Imagem da matéria: Corretora brasileira de criptomoedas CoinX não libera saques há três meses; clientes temem golpe
(Foto: Shutterstock)

A falta de confiança tem se tornado um grande problema da exchange brasileira CoinX, que começou a operar cheia de promessas de ganhos, mas vem mantendo preso há quase três meses o dinheiro dos clientes e mesmo assim segue aceitando depósitos.

A CoinX chegou a criar um cronograma para efetuar esses pagamentos, mas foi postergando constantemente as datas como se estivesse levando o problema ‘com a barriga’. Todos os investidores deveriam ter sido ressarcidos até o dia 2 de outubro, mas há pouquíssimos casos de devolução — sempre de valores pequenos.

Publicidade

A situação é pior do que se imagina. Antes pelos menos os novos cadastros de usuários e depósitos estavam fechado. Agora, contudo, o sistema foi reaberto sem que o problema tenha sido resolvido, o que significa que mais pessoas serão prejudicadas pela exchange. O Portal do Bitcoin tentou entrar em contato diversas vezes com André Gardenal, gerente administrativo da empresa. Não houve resposta até a publicação deste texto.

Sem criptomoedas

A reportagem conversou com um casal que resolveu aplicar suas criptomoedas nessa corretora e hoje não consegue nem fazer a transferência dos bitcoins para outra carteira fora da CoinX.

Gabriel Lima, 24, advogado, disse que quando fez o investimento, em 24 de outubro, nem ele e nem a esposa sabiam dos problemas. Não há nenhum tipo de alerta no site da  empresa.

A descoberta se deu apenas quando Lima relatou sobre um erro na validação da identidade. Ao entrar em contato com a corretora, pelo Facebook, “disseram que estavam com problemas no saque”, afirma o advogado.

Publicidade

“Não vi nenhum problema no início. Entrei no site e não tinha nenhum aviso informando que eles estavam com esse problema. Eles estavam em atividade até negociei meus bitcoins lá. Vendi e passei para reais. Tentei o saque e não consegui. Perguntei se poderia transferir em criptomoedas e daí não deu certo”.

Lima disse que tanto a compra quanto a venda está funcionando. “O problema é que o valor fica na carteira retido e eles não liberam”.

A situação não se limitou a suspensão dos saques em dinheiro. A esposa de Lima, Thaisi Leal, 29, também advogada, disse que estava passando por um momento delicado em sua vida.

Ela precisava fazer um procedimento de saúde e isso demandava dinheiro. O fato é que paralelo a isso, o casal estava passando por uma fase de corte de gastos e nisso suspenderam o plano de saúde.

Publicidade

“Eu estava com uma espécie inflamação no colo do útero que pode até mesmo ser um câncer e isso coincidiu com a gente estar com dificuldades financeiras e tivemos de suspender o pagamento do plano de saúde e a gente encontrou como alternativa essa conversão em real das criptomoedas e fazer o saque. O problema é que quanto mais o tempo passa pior minha situação fica”, afirma Thaisi.

Como os saques estavam suspensos, o casal pensou numa outra saída: a de transferir de volta os bitcoins custodiados pela CoinX para uma Wallet do casal na Blockchain e dali negociar essas criptomoedas.

Para a surpresa deles, a exchange não autorizou a transferência. Gabriel Lima disse que isso foi estranho porque “se o sistema era vinculado ao Blockchain, não faria sentido eles estarem suspendendo esses saques”.

Essa foi uma das respostas dadas pela CoinX ao Gabriel Lima sobre a transferência de seus bitcoins

Apenas promessas

O casal começou a fazer série de reclamações à corretora no dia 25 do último mês e foi a partir daí que vieram as promessas do restabelecimento dos saques e dos pagamentos das transferências.

“Desde o início de nossas cobranças eles começaram a dar prazos. Primeiro falaram que era um mês, depois uma semana. Quando falei que estava com problema de saúde, o saque seria em 24 horas”, diz Thaisi. Mas nada adiantou.

Publicidade

Lima disse que no início “responderam com mensagens padrão”. Após pressionarem a exchange é que começaram a dar prazos aleatórios.

A corretora enfim explicou que os pagamentos deveriam seguir uma ordem cronológica. “Como a nossa era de outubro, eles tem de primeiro pagar agosto e setembro para depois começar a pagar outubro”, disse o advogado.

Lima pressionou dizendo que não poderia esperar tanto tempo, então a corretora deu um prazo de “no máximo um mês”. Sem alternativa, o advogado disse que resolveu ameaçar a entrar na Justiça. Em resposta, a CoinX prometeu “o prazo de uma semana”.

Na última terça-feira (30 de outubro), o casal falou sobre o problema de saúde da Thaisi Leal e daí veio uma nova promessa.

“A gente falou diretamente com o sócio André Gardenal pelo WhatsApp e me deram 24 horas”.

O prazo de 24 horas venceu na quarta-feira (31 de outubro) e o casal não viu a empresa cumprir a sua promessa.

Reclamações

O casal de advogados são pesquisadores em Blockchain pela Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN). São pessoas que conhecem sobre o assunto.

Publicidade

Isso não foi o bastante para que eles não pudessem evitar a experiência de ter a confiança traída. A questão é que eles não foram os únicos.

O site Reclame Aqui traz uma relação de 38 investidores que passaram por problema similar ao do casal. O pior, a CoinX respondeu somente a uma delas. Com isso, a empresa ganhou o título de “Não recomendada”.

Dinheiro e problema

Um cálculo informal baseado em um grupo de mensagens de pessoas prejudicadas mostra que pelo menos R$ 1 milhão estão presos.

Em uma entrevista ao Portal do Bitcoin, o gerente administrativo André Gardenal afirmou  que o problema havia sido provocado pela inclusão de duas novas criptomoedas no sistema, ambas pouco conhecidas.

No site da CoinX, não há nenhuma referência sobre quem são os responsáveis pela empresa. O domínio da empresa está registrado em nome de Myungsun Jung. Além da CoinX, Jung possui outros empreendimentos em Curitiba como Moda Tiara Vestuário, Amigo Frango Lanchonete e escola de estética Golden Nail.

Myungsun Jung, entretanto, possui apenas 19% da CoinX, segundo informações de documentos obtidos no Serasa. Os demais sócios são o gerente administrativo, André Gardenal, com 5%, e os majoritários Yang Lim Chang Suh e Paula Yun Joo Chang, com 53% e 23% respectivamente.

VOCÊ PODE GOSTAR
Moeda de bitcoin sob base de martelo de juiz

CVM julga hoje Bluebenx, pirâmide com criptomoedas que deixou prejuízo de R$ 160 milhões

Relatório se concentra em oferta pública de distribuição de valores mobiliários sem a obtenção do registro no órgão regulador
celular com logo da circle usd coin USDC com grafico ao fundo

Circle integra USDC aos sistemas de pagamento do Brasil

A Circle agora suporta transferências bancárias locais via Pix
homem segura com duas mãos uma piramide de dinheiro

CVM multa pirâmide cripto BlueBenx e seu fundador em R$ 1 milhão

A Bluebenx e seu dono, Roberto Cardassi, foram considerados culpados pela oferta pública de valores mobiliários sem registro
homem segura com duas mãos uma piramide de dinheiro

Pirâmides financeiras continuam sendo crime mais reportado pela CVM às autoridades

Esquemas de pirâmide são crimes contra a economia popular e estelionato, previstos no artigo 171 do Código Penal