Estamos no Bear Market do Bitcoin? O que diz o estudo da Glassnode

Conforme o preço do bitcoin cai pela metade desde o topo histórico, o mercado presencia uma intensa onda de prejuízo sendo realizado. Com métricas on-chain, a Glassnode avalia o prejuízo e define a probabilidade de Bear Market ganhar mais força
Imagem da matéria: Estamos no Bear Market do Bitcoin? O que diz o estudo da Glassnode

Foto: Shutterstock

O Bitcoin (BTC) teve outra semana desafiadora conforme preços caíram da abertura semanal de US$ 43.413 para uma nova baixa local de US$ 34.407. A queda total desde a alta recorde registrada em novembro de 2021 é de 49,9%.

Junto com os preços em queda, investidores realizaram um prejuízo de mais de US$ 2,5 bilhões na blockchain na última semana.

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Grande parte dessas perdas são atribuídas aos holders de curto prazo que parecem estar aproveitando cada oportunidade para recuperar seu dinheiro.

No relatório desta semana, a Glassnode avalia o prejuízo e define a probabilidade de mercado de baixa prolongado se formar.

Definir um mercado de baixa para o bitcoin não é uma tarefa fácil e, nesta edição, tentamos acrescentar detalhes ao debate usando como referência o comportamento histórico de investidores e padrões de rentabilidade.

Preço do bitcoin na quarta semana do ano
Preço do bitcoin na quarta semana do ano (Imagem: Glassnode)

Dimensionando um “urso”

No ponto mais baixo da semana, o preço do bitcoin estava próximo de ser cortado pela metade desde o topo histórico de novembro passado, atingindo uma queda de 49,9% desde então.

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Agora, esta é a segunda maior liquidação desde o mercado de baixa de 2018, ofuscado apenas por julho de 2021, quando o mercado caiu 54% das altas recordes registradas em abril.

Conforme os “touros” agora estão na defensiva, uma queda tão pesada provavelmente mudará as percepções e o sentimento de investidores em escala macro.

Quedas dessa magnitude são definitivamente maiores do que a faixa entre -20% e -40% registrada nas correções de ciclo de alta em 2017 e entre 2020 e 2021.

Queda de preço desde a alta recorde do bitcoin
Queda de preço desde a alta recorde do bitcoin (Imagem: Glassnode)

A métrica de Lucro/Prejuízo Líquido não Realizado (ou NUPL, na sigla em inglês) apresenta a lucratividade total do mercado como uma proporção do valor de mercado.

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Atualmente, o NUPL está sendo negociado em 0,325, indicando que o equivalente a 32,5% da capitalização de mercado do bitcoin está mantida a um lucro não realizado.

Isso é um contraste drástico a valores de rentabilidade muito maiores: cerca de 0,75 registrados em março de 2021 e 0,68 em outubro. Há uma série de indicações a partir disso:

– considerando ciclos anteriores, essa baixa lucratividade é típica entre a fase inicial e a fase média de um mercado de baixa (cor laranja). Com base nessa afirmação, alguém pode argumentar que um mercado de baixa começou em maio de 2021;

– diferente dos mercados de alta em 2013 e 2017, a lucratividade agregada da rede realmente caiu entre as altas recordes registradas entre março e abril, bem como entre outubro e novembro. Isso é resultado de moedas sendo distribuídas durante as altas, aumentando o custo de base total do mercado e, assim, criando uma divergência de baixa desse indicador.

Lucro/Prejuízo Líquido não Realizado do bitcoin
Lucro/Prejuízo Líquido não Realizado do bitcoin (Imagem: Glassnode)

Outra medida de lucratividade da rede é a proporção de valor de mercado/valor realizado (MVRV), apresentada abaixo de um score Z, rastreando desvios-padrão distantes da média a longo prazo.

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A proporção MVRV é calculada como a capitalização de mercado dividida pela capitalização realizada e é uma ferramenta útil para identificar períodos de alta ou baixa lucratividade para investidores.

Com um score Z de 0,85 para a MVRV, o mercado está em um território visitado durante mercados de baixa e pode-se notar uma divergência de baixa, parecida com a métrica NUPL acima. Em termos gerais, valores baixos de Z para a MVRV são atingidos nos seguintes casos:

drásticas correções em mercados de alta (setas azuis) que, geralmente, são seguidas por uma reversão a novas altas;

início de mercados de baixa após grandes altas (setas cor de rosa) conforme o mercado entra em pânico, investidores capitulam — ou seja, desistem de quaisquer ganhos, vendendo suas posições durante períodos de declínio — e, geralmente, esse evento precede de uma forte recuperação;

mercados de baixa da metade para o final (caixas vermelhas) onde o Z da MVRV está abaixo de 0,85, indicando um período de péssima lucratividade, sentimento negativo e prejuízos contínuos para investidores.

Com essa métrica, os “touros” ou precisam entrar de uma vez por todas, ou as probabilidades vão favorecer os “ursos”. Dito isso, uma recuperação de alívio a curto prazo também é provável se o histórico servir de referência.

Score Z do MVRV do bitcoin (Imagem: Glassnode)

Uma ferramenta on-chain recém-desenvolvida por Dor Shahar, é a Proporção entre Preço Realizado e Vivacidade (RTLR), que modificou um Preço Realizado usando a Vivacidade no denominador.

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Pode ser considerada como um modelo de “valor justo para hodlers” e foi criada para amplificar ou descontar o Preço Realizado da seguinte forma:

RTLR irá indicar um maior valor justo para o bitcoin quando HODLers estão acumulando e mantendo moedas dormentes (valor justo > base de custo);

RTLR irá convergir ao Preço Realizado conforme mais HODLers liquidarem e distribuírem suas moedas (valor justo = base de custo).

No gráfico abaixo, vemos que o mercado agora está negociando abaixo do preço de RTLR de US$ 39,2 mil, mas acima do Preço Realizado de US$ 24,2 mil.

É importante relembrar que isso é observado durante mercados de baixa da metade para o final, acrescentando confluência às observações acima.

Proporção entre Preço Realizado e Vivacidade (Imagem: Glassnode)

Avaliando os prejuízos

Acima foram estabelecidos os sinais que apontam a existência de uma tendência de baixa de escala macro.

Usando isso como um prólogo, agora serão analisados os padrões de gastos dos participantes da rede, onde a semana foi marcada por investidores capitulando perdas significativas.

A métrica de Lucro/Prejuízo Líquido Realizado (NRPL) rastreia a quantidade de lucro em todo mercado, menos o prejuízo realizado por gastos on-chain. Isso fornece uma medida do capital diário que entra e sai da rede do bitcoin.

Conforme o mercado estava negociando a baixas semanais no sábado (22), mais de US$ 2,5 bilhões em prejuízos líquidos foram realizados, conforme investidores gastaram moedas retidas com prejuízo.

Isso marca o maior evento de capitulação dessa queda e quase se aproxima do prejuízo líquido de US$ 2,61 bilhões registrado em maio de 2021.

Lucro/Prejuízo Líquido Realizado (ou NRPL) de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Ao longo dos últimos sete dias, a quantia total de prejuízos realizados excedeu US$ 7,57 bilhões, novamente próxima a grandes eventos de capitulação nos 12 últimos meses. Essa quantia pode ser visualizada no gráfico abaixo.

À medida que investidores que compraram a alta recente capitularam, investidores com pulso mais firme e traders movimentaram o mercado para uma rali de alívio nos preços.

No entanto, perceba que a atual queda é contínua e elevou prejuízos desde o início de novembro, indicando que essa correção está sendo bem dolorosa.

Total de Lucro/Prejuízo Realizado nos últimos sete dias (Imagem: Glassnode)

Angústia no curto prazo para ganhos a longo prazo?

Analisando as seções transversais de investidores que realizaram grande parte dessas perdas, pode-se determinar que é, sem dúvidas, o grupo de Holders de Curto Prazo (STH).

Moedas são consideradas como pertencentes a Holders de Curto Prazo prazo quando são compradas num período inferior a 155 dias e são estatisticamente mais propensas a serem gastas quando existe volatilidade.

A métrica de Lucro (SOPR) de Holders de Curto Prazo acelerou esta semana, após encontrar resistência a um valor de 1,0 ao longo desta queda.

Psicologicamente, isso sugere que compradores recentes estão encerrando posições ou estão abaixo de sua base de custo para “recuperar seu dinheiro”, criando pressão e resistência de venda.

Valores mais baixos indicam que prejuízos mais fortes estão sendo obtidos por Holders de Curto Prazo que, neste caso, são, de forma desproporcional, os principais compradores.

SOPR de Holders a Curto Prazo de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Avaliando as dinâmicas de fornecimento, podemos perceber que Holders de Curto Prazo estão em posse de aproximadamente 18,3% do fornecimento de moedas (fora moedas retidas por corretoras).

A área em vermelho mais claro no gráfico abaixo representa a proporção que está atualmente com prejuízo e, esta semana, quase todo o fornecimento de Holders de Curto Prazo está submerso.

Novamente, isso cria uma barreira psicológica, em que as moedas já são as mais prováveis de serem gastas e vendidas e, agora, estão sendo retidas a prejuízos não realizados que aumentam ainda mais as chances de venda.

Fornecimento em Lucro/Prejuízo por Holders a Curto Prazo de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Curiosamente, a oferta de STH permanece perto de mínimos de vários anos, o que indica que a contraparte, os Holders de Longo Prazo (ou LTHs), parecem não se perturbar com uma queda tão severa.

A proporção de fornecimento por Holders de Longo Prazo voltou a uma tendência de alta modesta, que indica uma relutância geral de liquidação por esse grupo.

Confrontadas pelo que parece ser um mercado de baixa, moedas de Holders de Longo Prazo estão firmes e fortes em armazenamento “frio”, que continua com uma conotação construtiva.

Assim como o grupo de Holders de Curto Prazo, o grupo de Holders de Longo Prazo estão angustiados financeiramente, pois 6,04% de 81,7% do fornecimento mantido por Holders de Longo Prazo caiu para um prejuízo não realizado esta semana.

Foi o maior volume de fornecimento por Holders de Longo Prazo em prejuízo desde a liquidação em março de 2020.

Fornecimento em Lucro/Prejuízo por Holders a Longo Prazo de bitcoin (Imagem: Glassnode)

Finalmente, para encerrar nossa análise da semana, destacamos que o volume total de moedas com mais de um ano está em uma ascensão impressionante desde outubro.

Mais de 59,3% do fornecimento em circulação está parado há mais de um ano, aumentando 5,8% do fornecimento em circulação nos últimos três meses.

Essas moedas refletem àquelas movimentadas pela última vez na blockchain entre outubro de 2020 e janeiro de 2021, durante o início da fase (mais empolgante) do ciclo de alta.

Enquanto uma proporção crescente e maior de moedas antigas é geralmente considerada como construtiva, novamente possui similaridades com um mercado de baixa – um momento em que apenas HODLers e acumuladores pacientes permanecem.

Percentual no fornecimento de bitcoin ativo pela última vez há mais de um ano (Imagem: Glassnode)

Sobre o autor

Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.

*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.