O crash de 34% no Bitcoin entre 18 e 19 de maio certamente irá ficar na lembrança da “nova geração”. Isso porque muitos investidores, especialmente os profissionais, nunca haviam experimentado isso. Uma coisa é olhar o gráfico histórico, outra é ver seu investimento cair 50% em uma semana.
Pense nos fundos de investimento, empresas, além do povo que entrou via ETF ou fundos da Grayscale. Para piorar a situação, o Grayscale BTC ($GBTC) estava negociando com um desconto recorde para o Bitcoin contido no fundo, ou seja, quem precisou sair perdeu outros 17%.
Qual o racional de quem vendeu nos US$ 30 mil?
De fato, ninguém espera uma queda de 40% na semana para definir uma estratégia e desmontar a posição. Quando se trata de fundos de investimento, isso é definido antes mesmo de montar a posição. Óbvio que há alguns holders nessa nova leva, porém essa é a minoria.
O mais provável é que assim como os traders que estavam alavancados em contratos futuros e foram liquidados, esses hedge funds e investidores de ETFs atingiram seu próprio stop loss, por conta do perfil de risco da gestora ou do fundo.
Quem comprou na queda?
Quem tinha posição em stablecoin parado em exchange, simples. Em momentos de grande volatilidade é muito difícil enviar dinheiro fiat para realizar compras, especialmente nos EUA e Europa, onde o sistema bancário é atrasado.
Por isso, é seguro afirmar que foram whales e arbitradores que tradicionalmente trabalham com uma boa “gordura” depositada nas exchanges para aproveitar distorções de mercado.
Cabe lembrar que os contratos futuros de Ethereum (ETH), Litecoin (LTC), Polkadot (DOT) e SushiSwap (SUSHI) chegaram a negociar 15% abaixo do valor nos mercados à vista. O próprio Bitcoin fez mínima de US$ 28 mil em diversas exchanges de derivativos.
Esse movimento é bom para o mercado?
Sim. As moedas saíram das mãos de traders alavancados e fundos de investimento que não entenderam a dinâmica do mercado para holders de longo prazo, capazes de sustentar novas quedas de 30% ou mais.
Desapareceram o prêmio no contrato futuro, de 25% ao ano (bybt, “BTC funding rates history”), além da taxa de carrego no contrato perpétuo, que ultrapassava 20% ao mês (skew, “futures annualized basis”). Em suma, os mercados estavam operando com anabolizantes, mas agora tudo se normalizou.
Podemos entrar numa onda de pessimismo, óbvio, mas parece improvável, dado que imóveis e ações de empresas estão na máxima histórica. A injeção de capital através de estímulos e juros baixos traz um incentivo gigantesco para ativos escassos.
Em suma, oscilações bruscas fazem parte do mercado cripto, que além de incipiente, possui poucos participantes. Essa limpa traz espaço para buscar patamares ainda mais altos e prova a resiliência do Bitcoin.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017, faz arbitragem e trading de criptomoedas.