Youtber Laerte Viana em vídeo sobre MMA
Youtuber de MMA ‘Laerte Viana na Área’ (Imagem: Reprodução/Youtube)

Vários canais no Youtube que produzem conteúdos sobre MMA já levaram strike do plataforma de vídeos por promoverem a casa de apostas Stake.com, cujo garoto-propaganda é o famoso rapper canadense Drake, que eventualmente aposta milhões de dólares em Bitcoin na plataforma.

A Stake se tornou famosa globalmente por patrocinar o maior torneio de lutas, o UFC, e ganhar posteriormente o endosso de Drake. No Brasil, a empresa chegou antes de começar a onda das ‘bets’ que se espalham pelo país.

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Não é difícil nos dias atuais ligar a televisão ou acessar uma página de internet ou rede social sem encontrar propagandas de casas de apostas. Até mesmo famosos entraram na onda, como Bebeto, Betty Faria e Beto Jamaica.

No entanto, alguns youtubers patrocinados pelos cassinos também estão tendo que lidar com os efeitos disso em forma de alertas de violação das políticas da plataforma, também conhecidos como ‘strike’ (‘suspensão’, em inglês) — segundo os termos do Youtube, três alertas como este pode causar a perda definitiva do canal; dependendo da gravidade, até por menos.

Canal Super Lutas

Um dos casos aconteceu com o canal Super Lutas, cuja equipe é pioneira na cobertura de esporte de combate MMA — sigla em inglês para Artes Marciais Mistas, amplamente divulgadas por vários eventos, como UFC, Bellator e PFL.

Há cerca de duas semanas, o Youtube proibiu o canal de postar qualquer conteúdo por uma semana. O strike é uma advertência que antecede o banimento de um canal.

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“Sim, o Super Lutas recebeu strike por promover a Stake, mas não houve maiores explicações, apenas deram a suspensão alegando que infringimos as políticas da plataforma”, disse ao Portal do Bitcoin o ex-apresentador do canal, o jornalista Laerte Viana.

Viana também relatou sobre a dificuldade enfrentada para tentar resolver o problema: “Não há uma comunicação direta, não temos para quem recorrer em casos como esses. É uma grande falha do YouTube”.

Depois do strike, o apresentador usou o seu canal homônimo, agora chamado “Laerte Viana na Área”, para explicar a situação e aproveitou para anunciar sua saída do Super Lutas — e de sua “zona de conforto”, para tocar seu próprio negócio.

Viana é uma figura conhecida no mundo do MMA por suas resenhas, entrevistas com grandes nomes da área e coberturas presenciais internacionais.

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Nos últimos anos, ele ajudou o Super Lutas a criar uma base de quase 300 mil seguidores. Os conteúdos do canal se aproximam de 100 milhões de visualizações, o que é prato cheio para publicidade.

Questionado se pretende aceitar patrocínio de casa de apostas em seu novo canal, ele disse: “Sim, pretendo contar com patrocínios de casas de apostas, afinal é uma renda extra muito importante e é algo já aceito na comunidade do MMA”.

Dois strikes leva youtuber a desespero

Quem já sentiu na pele dois strikes seguidos foi a equipe do canal Sexto Round, comandado pelo jornalista e pioneiro no mundo do MMA, Renato Rebelo.

“Que momento para levar strike no YouTube e ficar impedido de postar por uma semana, hein? Acho que vocês podem imaginar o quão grande é o prejuízo para o Sexto Round, tanto financeiro quanto de engajamento”, disse Rebelo na ocasião do primeiro strike.

Assim como Viana, o vídeo do Sexto Round foi publicado em um canal homônimo que ele mantém de reserva, que serviu também quando levou a segunda advertência.

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São vários os vídeos em que o ex-comentarista da ESPN Brasil expressa uma mistura de raiva e incompreensão. Isso porque a maioria dos canais de MMA seguem tranquilos mostrando explicitamente — e em tela cheia — apostas de lutas na Stake.

Rebelo está praticamente proibido de citar o nome do cassino. Ele afirmou em um de seus vídeos ter discordado com a ação do Youtube. Ele tentou recorrer, mas sua resposta foi negativa: “Então não tem o que fazer”, disse.

Stake ou ‘Skate’ YouTube?

O Sexto Round supostamente ainda precisa cumprir contrato com a Stake. É aí que vem o maior problema para o canal com 126 milhões de visualizações e 300 mil inscritos: Rebelo agora é obrigado a criar conteúdo tomando cuidado com as palavras.

Quando precisa expor o nome do cassino no vídeo, ele precisa cortar a palavra Stake ou inverter as letras.

Reprodução/YouTube

Para se ter uma ideia do tamanho da situação, para mandar uma ‘mensagem clara’ para os algoritmos do Youtube, Rebelo comprou um “skate”  — infantil por sinal.

Imagem: Reprodução/YouTube

Ele então mostrou o skate por diversas vezes para deixar claro aos ‘espiões’ do Youtube que o tema é sobre o esporte deslizante sobre quatro rodas e não a casa de apostas.

Até a publicação deste artigo, Rebelo não retornou ao pedido de comentário enviado por e-mail.

Ex-campeões de MMA faturam com as ‘bets’ no YouTube

Outros canais famosos no MMA patrocinados pela Stake, como Diretasso e Canal Encarada, por exemplo, aparentemente não tiveram nenhum problema em promover a plataforma. Eles possuem, respectivamente, 360 mil e 180 mil inscritos.

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Mas a Stake vem perdendo espaço para as ‘bets’ nos canais de MMA. ‘Estrela Bet’, por exemplo, patrocinou o canal do ex-campeão dos pesos-pesados do UFC, o brasileiro Fabrício Werdum, que possui 200 mil inscritos.

Vale destacar também outro brasileiro, Vitor Miranda, ex-campeão do K1 e ex-UFC, que em seu canal homônimo promove a Stake.com para seus 440 mil inscritos. Outro canal da modalidade MMA, o Connectcast, já promoveu a Platin Casino.

Febre das ‘bets’ e a falta de regulamentação das casas de apostas

Muitos cassinos online invadiram o Brasil porque não há regulamentação no setor, o que abre uma brecha para a oferta de jogos de azar proibidos por lei — isso porque a maioria das plataformas de “apostas esportivas” também oferecem os famosos caça-níqueis e jogos de roleta.

As casas de apostas também tomaram os campos de futebol e camisas de clubes brasileiros, perfis de influencers no Instagram e canais de celebridades no Youtube. Podemos citar como exemplo o patrocinador do São Paulo FC, Sportsbet, e parcerias da Blaze com Neymar Jr. e Felipe Neto.

Existe até cassino que tenta passar para o público que se trata de empresa genuinamente brasileira, como mostra um comercial da PixBet estrelado por Galvão Bueno.

Na peça, o famoso locutor da TV Globo diz: “Essa é do Brasil, pode apostar”. No entanto, a PixBet é só mais uma empresa com sede em Curaçao, no Caribe, assim como Stake, Blaze e a maioria das outras.

De acordo com uma reportagem do UOL, há frustração no Instituto Brasileiro de Jogo Responsável, que reúne boa parte das principais casas de apostas que atuam no país, pela demora para sair a legislação, “o que deixa o mercado sem regras”.

Para o influencer de finanças Tiago Reis, criador da casa de análises Suno Research, nessas casas de apostas “jogar para ganhar é utópico”. Ele explicou sua visão do assunto em um tweet na última terça-feira (23):