O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, detalhou nesta sexta-feira (2) a sua visão sobre a estrutura que está sendo construída para o Real Digital. O executivo participou do seminário Valor Capital’s Workshop e ressaltou que “pagamentos digitais são apenas uma pequena parte” do que a entidade está construindo.
Campos Neto reconheceu que isso pode parecer contraintuitivo, já que maioria dos outros governos e bancos centrais desenvolvendo suas CBDCs estão focados em criar uma solução por meio de um sistema de pagamentos.
“Para pagamentos diários ou transfronteiriços nós já temos o Pix”, disse Roberto Campos Neto. O sistema pode ser usado para pagamentos ponto a ponto no Brasil e também fora do país, como acontece em Orlando (EUA) e no Uruguai.
O executivo disse que vê a entidade pública do Banco Central como um “facilitador” do sistema financeiro. E deixa claro que seu objetivo é construir um sistema mais eficiente (palavra que é repetida diversas vezes em sua palestra) e inclusivo.
No decorrer da conversa, ele fala sobre o “Open Finance”, que é a peça-chave do projeto. Um sistema financeiro “aberto” construído em um Banco de Dados Distribuído (DLT, na sigla em inglês) capaz de operar contratos inteligentes e se comunicar com outros sistemas financeiros no Brasil e no mundo.
O evento foi realizado na filial brasileira da Valor Capital, grupo de investimentos com sede em Nova York e escritório em São Paulo. Também participaram Fabio Araujo, líder do projeto do Real Digital no Banco Central, e Brian Brooks, sócio-administrador do Valor Capital, advogado, banqueiro e nomeado duas vezes por Donald Trump para o chefiar o Escritório do Controlador da Moeda (OCC, Office of the Comptroller of the Currency).
Insegurança e lentidão como empecilhos
O presidente do BC citou o fato de que a compra de um imóvel nos Estados Unidos pode demorar até dois meses com toda a burocracia envolvida para assegurar ambas as partes. E então garantiu que essa lentidão poderia ser resolvida em cinco minutos no sistema que ele e sua equipe estão construindo.
“Hoje quando você compra algo, você paga para outra pessoa. Isso é muito ineficiente, você não quer mais fazer isso. Você que pagar um contrato. Você quer que o contrato seja a unidade que vai gerar o negócio de forma automática. E o fato de que a lei pode reconhecer este contrato como legal, isso muda tudo”, afirmou Campos Neto.
O executivo ressaltou que na compra de um carro usado, nem vendedor e nem comprador se sentem confortáveis em dar o primeiro passo assinando o contrato antes de receber o dinheiro, ou fazendo o pagamento antes de ter o contrato assinado.
Segundo ele, o Open Finance em desenvolvimento pelo Banco Central do Brasil ajudará a soluciona estes problema. Criando um sistema financeiro focado, não em pagamentos, mas na tokenização de ativos e no uso de contratos inteligentes programáveis.
Aproximação com DeFi
Respondendo uma pergunta de Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex, Campos Neto afirma ser muito otimista com o Bitcoin, Ethereum, Solana e outras soluções de estruturas financeiras como a que ele quer construir com o Real Digital no Brasil.
Ele afirma que pretende aproximar o ecossistema de Finanças Descentralizadas (DeFi) de sua solução, ao invés de afastá-lo, como outros países estão fazendo. No painel, o Presidente do BC afirmou que “quanto mais você quer regular, mais você perde o controle sobre aquilo que precisa ser regulado”.
Campos Neto afirma que, ao contrário de excluir estes sistemas inovadores que estão surgindo através da tecnologia, o Banco Central do Brasil quer se aproximar deles e ser capaz de se conectar com cada um deles. Nesse momento, Brian Brooks brincou: “Aquela história de ter seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda”.
No entanto, o Campos Neto não concorda e explica: “Nós já temos a tecnologia para ligar diversos sistema distribuídos, como a Hyperledger. Nosso maior objetivo agora é conectar todos os sistemas que temos disponíveis.”
O chefe do BC compartilhou sua visão de brasileiros utilizarem a CBDC do Real para comprar ativos descentralizados em DeFi, ou comprar ativos tokenizados de bancos ou do próprio governo.
Novamente Brian Brooks entrou no debate e demonstrou preocupação sobre o objetivo de tokenizar ativos. Ele questionou se o Banco Central do Brasil pretende competir com outros ativos reais que já existem nos EUA, no mundo e também em DeFi.
“Nós queremos agregar, não competir, conseguindo interconectar todos esses sistemas, inclusive trazendo o DeFi mais perto de nós.”
Roberto Campos Neto, Presidente do Banco Central
Roberto Campos Neto também explica que, se as autoridades e governos mundiais já houvessem conseguido este feito, poderiam “ter evitado problemas que ocorreram no mercado de criptomoedas nestes anos, principalmente os relacionados com custódia”.
Além disso, ele disse que todos aqueles que estiverem desenvolvendo sistemas não-programáveis, provavelmente serão deixados de fora deste movimento global atual: “Eu acho muito difícil acreditar que alguém investiria muito dinheiro em um sistema que não é programável, pois ficará de fora do DeFi e de toda inovação tecnológica”.
O Presidente do Banco Central olha para o futuro que pode ser construído com as decisões no presente.
“Nosso trabalho é construir um sistema financeiro hoje, que será utilizado amanhã”.
E acredita que os próximos passos do “Open Finance” e do Real Digital — que ainda não tem um nome definido por falta de unanimidade e de um “clique” entre a equipe, segundo o executivo — possibilitará um sistema bancário mais competitivo e com melhores condições de depósitos de garantias e solução de outras ineficiências presentes no sistema atual.
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