Imagem da matéria: Ordinals, um mal necessário ou a luz que faltava ao Bitcoin? | Opinião
Foto: Shutterstock

Em um email datado de 17 de janeiro de 1993, Hal Finney compartilhou o conceito de “cards digitais criptografados”, hoje conhecidos como NFTs.

(Email de Hal, apresentando a ideia de cards cripto em 1993)

O detalhe mais fascinante deste e-mail é a intenção de Hal de facilitar a compreensão do conceito de dinheiro digital, por meio de NFTs.

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Algo como: “Gostou desse card cripto? Então compre um pouco dessa moeda digital para adquiri-lo. Aliás, agora que você já tem algumas criptos, venha conhecer o conceito da descentralização financeira.”

Essa visão de Finney foi amplamente validada em 2021 com o boom dos NFTs, que contribuíram drasticamente para o crescimento de algumas blockchains.

Em suma, não foram os anúncios de ZkEVM que atraíram centenas de milhares de pessoas para a blockchain da Polygon nos últimos anos. Foram os “cards digitais criptografados” de marcas como Nike, Starbucks e Reddit que o fizeram.

Essa mudança de paradigma no onboarding é incrivelmente poderosa. A abordagem, que costumava ser interruptiva para a grande maioria, agora se torna envolvente através de experimentos Web3 relacionados à cultura, esportes, games, entre outros.

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No Brasil, por exemplo, dezenas de milhões deixaram seu dinheiro na poupança, rendendo menos que a inflação por quatro anos (2018-2022). Além disso, há apenas 30 anos, o Governo confiscou a poupança de milhões de brasileiros.

O Bitcoin, por exemplo, deveria ser óbvio, mas está longe de ser. Dito isso, o conceito da Web3 e da descentralização de tudo preenchem uma lacuna gigantesca para a compreensão da descentralização financeira. Finney já avisou.

Em quatro fases, como a cultura e entretenimento ajudarão a levar a blockchain ao mainstream:

Fase 1: Bons whitepapers e novos protocolos servem para atrair vanguardistas e builders visionários.

Fase 2: Vanguardistas propagam o conceito da infraestrutura, enquanto os builders visionários estressam a infraestrutura e os produtos construídos nela, incentivando seu aprimoramento.

Fase 3: Com a infraestrutura e os produtos aprimorados, builders menos técnicos entram no jogo e o número de aplicações, projetos e casos de uso se multiplicam, atraindo a atenção do mainstream – que vem pelos use cases e produtos e não pela infra por trás.

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Fase 4: Com o mainstream dentro do jogo, a infraestrutura engole o mundo.

Um exemplo claro dessa progressão é o sistema IOS da Apple. Para as milhões de pessoas que possuem um iPhone, o valor não está na versão mais recente do software, mas sim nos aplicativos construídos nele.

O user não se importa com o IOS, desenvolvedores se importam. E provavelmente ninguém, além dos vanguardistas e dos apaixonados pela Apple, compraria um iPhone se não fosse pelos aplicativos disponíveis nele.

Agora troquem “Apple” pelo nome de qualquer blockchain*.

E graças ao lançamento do protocolo Ordinals no início de 2023, os “Koi Ponds” do Bitcoin estão começando a surgir, levando a maior cripto do mundo a explorar a fase dois de maneira significativa pela primeira vez na história.

*Entendo que, diferente de outras blockchains, o grande valor do Bitcoin reside no “código pelo código”. Mas é inegável que aplicações derivadas de Ordinals serão chave para que o mainstream consiga enxergar esse valor também.

O JPEG que iniciou uma revolução

Em fevereiro de 2023, o grupo Taproot Wizards fez história ao utilizar o protocolo Ordinals para criar o maior bloco já registrado no Bitcoin, com quase 4 megabytes.

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Essa ação tinha um objetivo claro: desafiar o status quo e promover uma mentalidade experimental e rebelde dentro do ecossistema do Bitcoin.

Conforme previsto por Eric, o boom aconteceu. Uma nova economia digital circular que já conta com 155 mil usuários únicos e um volume de negociação superior a US$250 bilhões foi criada, dando início ao que vem sendo chamado de: Bitcoin Season 2.

Além de ter atraído novos usuários para a maior blockchain do mundo, essa nova onda também vem provocando melhorias em produtos relacionados ao Bitcoin e suas segundas camadas. Além dos avanços incrementais que estão ocorrendo em algumas carteiras de Bitcoin, como Hiro e Xverse, o suporte à rede Lightning foi adicionado pela Binance, após anos de espera.

E em seu relatório mais recente sobre blockchains de primeira camada, a Messari aponta que, por conta do boom dos Ordinal, a blockchain Stacks liderou as principais L1s em crescimento trimestral em termos de capitalização de mercado (+340%), receita (+218%), uso da rede (+35%), valor total bloqueado (DeFi TVL) (+276%) e volume de negociação em DEX (+330%).

O que esperar da Bitcoin Season 2?

Reconhecer os experimentos derivados de Ordinals como um movimento altamente complementar para o sucesso do Bitcoin é crucial. O triunfo do ecossistema não depende de uma bala de prata, mas sim da combinação de vários fatores.

Em certos casos, como na Argentina, a adoção do Bitcoin será impulsionada pela necessidade. Para algumas pessoas, ela virá a partir da fascinação pelos princípios do Bitcoin. Os ETFs institucionais também contribuirão significativamente para a curva de adoção. E os Ordinals, apresentam uma maneira de conectar a cultura, o entretenimento, as marcas mainstreams, etc a esse ecossistema.

Então, de maneira geral, é possível dizer que Ordinals irão:

  • Criar uma nova porta de entrada para que o mainstream compre seus primeiros Bitcoins, através de narrativas não correlacionadas a descentralização financeira (isso vem depois).
  • Criar uma porta de entrada que não esteja 100% correlacionada ao preço do Bitcoin: parte dos usuários que mintam seus NFTs do Reddit na blockchain da Polygon nem sabem o que significa “bearmarket”. Eles só queriam interagir com sua marca favorita.
  • Atrair grandes marcas para o ecossistema: Bugatti já iniciou seus experimentos com o protocolo Ordinals, enquanto grandes marcas como YugaLabs, DeGods, entre outras, que atraíram centenas de milhares de usuários para Ethereum e Solana, também realizaram experimentos com Ordinals.
  • Criar uma nova economia digital circular que irá gerar mais receita para os mineradores.
  • Criar uma nova economia digital circular que irá deixar a rede mais cara e incentivará o uso de soluções de segunda camada, como Lightning: “você só entende o valor das segunda camadas quando paga USD 50 de fee pela primeira vez”.
  • Criar uma nova economia digital circular que estará repleta de scams e experimentos que irão falhar e perder o seu valor no tempo, assim como já foi visto com o boom dos ICOs em 2017 e o boom dos NFTs em 2021.
  • Cria uma nova persona no ecossistema: se antes a máxima era “acumule satoshis”, agora nasce um user que está conectando sua carteira em vários sites e realizando transações de Bitcoin diariamente.
  • Incentivar o desenvolvimento geral da infra ao redor do Bitcoin, deixando o ecossistema mais preparado e amigável para o próximo bull market que irá atrair vários novos users.

Sobre o autor

Lugui Tillier é CCO da Lumx Studios durante o dia e navegante da Web3 underground durante a noite.

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