Mesmo que se extinguisse o trade especulativo do mercado de câmbio, todos os dias empresas têm remessas ou recebimentos ao exterior, consumidores compram em viagem ou e-commerces, investidores realizam movimentações internacionais, e os próprios países pagam parcelas da dívida externa, ou necessitam intervir, de forma a reduzir a volatilidade da moeda.
Teoria I: os governos controlam o câmbio
Certamente os governos adorariam ter este poder, mas infelizmente isto não é verdade. É fato que são o braço-forte nesta balança, mas há um limite para isto, seja por conta das Reservas Internacionais ou saldo da Balança de Pagamentos.
Mesmo que se aplique severas restrições, como atualmente ocorre na Argentina, se o país é deficitário na balança comercial, por exemplo, importando mais do que exportando matéria-prima, produtos e serviços, a saída de dólares do país é certa.
Dica de vídeo: “Como George Soros quase quebrou o Banco da Inglaterra” – Diário do Milhão, Youtube
Teoria II: os grandes bancos conseguem manipular
Bom, aí você tocou no calcanhar de aquiles. Ao invés de dar minha opinião ou trazer conceitos teóricos, vou postar algumas manchetes:
- Bancos são multados em US$ 5,6 bi por manipulação de taxa de câmbio – Veja
- Cade confirma manipulação de câmbio envolvendo real – InfoMoney
- União Europeia multa bancos em EUR 1,1 bilhão por cartel no mercado de câmbio – Valor
Um conluio entre os principais bancos realmente tem o potencial de fazer um estrago. São vários os fatores que possibilitam esta concentração, muito embora quase todos decorrentes da regulação. Ao mesmo tempo que estes grandes bancos tem acesso praticamente irrestrito à capital de giro, possuem uma visibilidade maior sobre o fluxo de capitais, comparado ao restante do mercado.
Teoria III: oferta e demanda regem os mercados
Deve-se levar em conta que a “mão forte”, no caso, pertence aos próprios governos. Eles têm o poder de alterar a taxa básica de juros, estimular liquidez através de recompra de títulos da dívida, além de outras estratégias que impactam diretamente no câmbio.
Deve-se levar em conta que em países como o Brasil, onde o governo é responsável por mais de 30% do sistema bancário, além de direta ou indiretamente controlar a boa parte das grandes empresas, é difícil imaginar que exista um “livre mercado” neste cenário.
Conclusão
Não há uma resposta óbvia. O fato é que há um limite para manipulação, ou controle, por qualquer tipo de conluio dos bancos, ou até mesmo manobras do governo. Deve-se levar em conta não só a balança comercial, investimento estrangeiro direto, fluxo de capital e reservas internacionais, mas também a credibilidade do país.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017, faz arbitragem e trading de criptomoedas, além de ser cofundador do site de análise de criptos RadarBTC.