, só o tempo dirá se organizações bancárias internacionais vão seguir as recomendações do FSB.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.