A CoinFLEX, uma das várias plataformas de negociação de criptomoedas que congelou os saques de clientes neste mês, não está enfrentando um problema de liquidez comum.
Em vez disso, o CEO da corretora, Mark Lamb, afirma que existe um homem responsável pelos problemas financeiros da empresa: Roger Ver. O antigo defensor do Bitcoin (BTC) que acabou se convertendo para criar e promover o Bitcoin Cash (BCH) — um hard fork do bitcoin — supostamente deu um calote de US$ 47 milhões na corretora.
“Roger Ver deve US$ 47 milhões em USDC à CoinFLEX”, tuitou Lamb nesta terça-feira (28). “Temos um contrato por escrito com ele, obrigando-o a se responsabilizar pessoalmente por qualquer saldo negativo em sua conta na CoinFLEX e completar a margem regularmente.”
Lamb afirma que Ver, que ganhou o apelido de “Jesus do Bitcoin” por ser um antigo defensor da criptomoeda e investidor-anjo, não cumpriu com esse contrato e a CoinFLEX já emitiu um aviso de inadimplência.
Os comentários do CEO confirmam rumores inicialmente vazados por um usuário do Twitter conhecido como “FatManTerra” — conhecido pela extensa lista de acusações que fez durante o colapso do ecossitema Terra. Quando os rumores começaram a surgir, Ver foi ao Twitter para negar as acusações.
“Esses rumores são falsos. Não só não tenho dívidas com esta contraparte, como esta me deve uma quantia substancial de dinheiro, e neste momento estou buscando a devolução dos meus fundos”, tuitou Ver nesta terça-feira.
Lamb respondeu indiretamente às acusações de Ver, chamando-as de “descaradamente falsas”. “É uma pena que Roger Ver precise recorrer a tais táticas para se desviar de suas obrigações e responsabilidades”, completou Lamb.
O CEO da CoinFLEX inicialmente decidiu manter privada a identidade de sua contraparte. Ao discutir sobre o problema de liquidez e o plano de recuperação da plataforma por meio da venda de um novo token na segunda-feira (27), Lamb só havia identificado a fonte do problema como “um certo indivíduo com um alto patrimônio líquido”.
Plano de recuperação da CoinFLEX
Em uma publicação compartilhada na segunda-feira, Lamb detalhou os planos da empresa para um novo token de passivo chamado “Recovery Value USD” (rvUSD), que a CoinFLEX pretende vender para arrecadar US$ 47 milhões.
Essa é a quantia necessária para liberar novamente os saques para seus clientes e exatamente a mesma quantia de dinheiro que Lamb alega que Ver deve à empresa.
“rvUSD é um token emitido pela CoinFLEX e relacionado à dívida pendente por um certo indivíduo com um alto patrimônio líquido à CoinFLEX”, diz o whitepaper do token.
O texto explica que, recentemente, a conta do “indivíduo” atingiu um saldo negativo e falhou em fornecer a liquidez necessária para atender sua chamada de margem.
No entanto, um acordo prévio com esse indivíduo impediu a CoinFLEX de liquidar sua posição, algo que já teria sido feito em circunstâncias normais. A situação fez com que a CoinFLEX congelasse saques em sua corretora na semana passada — medida que a corretora atribuiu vagamente à “incerteza envolvendo uma contraparte” na época.
Porém, a CoinFLEX esclareceu que a contraparte não era o infame fundo de hedge Three Arrows Capital ou qualquer empresa de empréstimo cripto, como a Celsius e a BlockFi, que estão enfrentando problemas de liquidez neste momento.
“Essa condição exigiu que o indivíduo apresentasse altas garantias pessoais para saldos de conta e chamadas de margem em troca de evitar sua liquidação”, explicou Lamb na publicação desta segunda-feira. O novo token rvUSD é uma tentativa de “monetizar essa garantia pessoal” na forma de um passivo.
A ideia é que isso permita que a CoinFLEX arrecade os US$ 47 milhões necessários para retomar os saques enquanto dá à contraparte, que Lamb afirma ser Ver, mais tempo para pagar. Enquanto isso, será oferecido um retorno anual de 20%, que a empresa espera que seja bem atrativo aos compradores dos tokens rvUSD.
“Estivemos falando [com Ver] frequentemente em ligações sobre essa situação com o objetivo de solucioná-la”, disse Lamb em seu Twitter. “Ainda gostaríamos de resolvê-la.”
Riscos?
De acordo com Lamb, a corretora já falou com muitos grandes compradores e gerou um “enorme interesse” em relação ao token — cuja emissão deve começar nesta terça-feira.
No entanto, a resposta do CriptoTwitter ao novo instrumento de dívida, foi bem menos otimista. O anônimo FatManTerra chamou a oferta de “incrivelmente degen” — termo que pode se referir a um investimento (ou pessoa que realiza um investimento) bastante arriscado.
“Estão usando termos como ‘chamada de margem’ e ‘saldo negativo’ para distrair da verdade dessa situação”, tuitou. “Neste caso, não havia nada para liquidar e o empréstimo está pendente.”
Diversos outros usuários responderam aos planos de Lamb ao chamá-los de “sem sentido” e “pirâmide”, enquanto se referiam à CoinFLEX como um “cassino”.
“Queríamos fazer com que todos os ativos combinassem e que passássemos esse risco aos investidores que entendem qual é o risco e que anseiam por esse risco”, explicou Lamb à Bloomberg.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.