Imagem da matéria: Só restaram as "mãos de diamante": HODLers dominam negociações do bitcoin, analisa Glassnode
(Foto: Shutterstock)

O preço do bitcoin (BTC) continuou se consolidando na última semana, após os primeiros sinais de uma possível descorrelação entre os mercados de ativos digitais e os de ações tradicionais, apesar de na direção incorreta. O índice S&P 500 disparou 7,4% após registrar baixas e o NASDAQ também subiu 9,6%.

Enquanto isso, o bitcoin caiu e chegou a uma baixa de US$ 28.261. O preço subiu apenas nesta segunda-feira (30) para recuperar a alta semanal de US$ 30.710. O Ethereum também teve uma semana difícil, perdendo 17,8% de seu valor e caindo para US$ 1,7 mil antes de se recuperar para US$ 1,9 mil na manhã desta segunda-feira.

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Após a liquidação motivada por LUNA este mês, houve uma mudança comportamental e distinta nas tendências de acumulação em blockchain do bitcoin. Mais especificamente, entidades com saldos inferiores a 100 BTC e aqueles com mais de 10 mil BTC são os maiores acumuladores.

Os grupos restantes de carteira também migraram de distribuidores líquidos para distribuidores neutros. Isso reflete uma mudança notável no comportamento em comparação ao período entre fevereiro e maio, de acumulação e distribuição intermitente, uma incerteza refletida e um capital rotativo.

No entano, a atividade em blockchain continua extremamente leve, com pouco sinal de novo interesse no ativo além da existente base de HODLers. Assim, os HODLers que permanecem parecem estar dispostos a continuar assim à medida que o preço cai e estão relutantes em gastar moedas mesmo se estas forem mantidas em prejuízo. 

Preço do bitcoin na vigésima segunda semana do ano (Imagem: Glassnode)

Só restaram os HODLers

Nos últimos meses, a Glassnode destacou como a atividade em blockchain Bitcoin continua fraca e estável. É uma característica comum de mercados de baixa anteriores, onde a atividade de transações é dominada pela classe de HODLers, que é bem mais insensível ao preço.

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Após as liquidações de maio de 2020, percebeu-se um modesto “êxodo” modesta de carteiras conforme investidores esvaziaram completamente suas alocações na moeda.

Na sequência, houve uma ruptura de quatro meses no crescimento de carteiras à medida que a incerteza assolou o psicológico dos investidores e compradores marginalizados foram expulsos do mercado por conta da queda.

Como demonstra o gráfico abaixo, o péssimo desempenho de preço recente colocou o crescimento de carteiras em pausa no curto prazo, apesar de não na mesma escala que em maio de 2021.

Número de endereços de Bitcoin com saldo superior a zero (Imagem: Glassnode)

Durante eventos altamente voláteis, como a liquidação gerada por LUNA, geralmente há uma alta na atividade em blockchain, pois investidores entram em pânico, vendem ou movimentam moedas para compensar diferenças e cobrir posições. Em março de 2020 e novembro de 2018, essa alta na atividade após as liquidações deu início aos mercados de alta seguintes.

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Embora essa possibilidade não possa ser desconsiderada, é possível notar que tanto os endereços ativos como entidades ativos “retribuíram” todo esse aumento na atividade e voltaram à faixa definida desde setembro de 2021. Em outras palavras, a recente liquidação e o baixo preço não inspirou um fluxo de entrada de novos usuários ao setor e apenas restam os HODLers.

Entidades e Endereços Ativos no Bitcoin (Imagem: Glassnode)

Uma mudança no comportamento de acumulação

É claro que a atividade em blockchain é apenas uma parte da história. Embora o crescimento de carteiras e de entidades ativas possam ter estagnado, essa análise não leva em consideração o valor econômico dos investidores e das carteiras que restaram.

Enquanto o preço é corrigido, a capacidade de HODLers em adquirir mais bitcoins por dólar aumenta, sugerindo a análise de domínio das dinâmicas de fornecimento.

O escore de tendência de acumulação registrou uma mudança notável no comportamento. Por quase duas semanas, voltou ao escore quase perfeito acima de 0,9. Isso indica que entidades existentes na rede estão aumentando seus saldos.

É uma clara ruptura dos escores intermitentes que voltaram durante a faixa de consolidação entre janeiro e abril (cor laranja) que pode ser classificada como uma acumulação de convicção relativamente baixa.

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Exemplos anteriores de altos escores contínuos de acumulação se dividem em duas categorias:

Altos escores durante um ciclo de alta (na cor azul) que, geralmente, acontecem próximos a topos enquanto o “smart money” distribui seu saldo, mas são correspondidos por um fluxo ainda maior de compradores com ainda menos experiência.

Altos escores durante um ciclo de baixa (na cor verde) que, geralmente, surgem após correções muito significativas no preço à medida que o pensamento dos investidores muda da incerteza para a acumulação de valor. Uma grande exceção é o período pós-alta recorde em dezembro de 2021, quando “a queda” acabou não sendo “a grande queda” e muitas dessas moedas foram redistribuídas a preços mais baixos e em prejuízo.

Escore de tendência de acumulação do bitcoin (média móvel de sete dias) (Imagem: Glassnode)

Ao analisar os diversos grupos de carteira que estão contribuindo com esse alto escore de acumulação, é possível identificar dois grupos: entidades com menos de 100 BTC e entidades com mais de 10 mil BTC.

No grupo com menos de 100 BTC, é possível notar que o gradiente de suas alocações totais de carteira aumentaram após a liquidação recente. Além disso, o saldo total desse grupo aumentou em 80.274 BTC — bastante similar aos 80.081 BTC liquidados pela Luna Foundation Guard (ou LFG).

Na prática, a demanda crescente das entidades com menos de 100 BTC a preços mais baixos resultou no fornecimento liquidado pela LFG em uma tentativa de defender a paridade ao dólar da UST.

Fornecimento armazenado por entidades com menos de 100 BTC (Imagem: Glassnode)

O outro grupo que contribuiu com o alto escore de tendência de acumulação são “baleias” com saldos superiores a 10 mil BTC. Ao longo do mês de maio, essas entidades acrescentaram 46.269 BTC ao seu saldo — perceba que isso também inclui a distribuição de 80 mil BTC da carteira da LFG.

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Fornecimento armazenado por entidades com mais de 10 mil BTC (Imagem: Glassnode)

Essas observações podem ser confirmadas ao analisar o escore de tendência de acumulação pela métrica de grupos de carteira. É possível perceber que, desde as liquidações, entidades que possuem menos de 100 BTC e as que possuem acima de 10 mil BTC registram sinais azuis, indicando um aumento significativo ao seu saldo na última semana.

É uma mudança notável dos valores relativamente fracos (nas cores amarela e vermelha) em antecipação às liquidações, em que baleias, em particular, são enormes distribuidoras. Os grupos restantes de carteiras, entre 100 BTC e 10 mil BTC, mantiveram uma classificação mais neutra e próxima a 0,5, sugerindo uma variação líquida relativamente pequena em seus saldos.

Na seção seguinte, será investigado o comportamento de holders a longo prazo para refinar as observações.

Escore de tendência de acumulação de bitcoin por grupos de carteira (Imagem: Glassnode)

Prejuízos a longo prazo

Foi definido um argumento para os grupos com diversos tamanhos de carteira que participaram da recente acumulação em blockchain. Agora, são analisados os holders a longo prazo, que representam o grupo menos propenso a gastar suas moedas em meio à volatilidade, para medir a convicção de investidores.

Note que a transição para o status de holder a longo prazo é de aproximadamente 155 dias atrás, que se refere a dezembro, quando o preço do bitcoin estava em cerca de US$ 47 mil.

Se analisarmos a métrica URPD — distribuição de preço realizado de transações não gastas (UTXO) em bitcoin — do dia 1º de abril de 2022, antes da liquidação do LUNA, é possível mapear o perfil de distribuição da moeda com foco no ciclo de 2021 e 2022.

Distribuição de preço realizado de transações não gastas (UTXO) em bitcoin ajustada por entidades (Imagem: Glassnode)

Agora, ao sobrepor o perfil de 1º de abril com o URPD atual (na cor azul), é possível avaliar a mudança na distribuição de moedas e fazer as seguintes observações:

– uma realocação considerável de 1,5 milhão de BTC aconteceu por compradores na faixa entre US$ 42 mil e US$ 49 mil para compradores na faixa atual entre US$ 26,7 mil e US$ 33 mil.

A distribuição de moedas em outros lugares parece bastante similar ao perfil de 1º de abril, sugerindo que o grupo de HODLers relativamente inabalável ao preço continua dominando o perfil de investidores em bitcoin.

Distribuição de preço realizado de transações não gastas (UTXO) em bitcoin ajustada por entidades (Imagem: Glassnode)

A atual tendência de queda para moedas compradas há menos de três meses apoia essa observação. A análise dos últimos três meses captura todas as moedas gastas pela última vez após 1º de março, que foi o meio da última faixa de consolidação.

Quando acontece uma tendência de queda nas ondas de HODL de três meses, significa que o fornecimento líquido de moedas está migrando para faixas de duração mais antigas.

A principal conclusão por essas duas métricas é que holders que acumularam moedas após a alta recorde em novembro parecem estar relativamente insensíveis ao preço. Apesar das contínuas quedas de preço e um grande evento de liquidações spot de mais de 80 mil BTC, continuam relutantes em vender suas moedas.

Ondas de HODL por capitalização realidade em bitcoin (moedas compradas há menos de três meses) (Imagem: Glassnode)

Lembre-se que o limite para que investidores sejam classificados como holders a longo prazo está localizado no fim de dezembro. Assim, não é surpreendente que o fornecimento total por esse grupo tenha se estagnado. Nos últimos meses, o limite de holders a longo prazo estava se cruzando junto com a tendência de baixa que acontecia entre novembro e janeiro.

Geralmente, a acumulação do fornecimento acontece durante faixas de preço lateralizadas. Isso significa que, daqui a cerca de um mês, o limite de holders a longo prazo entrará na faixa anterior de consolidação, definida entre US$ 33 mil e US$ 42 mil. Com base no perfil da URPD, um enorme volume do fornecimento foi adquirido aqui, entre janeiro e abril.

O fornecimento por holders a longo prazo recentemente voltou à alta recorde de 13 milhões de BTC. A menos que uma redistribuição significativa de moedas aconteça, podemos esperar que essa métrica de fornecimento comece a subir ao longo dos próximos três ou quatro meses, sugerindo que HODLers vão continuar aguentando e armazenando suas moedas.

Fornecimento total de bitcoin armazenado por holders a longo prazo (Imagem: Glassnode)

Porém, apesar da futura previsão positiva, ainda existe um subconjunto de holders a longo prazo que está gastando suas moedas e realizando prejuízos. A métrica de lucro (SOPR) de holders a longo prazo pode ser considerada como o múltiplo de lucro médio realizado pelo grupo de holders a longo prazo todo os dias e raramente está abaixo de 1.0.

Na última semana, os gastos médios de moedas por holders a longo prazo registraram um prejuízo de 27% em comparação ao momento de aquisição dessas moedas. No passado, tais eventos só aconteciam durante as baixas de capitulação final dos mercados baixos, como 2015, 2018 e, brevemente, em março de 2020.

Lucro (SOPR) de holders a longo prazo de bitcoin (média exponencial móvel de sete dias) (Imagem: Glassnode)

Com o conceito do SOPR por holders a longo prazo como um múltiplo de lucro realizado, é possível definir o preço médio de onde as moedas gastas por esses holders estão “vindo”, chamado de “preço gasto”.

O preço gasto por holders a longo prazo (na cor rosa) raramente está acima do preço de mercado, mas está sendo negociado a US$ 32,8 mil em uma média móvel de sete dias. A última vez em que holders a longo prazo registraram prejuízos como esses foi por um breve período durante as liquidações em março de 2020.

No caso do mercado de baixa de 2018, isso precedeu muitos meses de prejuízos para holders a longo prazo e resultou em outra queda de 50% no preço.

Preço gasto por holders a longo prazo de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Conclusões

A estagnação na atividade em blockchain do bitcoin está acontecendo desde setembro de 2021 e, mesmo assim, existem poucos sinais de uma possível mudança.

Isso indica que a classe de HODLers, os compradores de bitcoin de última instância, são os únicos que restaram. Isso também é perceptível em sua relutância em gastar seu saldo armazenado, mesmo que esteja sendo mantido em prejuízo.

Uma mudança notável aconteceu nas tendências de acumulação em blockchain após a liquidação gerada por LUNA. Entidades com menos de 100 BTC parecem ter absorvido um volume equivalente de moedas àquele vendido pela Luna Foundation Guard.

Junto com uma maioria de holders a longo prazo, um volume cada vez maior de bitcoin parece estar sendo “HOLDado” e adquirido a preços mais baixos. Essa tendência, a menos que seja interrompida, pode impulsionar o fornecimento de holders a longo prazo acima de sua alta recorde nos próximos meses.

Ao prestar atenção no ambiente macro no qual o bitcoin está inserido, existem sinais de dissociação entre ativos digitais e ações. Ainda não se sabe a correlação vai voltar a acontecer, assim como a futura direção dos mercados em reação ao aperto monetário. No entanto, ainda existem enormes riscos, assim como a população de HODLers de bitcoin inabalados pelos baixos preços.

Sobre o autor

Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.