Ao contrário do que seu criador Changpeng “CZ” Zhao afirmava, a corretora Binance manteve operações na China por vários anos, mesmo depois de dizer que havia deixado o país por conta da repressão ao setor de criptomoedas no final de 2017.
A revelação está em reportagem desta quarta-feira (29) do jornal inglês Financial Times, que teve acesso a documentos internos da empresa.
De acordo com a publicação, esconder os laços com o país asiático era algo que CZ — que nasceu na própria China e que posteriormente se mudou para o Canadá — e outros executivos de altos cargos da Binance instruíam o restante dos funcionários a fazer.
Na China, a Binance manteve um escritório em uso até pelo menos o final de 2019, além de usar um banco chinês para pagar salários de funcionários.
“Não publicamos mais os endereços de nossos escritórios… as pessoas na China podem dizer diretamente que nosso escritório não é na China”, ordenou CZ em um grupo de mensagens da empresa em novembro de 2017, visto pelo Financial Times.
A revelação que a Binance continuou operando na China mesmo depois de dizer publicamente que tinha deixado o país chega dois dias depois de os reguladores dos EUA, da CFTC, abrirem um processo contra a corretora e seu CEO, por possíveis irregularidades cometidas dentro da empresa.
As dúvidas sobre onde a Binance mantinha seus escritórios também foi trazida no processo aberto pela CFTC, que acusa a corretora de “intencionalmente” não divulgar os locais onde operava, no que seria “uma abordagem deliberada para tentar evitar a regulamentação”.
Binance na China
Não é de hoje que a presença da Binance na China vira o centro de discussão no meio cripto. Em 2019, quando saíram reportagens afirmando que a corretora mantinha um escritório em Pequim, novamente os funcionários da empresa foram orientados a não falar sobre o assunto.
“Lembrete: publicamente, temos escritórios em Malta, Singapura e Uganda. Por favor, não confirme nenhum escritório em nenhum outro lugar, incluindo a China”, dizia uma mensagem interna da empresa.
Depois de o governo chinês intensificar a repressão ao setor cripto em 2017, a Binance manteve escritórios nas grandes cidades do país asiático.
Entre 2018 e 2019, Binance continuou contratando funcionários para trabalhar a partir da China, em cargos como analista de dados e especialista em compensação — dois anos depois de CZ afirmar que a corretora tinha deixado o país.
Mensagens vistas pelo Financial Times mostram um funcionário dizendo “espero que todos gostem de trabalhar aqui” para uma equipe de recrutamento em Xangai em meados de 2018.
Semanas depois, um líder da Binanec emitiu um aviso para esses novos funcionários: “Prezados, NÃO usem roupas ou acessórios com logotipos da Binance em nossos escritórios ou próximos a eles. É estritamente proibido”. Tal escritório em Xangai também foi usado para eventos de treinamento de funcionários, mostraram os documentos.
O Financial Times não conseguiu confirmar se os escritórios citados nas mensagem até quase 2020 ainda estavam em uso, mas um ex-funcionário disse à reportagem que muitos dos principais desenvolvedores da empresa ainda estavam no país.
Ocultando rastros
Os funcionários da Binance tinham diferentes estratégias para ocultar a presença na China ao longo dos anos. Usavam, por exemplo, redes privadas e softwares que mascaram a localização do usuário.
Um guia para novos funcionários na China os instruiu a instalar VPNs em seus dispositivos para ocultar suas localizações. Aliás, o incentivo ao uso de VPN não se limitava à China.
Segundo o processo desta semana da CFTC, a corretora recomendava o uso de VPN para clientes norte-americanos que queriam acessar serviços não disponíveis nos EUA.
“A gerência sênior da Binance, incluindo Zhao, sabia que o guia VPN da Binance era usado para ensinar os clientes dos EUA a contornar os controles de conformidade baseados em endereço IP da Binance. Em um bate-papo em março de 2019, Lim [ex-diretor de compliance da Binance] explicou a seus colegas que “CZ deseja que as pessoas saibam como usar VPN para usar [uma funcionalidade da Binance]”, dizia um trecho do processo da CFTC.
Outro lado
Procurada pelo Portal do Bitcoin, a Binance enviou um comunicado sobre o caso. De acordo com o texto, a empresa diz que “É lamentável que fontes anônimas estejam citando histórias antigas (em bases cripto) e descaracterizando dramaticamente os eventos. Esta não é uma imagem precisa das operações da Binance”.
O comunicado segue afirmando que “A Binance não opera na China, nem possui nenhuma tecnologia, incluindo servidores ou dados, baseada na China. Rejeitamos veementemente afirmações contrárias. Para esclarecer, o governo chinês, como qualquer outro governo, não tem acesso aos dados da Binance, exceto quando estamos respondendo a solicitações legais e legítimas de aplicação da lei”.
O restante do texto divulgado diz ainda que “Os membros originais da equipe fundadora, que estavam baseados em Xangai, deixaram a China apenas dois meses depois da criação da empresa, antes mesmo de ser incorporada, após repressões na indústria de criptomoedas na China. A Binance é uma empresa global. A Binance nunca foi registrada ou incorporada na China e não opera na China, que baniu as negociações de criptomoedas em setembro de 2017. Embora tivéssemos um call center de atendimento ao cliente na China, para atender clientes globais que falem mandarim, os funcionários que desejavam permanecer com a empresa receberam suporte para realocação a partir de 2021”.
Segundo a corretora, “a Binance é uma organização global que cresceu para 8.000 funcionários em tempo integral em mais de 50 países”.
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