Quando se pretende colocar de pé uma DAO (Organização Autônoma Descentralizada, na sigla em inglês), é importante desapegar rapidamente de purismos e focar na solução de problemas práticos. A receita foi passada nesta terça-feira (13) por Robson Harada, CMGO do Mercado Bitcoin e cofundador da ALMA, uma DAO para conectar líderes e pessoas, durante debate no evento Non Fungible Conference (NFC), que acontece em São Paulo.
Harada apontou que é um ponto “inerente” da DAO começar centralizada e, como um plano bem definido, ir seguindo para o polo oposto, o da descentralização.
“Você tem que conseguir criar grupos de trabalho que tenham autonomia para tomada de decisão. Criar um grupo de trabalho coeso, de forma centralizada, ter um plano de descentralização e seguir esse plano. Depois disso você tem que conseguir conectar as pessoas dentro de guildas [áreas, no jargão] separadas que trabalhem de maneira organizada num objetivo comum, de maneira centralizada ainda, e aí caminhar para a descentralização”, afirma Harada.
O executivo ressalta que é importante “tirar a poesia” da equação. Isso siginfica ter uma atitude mais pragmática e menos dogmática, entendendo que o conceito de descentralização completa e total é difícil e ainda não está claro se e como poderá ser feito.
“Para qualquer coisa você pode aplicar o modelo. Estava falando no MB outro dia: não necessariamente a gente precisa virar uma DAO, mas podemos pegar uma área. Por exemplo, a área de benefícios do RH, e fazer votação entre os funcionários. Não precisa deixar muito complexo”, apontou.
Esse ponto de vista mais pragmático foi reforçado por Felipe Cabral, Senior Product Manager do Mercado Bitcoin e participante ativo de algumas DAOs. O executivo lembrou que a primeira entidade desse tipo, chamada de The DAO, ruiu justamente pela demora de tomada de ação diante de um problema.
“A The Dao caiu por conta da fragilidade no aspecto de falta de agilidade na tomada de decisão. Tinha uma vulnerabilidade, para eleger mudanças no protocolo, tinha que ter um processo de consenso, uma votação. Esse processo é demorado e no fim ela morreu, explodiu, deu tudo errado, por conta dessa fragilidade. Para alguns contextos a gente deveria adotar outras medidas que não a de consenso. Temos que pensar de outra forma a solução desse problema”, disse Cabral.
Completando o debate estava Simone Sancho, cofundadora da uma DAO chamada EVE. Para ela, é importante todos os envolvidos terem claro quais são os princípios norteadores, pois o restante (tecnologia, método de condução, nível de descentralização) são pontos ajustáveis.
“A tese faz muito sentido, mas claro que ainda não é 100% descentralizado, os desafios são inúmeros e gigantes. Para mim, é preciso estar disruptando, aprendendo ao mesmo tempo, e criando a mecânica para aquilo se relacionar com algo que você sabia a vida inteira”, disse Sancho.
Non Fungible Conference (NFC)
A cidade de São Paulo sediou entre segunda-feira (12) e terça-feira (13) a Non Fungible Conference (NFC), evento que apresentou uma série de palestras sobre alguns dos temas mais inovadores do universo cripto, como os NFTs, redes blockchain, wallets, jogos cripto, play-to-earn, fan tokens e segurança digital.
No total, a NFC trouxe mais de 17 horas de conteúdo. Também houve exposições, áreas para networking, painéis de discussão e um Lounge Vip. A conferência foi organizada em parceria pela Sherwa e Dux Crypto e aconteceu no prédio da Unibes Cultural.