Henrique Meirelles
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O ex-ministro da Fazenda do Brasil e ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles passou a ocupar um dos assentos do conselho consultivo da maior corretora de criptomoedas do mundo, a Binance. A informação é do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

Uma versão inicial desta reportagem dizia que a vaga seria no conselho de administração, informação que foi retificada pela empresa. A exchange anunciou que “confirma a participação de Henrique Meirelles no novo conselho consultivo global da empresa e informa que vai divulgar mais detalhes sobre essa iniciativa em breve”.

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Através de Meirelles, que é próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – líder das pesquisas de intenção de voto para a eleição à Presidência da República de outubro -, a corretora ganha mais um canal de interlocução com o meio político, em meio à expectativa de votação do projeto de Lei que regula as criptomoedas no país, no qual a Binance tem interesse direto.

Meirelles é um dos executivos financeiros de maior destaque do país. Ele foi ministros da Fazenda entre 2016 e 2018, durante o governo de Michel Temer (MDB), e liderou o Banco Central durante os dois governos de Lula, entre 2003 e 2011. Também foi deputado federal por Goiás. Mais recentemente, trabalhou três anos como secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, indicado pelo ex-governador João Doria (PSDB).

Meirelles, aliás, foi um dos elos que colocou Doria em contato com o CEO da Binance, Changpeng “CZ” Zhao. Em março deste ano, CZ esteve no Brasil e se reuniu com o então governador e candidato à presidência da República. A dupla posou para uma foto e trocou mensagens públicas no Twitter. Meirelles participou do encontro.

Foi o início de uma série de contatos entre a Binance e o tucano. Em maio, a corretora dominou o evento “LIDE Next”, organizado pelo LIDE, empresa de eventos fundada por João Doria. A Binance esteve presente em todas as mesas de debate, além de painéis de abertura e fechamento.

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Cursos da Binance para o Ministério Público

A Binance também tem buscado se aproximar de instituições ligadas à Justiça e ao Ministério Público. Recentemente, três especialistas da empresa – Tigran Gambaryan, Matthew Price e Renato Barreto – ministraram um treinamento sobre investigação criminal e blockchain para promotores de Justiça dos núcleos do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP). Em julho, um curso semelhante foi realizado com promotores que atuam no Rio de Janeiro.

Os cursos acontecem mesmo após anúncios feito pelo Banco Central brasileiro da existência de riscos de lavagem de dinheiro na atuação da corretora – um episódio que serviu como estopim para uma briga judicial com o ex-parceiro bancário Capitual, caso que foi parar na Justiça e envolve R$ 450 milhões, além da interrupção nos saques em real da corretora.

Contatos da Binance com o mundo político

O filho do ex-governador, João Doria Neto, também conheceu o executivo chinês e pareceu entusiasmado. Em seu Twitter oficial e perfil no Linkedin, Neto publicou uma foto ao lado de CZ num encontro que os dois tiveram em São Paulo, usando a oportunidade para tecer elogios à Binance. “Animado para ver quanto trabalho a Binance está dando para desenvolver e criar todo o ecossistema Web 3.0 em todo o mundo”, escreveu Neto no tuíte que logo foi respondido pelo próprio CZ: “Prazer conhecê-lo também”.

Pouco tempo depois do encontro, conforme mostrado em reportagem do Portal do Bitcoin, Doria Neto se revelou trader de NFTs no OpenSea. O filho do ex-governador vendeu em meados de março o item mais valioso de sua coleção de tokens não fungíveis (NFTs). Trata-se de uma operação que lhe rendeu um lucro de mais de R$ 200 mil.

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Na operação, Doria Neto vendeu o CloneX #17494, que até então era usado na foto do perfil no Twitter. No momento da venda, a cotação do Ethereum (ETH) estava em torno de R$ 14.730, o que significa que ele vendeu o NFT por cerca de R$ 244,5 mil.

Neto vendeu o NFT por quase o dobro da estimativa de preço que o ativo tinha na semana semana anterior à venda, quando as ofertas de compra por ele no OpenSea não passavam de R$ 147 mil.

Polêmicas da Binance no Brasil

A atuação da Binance no Brasil segue envolta em uma série de polêmicas. Esta semana, a empresa passou a mostrar aos clientes brasileiros uma nova mensagem, em que faz um alerta sobre a proibição feita pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) da oferta de derivativos no Brasil.

No entanto, a mensagem deixa claro que basta o consumidor indicar que está fora do país para operar com este tipo de produto, independente de como foi o processo de KYC (“Know Your Customer”, expressão em inglês para “conheça seu cliente”).

Em maio, a a CVM disse em esclarecimento solicitado pelo Senado Federal que a exchange havia encerrado a opção de operação com derivativos para brasileiros. Porém, reportagem do Portal do Bitcoin mostrou que a prática continuava possível apenas com mudança de língua de português do Brasil para português de Portugal.

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Já em agosto, foi revelado que a exchange vem criando novas empresas no Brasil. A corretora de origem chinesa agora tem mais dois CNPJs verde-amarelos — estabelecidos nos dias 21 de junho e 1º de julho deste ano. Além disso, a exchange também ficou sócia da Wellington Participações LTDA, cujo capital social é de R$ 100. Com a B Fintech, agora são quatro registros no país que possuem relação direta com a corretora.

Investigações sobre a Binance

A nível global, a empresa também segue questionada. Esta semana, uma reportagem da agência de notícias Reuters revelou que promotores federais dos EUA pediram que a companhia entregasse extensos registros internos sobre seus procedimentos de combate à lavagem de dinheiro, além de mensagens de CZ.

Segundo a agência de notícias, o pedido foi feito no final de 2020, solicitando que a corretora entregasse, de forma voluntária, mensagens de CZ e outros 12 executivos e parceiros da empresa sobre assuntos relacionados à detecção de transações ilegais pela exchange e o recrutamento de clientes dos EUA.

Em junho, a mesma Reuters mostrou que a Binance pode ter sido usada como canal para que criminosos lavassem bilhões de dólares em fundos ilícitos nos últimos cinco anos. A agência de notícias estima que, entre 2017 e 2021, cerca de US$ 2,35 bilhões – o equivalente a quase R$ 12 bilhões – em criptomoedas decorrentes de hacks, fraudes de investimento e vendas de drogas ilegais, teriam sido enviadas para a corretora como forma de lavagem de dinheiro.