Francisley Valdevino da Silva, conhecido como “Sheik das Criptomoedas“, investiu R$ 30 milhões em uma sociedade com o pastor Silas Malafaia, fundador da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, segundo uma testemunha do processo que levou à condenação de Francisley a 56 anos de prisão. As informações são do site Metrópoles.
Os dois eram sócios na Alvox Gospel Livros Marketing Direto, uma loja digital com foco no segmento evangélico aberta em maio de 2021 e encerrada em julho de 2022. Segundo as investigações, o dinheiro tinha como objetivo ajudar financeiramente a Central Gospel LTDA, editora que pertence ao pastor Silas e que, em 2019, entrou em recuperação judicial no valor de quase R$ 16 milhões.
Quem contou sobre a parceria entre Silas e o “Sheik” é o empresário musical Davi Zocal, considerado uma testemunha-chave do caso por ser próximo de Francisley. O depoimento foi dado em agosto de 2022, mas só agora teve seu conteúdo divulgado.
“Ele [Francisley] gastou muito. Juntando informações, entre confecção e tudo, foram R$ 30 milhões para erguer a empresa. Só que eles combinaram, o Silas falou assim pra ele: ‘Cara, vamos fazer uma empresa com outro nome para não ferrar para nós, né?’ Então abriram a Alvox”, disse Zocal para a Polícia Federal ressaltando que o foco era conseguir “dar uma esquivada”.
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Ao Metrópoles, Silas Malafaia confirmou que recebeu investimentos de Francisley, mas disse que a sociedade durou cerca de um ano e terminou antes da denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o “Sheik das Criptomoedas”.
“Quando você tem uma empresa em recuperação judicial, você não pode ter sócio. Esse cara, evangélico que ele era, abriu mais de 100 empresas legais, não laranja, com várias pessoas. E aí ele chegou para mim e disse: ‘Pastor, vamos abrir uma empresa de marketing multinível para a gente comprar produtos da editora, e a gente vende nessa empresa, fora as outras empresas que eu tenho, empresa de óculos, empresa de perfume’”, afirmou Malafaia ressaltando que até aquele momento não havia denúncias contra o executivo.
O pastor ainda reforçou que não tinha poder de decisão na Alvox e que Francisley era o controlador, além de criticar a delação de Zocal: “Eu tenho alguma coisa com isso, com alguém que abriu a boca para falar asneira? Delação fala bobagem quem quer. Como eu sou um cara conhecido, aí estão tentando me usar, de que vamos dar um golpe, que golpe? Ele botou dinheiro na minha editora para comprar material, para me ajudar no momento mais difícil da minha recuperação. O que que eu tenho com os crimes de Bitcoin, criptomoeda dele?”.
O “Sheik das Criptomoedas”
Francisley é acusado de criar uma fraude com uso de criptomoedas que deixou prejuízos de até R$ 1,15 bilhão a investidores e à sociedade entre os anos de 2019 e 2022.
Conhecido como “Sheik das Criptomoedas”, ele chamou destaque na mídia por ter entre suas vítimas o cantor Wesley Safadão e a filha da Xuxa, Sasha Meneghel, que perdeu R$ 1,2 milhão ao cair no esquema da empresa Rental Coins.
Quando os pagamentos da pirâmide cessaram, o Ministério Público do Paraná começou a investigar a Rental Coins em março de 2022, por conta das reiteradas queixas de clientes por saques travados.
A pirâmide desmoronou em outubro de 2022, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Poyais, acusando o grupo na época de organizar um esquema internacional de lavagem de dinheiro a partir de uma pirâmide financeira que usava criptomoedas como chamariz. Na ocasião, Francisley foi preso.
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Na realidade, as investigações pela PF haviam começado em janeiro daquele ano, quando autoridades dos Estados Unidos informaram que uma empresa internacional com atuação no país, bem como seu principal gerenciador, um brasileiro residente em Curitiba, estavam sendo investigados em Nova York, por envolvimento em conspiração multimilionária de lavagem de capitais.
Diante do pedido de cooperação policial internacional, iniciou-se uma investigação em Curitiba por conta das suspeitas da ocorrência de crimes conexos às fraudes praticados nos EUA pelo brasileiro.
Em dezembro de 2022, o Departamento de Justiça dos EUA (DOJ) formalizou acusações contra Francisley Valdevino da Silva, por participar nos esquemas de pirâmide com criptomoedas IcomTech e Forcount, também conhecidos como “Weltsys”, além da Rental Coins.
Em junho de 2023 o “Sheik” obteve decisão favorável do STJ para deixar a prisão. Na decisão, o juiz do caso apontou como motivo para a soltura a demora na abertura da instrução criminal contra o acusado.
“Não se vislumbra, no momento, possíveis prejuízos da concessão de liberdade à ordem pública. […] Portanto, diante do prazo até então transcorrido e por não perdurar a circunstância da temporalidade, entendo que a prisão preventiva deixou de ser imprescindível para a garantia da ordem pública”, disse o juiz na época.
Em agosto, ele foi um dos convocados pela CPI das Pirâmides Financeiras, mas ficou em silêncio durante o depoimento após conseguir duas decisões favoráveis no STF, uma concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso e outra por Luiz Fux.
Em outubro do ano passado, Francisley foi condenado a 56 anos de prisão por crimes contra o sistema financeiro e formação de quadrilha pela sua atuação com a Rental Coins. Também foram condenados Alan Siqueira Garbes, Claudete Ribeiro Chagas, Rauny Pedro Ribeiro, Ranieri Augusto Ferrari e André Luis de Almeida Martins.
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