O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Xavier, reviveu a história da criptomoeda indígena para atacar a gestão anterior, como uma resposta às críticas que vem recebendo pela falta de esforços da entidade nas buscas do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, desaparecidos no Vale do Javari (AM).
Em carta publicada na segunda-feira (13), Xavier afirma que a Funai tem “trabalhado intensamente” nas buscas na região e que realiza ações contínuas de monitoramento, fiscalização e vigilância territorial na Terra Indígena Vale do Javari.
Apesar dos supostos esforços, o presidente da Funai afirma que a região enfrenta uma série de problemas crônicos, que supostamente seriam uma herança deixada por gestões anteriores. Entre os fracassos do passado, ele cita a criptomoeda do índio, um projeto da gestão de Michel Temer que nunca saiu do papel.
“O que havia era malversação dos recursos, que nunca eram aplicados da forma adequada, vide o caso da criação de uma criptomoeda indígena, cujo contrato foi cancelado na nossa gestão e que, se fosse adiante, causaria um prejuízo de R$ 45 milhões aos cofres públicos”, escreveu Xavier.
Além do presidente da Funai, a história da criptomoeda indígena é usada com frequência pelo presidente Jair Bolsonaro, eleito em 2018 com a defesa de pautas anti-povos originários.
Após a carta e outras declarações polêmicas que o presidente da Funai deu ao longo da semana passada — como a de que a dupla desaparecida deveria ter pedido autorização do governo para entrar no Vale do Javari — a Associação de Servidores da Funai (INA) pediu a saída de Xavier da presidência do órgão.
Já servidores da Funai do Distrito Federal e de Santa Catarina farão uma paralisação de 24 horas, a partir desta terça (14), em sinal de protesto às falas de Marcelo Xavier.
Criptomoeda da Funai
A criptomoeda indígena que o presidente da Funai faz referência em sua carta é um projeto do final de 2018, época em que Michel Temer (MDB) estava na presidência, em que o órgão firmou um contrato de R$ 44 milhões com a Universidade Federal Fluminense (UFF) que previa, entre outras medidas, a criação de uma criptomoeda dos povos indígenas.
O dinheiro seria usado para financiar outros 16 serviços, entre eles um mapeamento funcional e criação de um banco de dados das terras indígenas.
Em janeiro de 2019, a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) já havia barrado a licitação e em setembro de 2020, a Funai deu fim definitivo à parceria.
O caso tomou grandes proporções na primeira semana de Bolsonaro na presidência e representou a primeira vez que o político fez uma menção ao universo das criptomoedas.
Na época, Bolsonaro acabou confundindo o bitcoin com o projeto da Funai, ao elogiar a atuação de Damares. O bitcoin, na verdade, não tinha qualquer relação com o contrato.
Poucas semanas antes da gafe, o filho do presidente, Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), tinha cometido o mesmo erro ao tuitar: “Ministra Damares Alves bloqueia dezenas de milhões em bitcoins destinados para órgãos governamentais ligados à Funai no RJ”.