O banco digital Revolut — maior fintech da Europa, com 28 milhões de clientes ao redor do mundo — lança oficialmente sua operação no Brasil nesta terça-feira (02). Embora já esteja presente em mais de 35 países, trata-se da primeira unidade da empresa na América Latina.
Operando através de um aplicativo, a empresa traz uma série de serviços que incluem uma conta digital única para serviços de câmbio e remessa de dinheiro em 27 moedas fiat, além de um cartão – de débito ou pré-pago – aceito em 150 países.
Segundo a Revolut, as operações de câmbio podem ser realizadas inclusive aos finais de semana, com taxas que variam entre 1% e 2%. De acordo com a empresa, trata-se de um diferencial frente ao mercado, focado em dólares e euros, em diferentes contas, com transações realizadas principalmente durante o horário comercial.
No entanto, alguns dos serviços disponíveis na Revolut no exterior ainda não estarão inicialmente abertos no Brasil, como cartões de crédito, parcerias com outras empresas – como o Airbnb – e produtos financeiros de prateleira. A ideia é ir incorporando esses serviços ao longo do tempo, conforme a adaptação regulatória e a percepção sobre as demandas dos clientes nacionais.
Também, ao contrário do exterior, onde adota o modelo “fremium”, a empresa não terá diferentes planos, com cobranças feitas com base no pacote de serviços oferecido. O uso do aplicativo e da conta será gratuito para todos os clientes brasileiros, com a empresa faturando a partir de taxas cobradas em algumas operações, como o próprio câmbio.
A partir de hoje, diariamente os clientes que já estavam na lista de espera para uso do aplicativo do Brasil serão convidados a se inscrever e criar suas contas digitais, em um processo de implementação por fases. Novos entrantes poderão continuar a se inscrever na lista até serem chamados.
A companhia não revela o tamanho da fila de espera nem fala em metas de número de clientes, mas garante que a fila possui tamanho suficiente para dar “bastante trabalho por um bom tempo”, segundo executivos envolvidos com a operação.
Nikolay “Nik” Storonsky, empreendedor inglês de origem russa que é cofundador da Revolut, vai falar sobre os planos da empresa nesta quarta durante sua participação no Web Summit Rio, evento que acontece durante esta semana na capital fluminense. Ele terá a companhia de Vladyslav “Vlad” Yatsenko, o outro cofundador.
Em comunicado, Storonsky afirmou que “O Brasil é um mercado empolgante para a Revolut e possui um enorme potencial para nossa expansão global. Nossa missão é abrir uma economia sem fronteiras com produtos financeiros acessíveis e fáceis de usar e que permitam aos nossos clientes usar seu dinheiro com eficiência. Começaremos com a conta global e os investimentos em cripto, mas isso é apenas o começo”.
Revolut e as criptomoedas
Na área de criptomoedas, a Revolut já dá a largada com a oferta de 90 tokens na plataforma, inclusive os mais negociados do mercado, como os líderes Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH). Além da negociação tradicional, também será possível realizar operações mais sofisticadas na plataforma, como ordens programadas a partir de limites de preços de compra e venda dos ativos e compras recorrentes.
Se por um lado a variedade de tokens e ordens é grande, por outro haverá limitações. A exemplo de outras empresas como Magalu, Nubank e BTG, não será possível realizar o saque e a transferência dos tokens para carteiras externas – ou seja, o usuário não poderá realizar a autocustódia de suas criptomoedas, pelo menos em um primeiro momento.
A exemplo dessas companhias, a Revolut ainda mantêm como como parceira de pagamentos a Paxos, ao lado de uma série de outras empresas – embora tenham existido rumores no ano passado que ela pudesse trocar a empresa inteiramente pela Apex Crypto.
Em entrevista ao Portal do Bitcoin em março, Arnoldo Reyes, diretor para América Latina da Paxos, afirmou que o não fornecimento do saque é uma escolha das companhias, já que a infraestrutura montada pela Paxos suportaria essas operações. “Nós podemos prover nossa própria liquidez. Temos nossa corretora, nossa custodiante. (…) A tecnologia está lá”, destacou.
Além da questão da custódia, a Revolut também não irá oferecer stablecoins e outros serviços ligados a criptoativos, como o staking. A empresa diz que planeja reduzir esses limites ao longo do tempo.
Um ponto que a Revolut destaca na oferta de criptomoedas é a questão educacional dos usuários. Além de vários feeds de notícias sobre os tokens negociados na plataforma, também serão disponibilizados quatro cursos sobre os criptoativos. Quem acertar todas as questões será recompensado: irá ganhar o total equivalente a cerca de R$ 20 na criptomoeda Polkadot (DOT).
Revolut no Brasil
A empresa já vinha se preparando desde o ano passado para operar no país, com a formação de uma equipe local – cerca de 50 pessoas no país e outras 50 no exterior – liderada pelo CEO Glauber Mota (ex-BTG Pactual) a partir de um escritório na Faria Lima, centro financeiro da capital paulista.
Segundo a companhia, o Brasil é um mercado estratégico por combinar grandes volumes financeiros, uma adoção crescente de serviços digitais, além de um mercado de pequenas e médias empresas (PMEs) que ela considera como pouco atendido.
“Há muito apetite por Revolut e serviços bancários digitais no Brasil. Pesquisas recentes mostram que mais de 45% dos brasileiros já usam contas digitais como conta principal e utilizam mais de cinco aplicativos diferentes para gerenciar pagamentos, transferências e investimentos”, explica Mota.
A Revolut diz que o total que os brasileiros gastaram no exterior mais que dobrou em 2022, chegando a US$ 12 bilhões. Além disso, o banco vê uma demanda crescente por acesso a criptoativos, com mais de 10 milhões de investidores individuais no Brasil. “A Revolut vai oferecer aos brasileiros um app que atende todas essas necessidades em um só lugar”, afirma ele.
Para isso, haverá adaptações na operação para cumprir a ambição de ser um banco global com serviços locais. Entre elas estão a possibilidade do uso de PIX para abastecer a conta digital.
Outras apostas para crescer no mercado brasileiro são as transferências instantâneas P2P para qualquer outra conta na empresa, seja no Brasil ou no exterior, e um sistema para “rachar” por via digital o pagamento de contas em estabelecimentos comerciais – dando fim ao famoso ato de “passar a maquininha” em vários cartões em bares e restaurantes, por exemplo.
Os executivos da companhia admite mque a existência de concorrentes estabelecidos – tal como o Nubank e uma série de bancos digitais consolidados no mercado – torna alto o custo de aquisição de clientes no Brasil.
A aposta, no entanto, será menos em mídia e mais na experiência do cliente dentro do app. “Preferimos investir mais na remuneração do próprio cliente com produtos e serviços. Queremos que o próprio cliente seja o evangelista da marca”, explica Felipe Lachowski, diretor de operações da Revolut.
História da Revolut
A Revolut foi criada Reino Unido em 2015, focada inicialmente em dinheiro e câmbio, antes de entrar em segmentos como as criptomoedas, onde atua desde 2017.
A empresa diz que realiza mais de 330 milhões de transações por mês e é considerada a fintech mais valiosa da Europa, sendo avaliada em US$ 33 bilhões após uma rodada de investimentos realizada em 2021, onde recebeu aportes de fundos de gestoras como o SoftBank e a Tiger Global.
A receita da companhia vem dando saltos: segundo números divulgados em fevereiro deste ano, a receita saltou de 220 milhões de libras esterlinas em 2020 para 850 milhões de libras esterlinas – cerca de US$ 1 bilhão – no ano passado.
Curiosamente, no entanto, a Revolut ainda não possui licença para operar como um banco completo, com operações de crédito e investimento, na própria Inglaterra, embora tenha a autorização dos demais países da União Europeia.
A companhia atribui a dificuldade ao Brexit; segundo reportagens da imprensa britânica, a expectativa é que licença seja concedida nos próximos meses.
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