A crise financeira do Líbano, combinada com a hiperinflação que assola o país do Oriente Médio há anos, tem feito com que os cidadãos veem nas criptomoedas uma tábua de salvação. Em países em que a moeda fiduciária não vale muita coisa, o Bitcoin (BTC) ganha espaço, assim como a atividade de mineração.
Contudo, essa nova onda de adoção cripto no Líbano não é novidade. Há cerca de quatro anos, o país mergulhou em uma crise financeira após décadas de guerras e más decisões políticas.
Na época, os libaneses perceberam que uma moeda descentralizada e sem fronteiras operando fora do alcance de banqueiros e políticos era o que precisavam. E nos dias atuais também, como descreve uma recente reportagem da CNBC, cujo título diz: “No Líbano falido, cidadãos mineram bitcoin e compram mantimentos com Tether (USDT), já que US$ 1 agora vale 15 centavos”.
O veículo descreve também como se deu o início da dissolução da libra libanesa. A moeda oficial do país perdeu mais de 95% de seu valor desde 2019, e o salário mínimo despencou do equivalente a US$ 450 por mês para apenas US$ 17, resultado de uma taxa de inflação de três dígitos.
A libra perdeu mais de 95% de seu valor desde 2019, e o salário mínimo do país despencou do equivalente a US$ 450 para US$ 17 por mês, além de uma taxa de inflação de três dígitos.
Portanto, uma saída encontrada para proteger o dinheiro tem sido converter a moeda local em satoshis, como faz todo sábado o arquiteto Georgio Abou Gebrae. Ele conta que descobriu o bitcoin em 2019, quando aceitou receber US$ 5 em BTC para gravar um comercial de pneus após ter perdido seu emprego na capital de Beirute.
Segundo ele, se tentasse transformar os dólares em libras perderia metade do valor devido a taxas e conversão. “É por isso que eu estava olhando para o bitcoin – era uma boa maneira de obter dinheiro do exterior”, disse ele à CNBC.
De acordo com a reportagem, alguns cidadãos libaneses têm como única fonte de renda a mineração de bitcoin, enquanto não encontram um emprego formal. Outros organizam reuniões pelo Telegram para trocar a stablecoin por dólares americanos para poder comprar comida.
“O bitcoin realmente nos deu esperança. Nasci na minha aldeia, vivi aqui toda a minha vida e o bitcoin me ajudou a ficar”, conta Gebrae.
Crise financeira no Líbano
Banco Mundial avalia que a crise econômica e financeira do Líbano está entre as piores já vistas no planeta desde a década de 1850. As Nações Unidas estimam que 78% da população libanesa já caiu abaixo da linha da pobreza.
Já os analistas do Goldman Sachs estimam que as perdas nos bancos locais estão em torno de US$ 65 bilhões a US$ 70 bilhões — um número que é quatro vezes o PIB total do país, que tem projeção de uma inflação para este ano perto da casa dos 180%.
O FMI tem agido, diz a CNBC, e tenta abrandar o problema ao considerar estender uma linha de crédito de US$ 3 bilhões, com algumas condições, como primeiramente eleger um presidente para o país. Isso porque desde a saída do então presidente Michel Aoun, no último dia 30, não se tem um líder de Estado.
Mineração de criptomoedas salva amigos
Quanto a atividade de mineração de criptomoedas no Líbano, serve como exemplo o esforço de dois amigos que escalaram as montanhas de Chouf para instalar lá três mineradoras e assim obter algum lucro, já que na região a conta de eletricidade é barata.
O problema é que eles começaram a mineração de Ethereum, cuja rede não permite mais a mineração desde setembro, quando migrou do mecanismo de consenso proof-of-work para o proof-of-stake.
Eles então expandiram o negócio oferecendo assistência técnica para equipamento e foram ampliando o negócio. A dupla passou a oferecer poder de computação para fora do Líbano e atualmente faturam cerca de US$ 20 mil por mês.
Quem lucra com a crise?
Em uma série de vídeos sobre o colapso financeiro no Líbano, o canal ‘Rana Talks Finance’ no Youtube revela como está a vida dos libaneses e como as criptomoedas podem ajudá-los a se esquivar da inflação.
Em um dos vídeos, a pesquisadora, que se apresenta como Rana, afirma que durante crises econômicas como a do Líbano, uma parcela pequena das pessoas se beneficiam e ficam mais ricas.
“As pessoas que lucraram com o colapso do Líbano, na minha experiência, foram aquelas que diversificaram seu dinheiro, tiveram empréstimos, trabalharam em ONGs ou estavam em condições de lucrar com subsídios estatais”.
Para Rana, em uma crise com a que o país enfrenta atualmente, a primeira coisa a se fazer é se proteger dos bancos. “Nessa hora, eles serão seus maiores inimigos. Uma alternativa são as criptomoedas, como bitcoin”.
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