Por que usuários da Venezuela ficaram sem acesso à MetaMask

Infura afirma ter acidentalmente alterado demais suas configurações após venezuelanos reclamarem de estarem bloqueados de acessar a plataforma
metamask

Foto: Shutterstock

Na quinta-feira (3), usuários venezuelanos de dois grandes produtos de software da Consensys, MetaMask e Infura, descobriram estarem sem acesso à rede Ethereum conforme muitos informaram que o acesso às suas carteiras estava bloqueado.

Mas o bloqueio não era para eles, e sim o resultado do acréscimo de endereços de protocolo de internet (ou IP, na sigla em inglês) de Donetsk e Luhansk, duas regiões separatistas na Ucrânia.

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A Infura, que hospeda nós da Ethereum e opera infraestrutura blockchain em nome de empresas, afirma que o problema foi acidental e foi resolvido.

A empresa explica que houve uma redefinição de configurações involuntária que foi “mais abrangente do que deveria ser” para cumprir com “novas diretivas de sanções”.

Um porta-voz da ConsenSys forneceu mais detalhes ao Decrypt:

A Infura monitora atentamente mudanças aos programas de sanções americanos anunciados pelo Gabinete de Controle de Ativos Estrangeiros (ou OFAC, na sigla em inglês) e adequa minuciosamente seus controles internos para cumprir com a lei.

Atualmente, essas regiões são Irã, Coreia do Norte, Cuba, Síria, bem como as regiões ucranianas da Crimeia, Donetsk e Luhansk. O cumprimento com a lei pela Infura é necessário e não necessariamente reflete as opiniões do serviço sobre qualquer questão de política pública”.

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A Rússia não foi mencionada, mas a ConsenSys confirmou que a Infura está bloqueando o acesso a todos os endereços de IP nas três regiões ucranianas mencionadas.

Reconfiguração da Metamask

A MetaMask tuitou que a reconfiguração da Infura resultou em um efeito dominó para usuários de carteira, mas que usuários não foram bloqueados.

“A MetaMask depende da Infura como um terminal padrão, mas essa configuração pode ser modificada por usuários caso necessário ou se houver interrupções no serviço”, tuitou.

Uma página de suporte da MetaMask, intitulada “Por que MetaMask e Infura não atendem regiões específicas”, afirmava que “a MetaMask e Infura estão indisponíveis em certas jurisdições devido à conformidade com leis”.

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A publicação foi atualizada na quinta-feira (3) e não menciona mais a MetaMask no título. Agora, afirma: “Por padrão, a MetaMask acessa a blockchain via Infura, que está indisponível em jurisdições específicas por conta de conformidades jurídicas”.

Os EUA, a União Europeia e outras jurisdições implementaram rigorosas sanções contra a Rússia após sua invasão em grande escala à Ucrânia.

Além de congelar centenas de bilhões de dólares em reservas estrangeiras e romper ligações de bancos russos à rede de comunicações SWIFT, países ocidentais também implementaram restrições a empresas estatais, funcionários do governo e oligarcas.

Sanções americanas se aplicam a empresas que operam nos EUA, incluindo a ConsenSys e seus produtos, para garantir que nenhum ativo chegue até empresas, pessoas ou governos proibidos.

Mas transações com criptomoedas entre cidadãos privados não deveriam ser diretamente afetadas, pois as sanções são específicas.

Assim, todo o bloqueio de “jurisdições específicas” pela Infura gerou receios de que a ConsenSys tenha restringido o acesso de pessoas inocentes em uma tentativa de obedecer a diretivas governamentais.

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Observadores do Ethereum sempre reclamaram que o projeto, estimado em apoiar grande parte do tráfego em aplicações do Ethereum, já é muito centralizado – apesar de ter adversários, como o Alchemy.

Talvez não seja coincidência que o governo e o setor bancário venezuelano também recebem sanções dos EUA, apesar de cidadãos venezuelanos não serem um alvo dessas diretivas.

*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.