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Criptomoedas viram arma da Venezuela para driblar bloqueio econômico dos EUA

Venezuela transforma stablecoins e vendas de petróleo em criptomoedas em rede paralela de financiamento que escapa das sanções dos EUA

Imagem da matéria: Criptomoedas viram arma da Venezuela para driblar bloqueio econômico dos EUA
Foto: Shutterstock

O governo da Venezuela está recorrendo às criptomoedas para driblar o cerco econômico imposto pelos Estados Unidos e manter o fluxo de recursos que sustenta o regime de Nicolás Maduro. Com a intensificação das sanções de Washington, que voltaram a restringir as exportações de petróleo e as transações financeiras do país, Caracas transformou o uso de criptoativos em uma ferramenta de sobrevivência econômica e política.

A estratégia ganhou força logo após a reeleição de Donald Trump, quando o governo venezuelano autorizou as primeiras corretoras de criptomoedas do país, conforme destaca uma matéria recente do The New York Times.

Desde então, a Venezuela passou a vender grande parte de seu petróleo à China e a receber o pagamento em cripto, canalizando parte dessas receitas de volta à economia nacional por meio de exchanges controladas pelo Estado. Em poucos meses, o país se tornou um caso único no mundo: uma nação administrando uma parcela significativa de suas finanças públicas em criptomoedas, fora do alcance direto das sanções americanas.

A principal moeda usada nesse sistema é a stablecoin pareada ao dólar Tether (USDT), que passou a representar até metade da entrada de divisas no país. Empresas públicas e privadas, incluindo a estatal petrolífera PDVSA, começaram a pagar fornecedores e funcionários com tokens digitais. Cidadãos comuns, de motoristas de aplicativo a executivos, também passaram a trocar bolívares por stablecoins em plataformas como a Binance, a maior corretora de cripto do mundo.

Essas transações ocorrem através de duas exchanges oficialmente autorizadas pelo governo, que funcionam como canais paralelos para converter receitas do petróleo em cripto e movimentar recursos dentro do país. Na prática, isso permite a Maduro manter o comércio ativo e gerar liquidez em dólares digitais, mesmo com o bloqueio de bancos internacionais e com as restrições impostas à PDVSA.

Segundo economistas venezuelanos, essa manobra ampliou o poder do governo sobre o pouco fluxo de moeda forte que ainda entra no país. O uso de cripto, porém, também tornou a economia mais opaca e vulnerável a irregularidades. A conversão para cripto cria múltiplas taxas de câmbio e novas oportunidades de corrupção, alertam especialistas citados pelo The New York Times.

A Tether, emissora da stablecoin mais utilizada na Venezuela, recusou-se a comentar o assunto, mas afirma cooperar com autoridades em casos de lavagem de dinheiro. Analistas lembram, contudo, que a empresa possui capacidade técnica para rastrear e congelar tokens, o que representa um risco para Caracas.

Enquanto isso, a Binance, principal plataforma usada pelos venezuelanos, segue sob escrutínio internacional. Seu fundador, Changpeng Zhao, foi condenado nos EUA por violações de lavagem de dinheiro em 2023 e recentemente perdoado por Trump. A empresa afirma estar comprometida em cumprir as sanções americanas, embora o governo venezuelano continue a depender dela para movimentar grande parte de suas operações digitais.

Para Maduro, as criptomoedas funcionam como um escudo financeiro e uma válvula de escape para manter o Estado operando em meio ao isolamento internacional. Mas o preço dessa autonomia é alto: a economia tornou-se ainda mais instável e a inflação voltou a subir. O Fundo Monetário Internacional estima que o país possa enfrentar novamente uma hiperinflação em 2026, enquanto o bolívar despenca e o poder de compra dos venezuelanos se deteriora.

Mesmo assim, o presidente aposta que o uso de cripto e a privatização parcial de ativos estratégicos, como pequenos campos de petróleo, podem garantir o mínimo de receitas necessárias para sustentar o regime. Como resume o economista Francisco Rodríguez, da Universidade de Denver: “Se existe um país que provou que o colapso econômico não derruba um governo, esse país é a Venezuela”.

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