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CEO da 123Milhas pede desculpas aos clientes durante CPI, mas se enrola ao explicar falta de dinheiro 

Imagem da matéria: CEO da 123Milhas pede desculpas aos clientes durante CPI, mas se enrola ao explicar falta de dinheiro 

O CEO da 123Milhas, Ramiro Júlio Madureira, teve dificuldades em justificar o modelo de negócios da empresa durante depoimento nesta quarta-feira (6) em sessão da CPI das Pirâmides Financeiras.

Ele e outros executivos da 123Milhas foram convocados à CPI para dar explicações sobre a falta de emissão de passagens promocionais que cancelou as viagens de milhares de brasileiros programadas para este final de ano.

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O executivo foi questionado sobre como funcionava a linha de produtos Promo, na qual um cliente pagava um valor muito abaixo do preço médio de uma passagem aérea e podia embarcar meses ou até anos depois. 

“Esse produto era baseado em três premissas: achar momento oportuno para emissão, reduzir custo com marketing e a receita desses clientes comprando novos produtos”, disse Madureira para justificar como a empresa era capaz de vender passagens tão baradas. Segundo ele, a redução de gastos com marketing seria pelo fato de muitas pessoas passarem a acessar o site para comprar as passagens promocionais. 

Foi então que o presidente da CPI, o deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade/RJ), começou seu questionamento. Primeiro, perguntou se quem pagou para viajar em 2024 estava pagando as passagens de quem viajou em 2023 — uma prática que poderia se assemelhar a um esquema de pirâmide financeira, no qual o dinheiro dos novos entrantes é usado para pagar os usuários mais antigos.

“Não. O próprio Promo, pela suas premissas, os custos para emitir a passagem eram usando recursos da própria empresa. Era a empresa que custeava a emissão”, respondeu.

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O deputado então questionou onde ficava o dinheiro do cliente, já que a empresa pagava do próprio caixa os custos. Ramiro voltou a responder apenas que o dinheiro ficava “dentro da própria 123Milhas”.

“Então foram utilizados para outros produtos dentro da empresa?”, insistiu Aureo. “Não. Sempre para a mesma operação”, rebateu o executivo.

O presidente da CPI não desistiu e perguntou se, pelo menos, todo o dinheiro de cliente gasto na linha Promo ficava segregado nessa linha. Ramiro, no entanto, não foi capaz de confirmar essa segregação: “Como a empresa não distinguia, por exemplo, vendemos hotel, passagem, seguros, eu afirmar esse distinção é um pouco complicado para mim.”

Aureo então foi mais enfático: “O modelo de negócios necessitava da entrada de novos clientes, para sustentar as viagens já previstas?”. Nesse momento o CEO da 123Milhas falou da história da empresa e fugiu do assunto. 

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O depoimento seguiu em frente, mas Aureo alfinetou: “Premissa seria um novo nome para pirâmide?”

Acusação de roubo

Ramiro Júlio Madureira pediu desculpas aos clientes, fornecedores e trabalhadores em sua exposição inicial. Já no momento de responder as perguntas, disse que a empresa nunca se assemelhou a uma pirâmide financeira. 

O depoimento — que continua ocorrendo (assista abaixo) e deve durar ao longo do dia — foi tenso. O executivo foi pressionado pelo relator da CPI, o deputado Ricardo Silva (PSD/SP), a explicar por que a empresa não é capaz de apenas devolver o dinheiro dos clientes, uma vez que não emitiu as passagens prometidas.

Em determinado momento, o debate esquentou quando Silva disse: “Você pegou [o dinheiro] e não fez o pagamento? Você roubou então”.

Nesse momento, a defesa de Madureira disse que o executivo não responderia a pergunta, já que a CPI o estava acusando de roubo e apropriação indébita. Ele relembrou que o depoente conseguiu no Supremo Tribunal Federal o direito de permanecer em silêncio.

No final de agosto, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, determinou que os empresários poderiam ficar em silêncio, mas que eram obrigados a comparecer a CPI das Pirâmides, após faltarem duas vezes seguidas as convocações.

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No mesmo dia em que faltaram a CPI em 29 de agosto, a 123Milhas entrou com pedido de recuperação judicial na 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. No processo, a empresa relatou ter dívidas de R$ 2,3 bilhões.