O PIX, ferramenta de pagamentos instantâneos já em desenvolvimento pelo Banco Central (BC), deve promover uma revolução no sistema financeiro brasileiro a partir de novembro. E seus desdobramentos podem ir além das facilidades potenciais aos clientes na hora de realizar transações.
Entre outros avanços, a primeira versão do PIX vai permitir transações entre pessoas, empresas e governo em até 10 segundos —24 horas por dia, durante os sete dias da semana. A facilidade se estenderá ainda ao pagamento de taxas federais, como as guias de emissão de passaportes.
O tempo para conclusão de cada operação deve levar no máximo 10 segundos, de acordo com o Banco Central. A expectativa, no entanto, é que transações corriqueiras sejam compensadas em um intervalo ainda menor, de apenas 2 segundos.
Atualizações futuras do sistema incluirão a realização de pagamentos por aproximação, cobrança de taxas e impostos públicos em geral, entre outras transações.
Vale lembrar que o Banco Central determinou a participação obrigatória no PIX de todas as instituições financeiras e de pagamentos que tenham mais de 500 mil contas ativas. Esse recorte engloba cerca de 30 instituições que representam mais de 90% das contas transacionadas ofertadas no Brasil.
A ideia da autoridade monetária nacional com tal medida é garantir que o mesmo sistema seja adotado por todos os atores relevantes no sistema financeiro brasileiro.
Oportunidade para fintechs
Essa padronização gerada pelo PIX está inserida na intenção do BC criar um ambiente mais aberto, competitivo e inovador no mercado brasileiro. Ou seja, quem melhor se adaptar a ele vai colher os melhores frutos.
A composição gerada tende a beneficiar as fintechs, que possuem formatos mais enxutos e adaptáveis a grandes mudanças tecnológicas. A chegada do modelo de pagamentos instantâneos deve facilitar o ingresso de novos atores no sistema, quebrando a concentração que ainda hoje prevalece no mercado.
“É uma grande oportunidade para as fintechs, que já nasceram digitais e tem uma visão mais voltada para o consumidor do que os grandes bancos, que foram desenhados com outro foco, no produto. E isso é difícil mudar, implica alteração de estruturas”, comenta Alexandre Pinto, diretor de novos negócios da Matera, empresa de tecnologia para o mercado financeiro.
Essa visão é compartilhada por Bruno Diniz, professor de fintechs da FGV (Fundação Getulio Vargas). “[O PIX] É um fomentador para fintechs que já estiverem inseridas nesse sistema de pagamentos, ofertando soluções. Pode ser uma via importante de entrada para novos atores”.
Autor do recém-lançado livro “O Fenômeno Fintech”, que resume as transformações geradas por essas empresas mundo afora, Diniz também crê que outros atores serão preponderantes para a popularização do PIX, além das instituições financeiras.
“Para os comerciantes o recurso chegará na hora. Até pelo próprio interesse deles, haverá um impulsionamento da utilização [do PIX]. E esse comerciante pode ajudar o consumidor a usar esse meio de pagamento”.
Vanguarda internacional e combate à corrupção
Para os especialistas ouvidos pela reportagem, a implementação dos pagamentos instantâneos coloca o Brasil no mesmo patamar de desenvolvimento de outras grandes economias mundiais.
“Acho que está em linha com vários países. O Brasil já tá seguindo um modelo com infraestrutura própria”, destaca Diniz.
Alexandre cita ainda que transferir dinheiro online, independente de horário, ainda é modelo raro ainda no mundo. “Mesmo em outros países as transferências online acontecem durante o dia. Eu diria que o Brasil está à frente de países como Estados Unidos, Canadá e outros na Europa”.
Outra expectativa é que o uso do PIX diminua progressivamente o emprego de meios físicos, como o papel-moeda e cartões de crédito em plástico, diminuindo os custos do sistema financeiro nacional.
Essa redução, segundo Alexandre, deve também colaborar para o combate a crimes financeiros em um longo prazo.
“Vamos caminhar para isso, o custo operacional vai diminuir. E se você elimina o dinheiro em papel também vai dificultar a vida da lavagem de dinheiro e de quem ganha dinheiro de forma ilícita. Além dos benefícios para a economia, enxergo um benefício muito relevante no combate à corrupção, à lavagem de dinheiro”.
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