Tokens não fungíveis (ou NFTs, na sigla em inglês) são ativos digitais exclusivos que existem como um registro permanente em uma blockchain. Porém, se você acha que isso significa que são estáticos e imutáveis, é aí que você se engana.
Na verdade, existe toda uma variedade de NFTs “vivos”. Também chamados de NFTs dinâmicos, esses tokens se transformam e mudam ao longo do tempo, de acordo com os recursos programáveis codificados por seus desenvolvedores.
“Um NFT vivo tem tudo a ver com dinamismo — contrário a um projeto normal de fotos de perfil (ou PFP), como CryptoPunks, que continua estático”, explicou Alexander Guy, líder de marketing e crescimento na Zerion, ao Decrypt. “NFTs vivos oferecem formas empolgantes para que holders liguem seu comportamento e ações na blockchain — e na vida real — com os NFTs que colecionam.”
Então como um NFT dinâmico se difere de um NFT comum? Basicamente, os metadados de um NFT dinâmico pode mudar com base em condições variáveis, que incluem a passagem do tempo, interação com outros NFTs ou — mais comumente — dados externos, incluindo informações obtidas de fontes que monitoram dados do mundo real, como turbinas de vento ou o resultado em tempo real de esportes.
NFTs vivos conseguem tudo isso ao usar contratos autônomos para incorporar esses fatores nos metadados de um NFT. Por exemplo, o chapéu usado por uma PFP pode mudar dependendo do clima na França, ou a expressão no rosto de uma estrela do esporte pode depender do resultado do jogo mais recente de seu time.
A empresa de Guy, a gestora de portfólio de Finanças Descentralizadas (ou DeFi), lançou seus próprios NFTs dinâmicos usando “Zerion DNA”, que mudam com base em dados obtidos de ações feitas em blockchain pela carteira web da Zerion. “Assim, a raridade não é uma função de atributos aleatórios, e sim de ações feitas por holders”, explica Guy.
Apesar de cada um dos NFTs vivos da Zerion ser raro, a empresa é apenas uma dentre várias a ter lançado NFTs dinâmicos.
NFTs que se transformam
Um dos primeiros NFTs que mudam de forma foi criado pelo artista digital Mike Winkelmann, cujo nome artístico é Beeple.
No fim de 2020, antes da eleição presidencial dos EUA, Beeple criou a arte NFT Crossroad, que mudou de aparência com base no resultado da disputa.
Se o ex-presidente, Donald Trump, perdesse de Joe Biden nas urnas, Beeple poderia mudar um botão e fizesse o NFT mostrar uma animação do corpo inchado de Trump apodrecendo em um parque. Se Trump conseguisse um segundo mandato, o NFT iria mostrar um vídeo de Trump correndo por um cenário infernal como se fosse o Godzilla.
É claro que Biden ganhou de Trump — como demonstra o atual estado do NFT. Mas Beeple vendeu seu NFT antes disso acontecer. Seu “pitch” aos compradores era que, apesar de não terem ideia de qual NFT iriam comprar, iria codificar uma parte da História para todo o sempre.
Um comprador claramente ficou inspirado. Após Beeple ter vendido Crossroad por US$ 66 mil, o NFT foi revendido por um recorde de US$ 6,6 milhões.
Embora isso claramente tenha gerado suspeitas na eṕoca, o NFT vivo de Beeple só havia sugerido as possibilidades de NFTs mudarem sua aparência. Usando contratos autônomos programáveis, desenvolvedores podem programar NFTs para se atualizarem de forma autônoma com base em qualquer coisa que conseguirem programar.
Crescimento e evolução
Um exemplo é “Organic Growth: Crystal Reef”, um projeto de arte generativa de Daniel Krivoruchko, Michael Joo e Snark.art, composto por 10.301 cristais em 3D emitidos em outubro de 2021.
Ao longo do tempo, esses cristais vão se tornar obras de arte coletivas. No futuro, os cristais coletivos vão se transformar em uma escultura física e levada a museus e galerias no mundo inteiro para qualquer um que esteja interessado em vê-la.
A ideia é que criadores pudessem comprar um “seed crystal” que, alguns dias depois, transformaria-se em um OG:Crystal único. Esse cristal iria refletir o dono: Os algoritmos do contrato autônomo iriam gerar seus contornos com base no histórico e identificação de cada carteira — holders de um CryptoPunk, por exemplo, tinham a chance de acrescentar uma forma especial ao seu cristal.
⚡️ We believe that Dynamic #NFT is a milestone moment in #digitalart. We are excited to collaborate and to give artists the space and tools to develop highly engaging and innovative forms of art. Together we’ll push the boundaries of #blockchain technology as an artistic medium.
— OG.Art (@ogdotart) July 15, 2022
Durante três meses após a data da primeira venda, um algoritmo acrescentou novas partes ao cristal toda vez em que este era revendido. Depois, o cristal “bloqueou” sua forma para que os artistas pudessem acrescentá-lo à escultura.
Os cristais foram tão lucrativos como o NFT “Crossroads” de Beeple? Não! O preço mínimo de um cristal, em julho de 2022, é de apenas 0,06 ETH (cerca de US$ 95). Mas a arte nem sempre tem a ver com dinheiro, não é?
Pontos de dados sociais
NFTs vivos não precisam estar em um vácuo, onde a passagem de tempo é o aspecto principal que afeta sua mutação — também podem obter o dado da vida pessoal de uma pessoa. Em 2021, o Playground Studio lançou um conjunto de NFTs colecionáveis de LaMelo Ball, o estreante do ano da Liga Nacional de Basquete dos EUA (ou NBA) de 2021.
Os NFTs acumulavam pontos de acordo com dados sobre seu desempenho obtidos dos feeds de dados de esportes da Chainlink. Um holder poderia escolher ganhar “Silver Moons” toda vez em que o jogador do time Charlotte Hornets conseguia fazer uma cesta ou “Blue Neptune” toda vez em que LaMelo roubasse a bola de um oponente. Se os limites forem atingidos, um avatar NFT poderia se transformar.
Esse tipo de abordagem oferece uma nova forma de tratar colecionáveis digitais, explicou Guy. “No mundo real, se você coleciona cards de basquete ou arte, a única forma de expandir sua coleção é comprando mais. NFTs vivos oferecem a capacidade de ter uma coleção que evolui ao longo do tempo.”
Onde LaMelo ia, a NBA seguia. Em 2022, a liga lançou sua própria coleção de NFTs, “The Association”. Cada NFT representa um jogador de um dos 16 times participantes.
Ao longo das eliminatórias, o NFT muda de aparência com base no desempenho do jogador, em que enterradas, bloqueios, uma cesta de três pontos, rebotes ou assistências fazem a imagem do jogador mudar enquanto o desempenho do time afeta o fundo e a moldura do NFT.
INTRODUCING THE ASSOCIATION NFT: https://t.co/S7iinI4CDt pic.twitter.com/r1XVJRppKy
— NBAxNFT (@NBAxNFT) April 19, 2022
Os NFTs vivos de Pearproof, lançados em 2022 com o apoio do fundador do Reddit, Alexis Ohanian, e o bilionário Mark Cuban, permitem que criadores emitam NFTs via publicações em suas redes sociais.
Esses NFTs, que existem no Solana, são dinâmicos, pois melhoram de classificação se a publicação viralizar, adquirindo dados de metadados Web2, como comentários, compartilhamentos e curtidas. Cada nível, que variam entre prata, ouro e platina, concedem a holders diferentes benefícios, como canais privados no Discord.
Em ambos os exemplos, o que está “vivo” não é apenas o NFT, e sim a coisa que resgata dados, seja de uma estrela da NBA que está vivendo seu sonho na quadra ou a publicação na rede social de um blogueiro.
Ao falar sobre como o valor dos NFTs vivos se relaciona às comunidades, Guy explicou: “Desenvolvedores e DAOs [organizações autônomas descentralizadas] podem alavancar essa inovação para criar comunidades reservadas, benefícios ultraexclusivos e oportunidades exclusivas de jogabilidade”.
Dessa forma, o futuro dos NFTs dinâmicos parecem extremamente conectado à fonte que lhe fornece os dados. É claro que isso também cria um possível ponto de falha, caso o ponto de dados de um NFT vivo venha a… morrer.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.
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