Na terça-feira (12), horas após a Coinbase publicar um artigo que revelava os tokens que poderiam ser listados em sua corretora, Jordan Fish, ex-gestor de produtos que utiliza o pseudônimo Cobie no Twitter, identificou uma carteira Ethereum que havia adquirido mais de US$ 400 mil nos tokens que constavam no artigo.
O problema é que o usuário que controla a carteira — a atividade de negociação que está publicamente visível na blockchain Ethereum — havia colocado os tokens em sua “sacola de compras” três minutos antes de a lista ter sido publicada.
O trader parece ter focado apenas em tokens sendo considerados para listagem na Coinbase, sugerindo um conhecimento avançado da lista antes de esta ser publicada. Isso pode caracterizar o crime de informação privilegiada (insider information, como a prática é conhecida em inglês).
Agora, os tokens adquiridos pela carteira valem mais de US$ 572 mil, resultando em um retorno sobre o investimento de 42% em menos de 24 horas.
Na terça-feira, a Coinbase não havia reconhecido a negociação incomum e possivelmente antiética em nenhuma de suas contas no Twitter nem respondido ao pedido por comentário do Decrypt.
Suspeita
O artigo da Coinbase no Medium, anunciando as novas listagens de tokens, foi publicado na segunda-feira (11) às 10h05 (horário de Brasília).
Na terça-feira, um pouco antes das 11h, Cobie havia identificado a carteira, que continha seis dos tokens mencionados no artigo da Coinbase antes de sua publicação.
Found an ETH address that bought hundreds of thousands of dollars of tokens exclusively featured in the Coinbase Asset Listing post about 24 hours before it was published, rofl pic.twitter.com/5QlVTjl0Jp
— Cobie (@cobie) April 12, 2022
“Encontrei um endereço ETH que comprou centenas de milhares de dólares de tokens exclusivamente mencionados na publicação de Listagem de Ativos da Coinbase cerca de 24 horas antes de ser publicado”, tuitou, incluindo uma captura de tela que mostrava grandes aquisições em indexed (NDX), kromatika (KROM), dappradar (RADAR), rac (RAC), dfx token (DFX) e paper (PAPER).
A carteira gastou US$ 88.942,48 comprando KROM, US$ 80.023,48 em DFX, US$ 72.299,45 em RADAR, US$ 70.635,74 em RAC, US$ 64.864,59 em NDX e US$ 27.309,96 em PAPER.
A mera consideração para listagem na corretora de criptomoedas Coinbase é suficiente para fazer o preço de um token disparar até 60% mesmo por um momento.
Desde a publicação do artigo da Coinbase, cada um desses tokens aumentou drasticamente. Na tarde de terça-feira, KROM subiu 40%; DFX, 42%; RADAR, 53%; RAC, 22%; NDX, 42%; e 63%, PAPER.
É importante reiterar que os tokens ainda não estão disponíveis na Coinbase e podem não ser listados. Neste momento, só estão sendo considerados para listagem.
A publicação alerta que usuários que tentarem acrescentar esses tokens à sua conta na Coinbase antes de uma listagem oficial podem sofrer uma perda permanente de fundos.
A similaridade com o escândalo antiético de negociação no OpenSea foi mencionada por um usuário no Twitter. Ele zombou que a Coinbase havia contratado Nate Chastain, o ex-líder de produtos do OpenSea, que havia renunciado após alegações de ter usado informações privilegiadas para se aproveitar de tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês) antes de as listagens estarem disponíveis.
Didnt realize OpenSea Nate had moved to Coinbase
— (K)rutches (@McDonaldsXBT) April 12, 2022
Em setembro, o OpenSea havia confirmado que um funcionário havia usado “carteiras descartáveis” e informações privilegiadas para se beneficiar com os NFTs antes de virarem coleções exclusivas no OpenSea.
Dois dias depois, Nate Chastain deixou a empresa e o OpenSea anunciou que havia contratado uma empresa externa para ajudar a revisar e recomendar mudanças às suas políticas para funcionários.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.