Dois anos depois de lesar milhares de investidores, que provavelmente nunca mais verão os recursos perdidos, a Polícia Federal (PF) prendeu nesta segunda-feira (05) Claudio Oliveira, o criador do grupo Bitcoin Banco.
Oliveira chamava a si mesmo de Rei do Bitcoin para ajudar a promover suas empresas e atrair investidores com imagens de luxo e riqueza em uma fraude que pode chegar a R$ 1,5 bilhão.
A empresa operou grande parte de 2018, mas no início de 2019 todos os saques foram travados de um dia para o outro e depois disso os clientes nunca mais conseguiram sacar os saldos na plataforma. Na época, a empresa disse que havia sofrido um ataque hacker, o que não pôde ser comprovado após uma investigação da Polícia Civil.
Sem dar nome à empresa e aos prisioneiros, o chefe das investigações da PF, o delegado da Operação Daemon, Filipe Hille Pace, detalhou parte do funcionamento do esquema e até mesmo do passado do líder da empresa.
Conforme Pace, o Bitcoin Banco ganhou notoriedade por negociar dentro do seu sistema cerca de R$ 500 milhões por dia, algo que atraiu boa parte dos 7 mil investidores lesados.
Contudo, eram dados que existiam apenas no sistema interno chamado de Fortnox e não na blockchain do bitcoin.
O dinheiro de verdade era queimado pelos donos da empresa em carros de luxo, relógios, bolsas e propriedades. Os bitcoins, se ainda restar algum, não foram encontrados. O delegado, contudo, acredita que com as novas pistas coletadas nos mandados de busca e apreensão é possível que haja mais chance de descobrir o paradeiro dos ativos.
Pace também acredita que há um paralelo com uma empresa de Santos que usou uma estratégia parecida com a BWA, que fraudou os clientes em mais de R$ 300 milhões.
Indivíduo habilidoso
Segundo o delegado, o líder da organização criminosa teve problemas anteriores na Justiça. Ele chegou a ser preso em Portugal e extraditado para a Suíça, onde havia cometido crimes financeiros. Mais tarde, ele também aplicou fraudes em Miami, nos Estados Unidos.
Após o bloqueio dos saques, o grupo começou a dar as mais diversas explicações e promessas de acordos enquanto articulava um processo de recuperação judicial para reorganizar o passivo da empresa.
Pace diz que o grupo criminoso conseguiu ludibriar a Justiça ao apresentar uma carteira com 7 mil bitcoins para a juíza do caso. O problema era que não mostrou as chaves das carteiras onde tinham os supostos milhares de bitcoins. Ou seja: não provou a propriedade dos bitcoins.
“Ao longo do tempo, a empresa seguiu desfazendo dos recursos por meio de laranjas. A PF busca alcançar os valores para que sejam revertidos aos clientes”, disse.
O delegado explicou o processo da arbitragem infinita: no qual a compra e venda entre duas corretoras permitiam um lucro certo e com porcentagem definida. Uma espécie de spread fixo.
Presos
No total 5 pessoas foram presas: Oliveira, a esposa Lucinara, uma outra mulher ligada ao falso Rei do Bitcoin, o braço direito e mais uma pessoa que ajudava na dilapidação do patrimônio.
Investigações continuam, segundo o delegado: “Alguns indivíduos foram questionados hoje e são pessoas que mantiveram as transações em espécie e bitcoin com o líder”.
A ideia principal é fazer o rastreamento e recuperação dos ativos digitais.