Imagem da matéria: Canadá quer impedir que caminhoneiros em protesto tenham acesso a criptomoedas
Foto: Shutterstock

As estratégias do governo do Canadá para conter os protestos antivacina que se espalham pelo país, chamaram atenção do meio cripto após o primeiro-ministro Justin Trudeau acionar a Lei de Emergências, que concede ao governo federal o poder de bloquear contas bancárias de manifestantes sem autorização do judiciário, inclusive de criptomoedas.

Chrystia Freeland, a vice-primeira-ministra do Canadá que também atua como ministra das Finanças, disse no seu discurso de segunda-feira (14) que o objetivo é impedir que os manifestantes, grupo formado principalmente por caminhoneiros, tenham acesso a doações de bitcoin.

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“Estamos anunciando as seguintes medidas imediatas: estamos aumentando o escopo da leis canadenses anti-lavagem de dinheiro e de financiamento ao terrorismo, para que elas cubram plataformas de crowdfunding e prestadores de serviços de pagamento que elas usam. Essas mudanças englobam todas as formas de transação, incluindo ativos digitais como criptomoedas”, disse Freeland em coletiva de imprensa.

A ministra acrescentou que os protestos ilegais deixaram claro que essas plataformas não seguem as regras já existentes no país para combater atividades ilegais. 

A partir desta semana, todas as plataformas de financiamento coletivo que operam na região, bem como os provedores de pagamentos que as utilizam, devem reportar transações “grandes e suspeitas” aos reguladores do Centro de Análise de Transações Financeiras do Canadá (Fintrac, na sigla em inglês).

“Estamos fazendo essas mudanças porque sabemos que essas plataformas estão sendo usadas para apoiar bloqueios e atividades ilegais que estão prejudicando a economia do Canadá”, concluiu a ministra.

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A medida emergencial tomada pelo governo do Canadá para tentar acabar com os bloqueios de estradas importantes para o comércio local, como a que faz ligação de Ontário com os EUA, foi rechaçada pela comunidade cripto. 

Alguns mais alarmistas, chegaram a divulgar que as criptomoedas estavam efetivamente banidas no Canadá, o que não é verdade. Na prática, a medida emergencial passou a englobar as plataformas de crowdfunding, inclusive aquelas que operam com criptomoedas, obrigações que já eram impostas a outras instituições financeiras do país.

Outros defensores do bitcoin como ferramenta de liberdade, livre do controle governamental, criticaram a medida autoritária do governo, como o diretor do Human Rights Foundation, Alex Gladstein, que escreveu:

“Um governo invocando poderes de emergência para agir contra a dissidência doméstica (e culpar influências estrangeiras, etc) e permitir a censura/confisco arbitrário, saiu direto do manual de um ditador. Para alguém deixar de ver isso é permitir a política cegá-los”.

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O tuíte de Gladstein foi rebatido pelo usuário Tim Abray no Twitter, que disse: “Você não pode ocupar uma cidade e pressionar por uma mudança antidemocrática de regime e chamar a si mesmo de protesto. Os princípios básicos da representação democrática não podem ser negociáveis. E dinheiro estrangeiro *está* envolvido. São fatos, não desculpas”.

O que está acontecendo no Canadá

No final de janeiro, surgiu na cidade de Ottawa o movimento “Freedom Convoy” ( “Comboio da Liberdade”), que começou protestando contra a obrigatoriedade de vacinação para caminhoneiros que entravam no Canadá a partir dos Estados Unidos.

Desde então, o movimento dos caminhoneiros ganhou força entre os canadenses contrários às restrições impostas para controlar a pandemia do Covid-19, levando o premiê Justin Trudeau a recorrer a Lei de Emergências. A lei foi criada em 1988 mas nunca havia sido acionada no país até então.

Na semana passada, os manifestantes começaram a usar criptomoedas para receber doações de apoiadores após as autoridades bloquearem mais de R$ 50 milhões que captaram por meio do crowdfunding tradicional na plataforma GoFundMe.

Em resposta ao bloqueio, BTC Sessions, um youtuber cripto da cidade de Calgary, começou um financiamento coletivo de apoio ao protesto usando a Tallycoin, uma plataforma de crowdfunding de bitcoin.

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Na última sexta-feira (11), os organizadores do “Freedom Convoy” já haviam arrecadado cerca de R$ 3,6 milhões em bitcoin de mais de 4,8 mil usuários.

Na lista de doadores estava Jesse Powell, CEO da corretora Kraken, que enviou 1 BTC à causa. “Conserte o dinheiro, conserte o mundo”, disse. “Mandatos são imorais. Acabem com essa loucura. Fon Fon!”.

Como o bitcoin é uma rede de pagamentos ponto a ponto, a moeda dificulta que governos impeçam pessoas de enviar dinheiro a determinadas causas. 

No entanto, o aumento na fiscalização do governo canadense instaurada essa semana sobre os provedores de pagamentos, responsáveis por fazer a ponte entre cripto e dinheiro fiduciário, promete deixar as ações dos caminhoneiros mais complicadas a partir de agora.