O alerta vermelho sobre a crise na plataforma de empréstimos Celsius ficou ainda mais estridente nos últimos dias, quando investidores começaram a ter dificuldades para sacar as criptomoedas mantidas sob custódia da empresa.
Usuários relatam que, após a tentativa de saque, suas contas entravam em algo chamado “Modo Hodl”. Para esses usuários, a plataforma da Celsius exibe a seguinte mensagem:
“Sua conta foi configurada para o Modo Hodl por nossa equipe. O Modo Hodl impede todas as transferências de saída. Isso inclui enviar moedas, enviar fundos via CelPay e alterar endereços na lista de permissões. Se você deseja desativar o Modo Hodl, entre em contato com nossa equipe de suporte”.
O investidor espanhol conhecido como “El Txot”, compartilhou no Twitter o print com a mensagem acima. Ele contou ao Portal do Bitcoin que está desde sexta-feira (27) tentando ajudar sua esposa a retirar os fundos que mantém na Celsius.
A dupla seguiu a orientação da empresa e entrou em contato com o suporte. Eles foram informados de que para desativar o Modo Hold, o titular da conta deveria enviar um vídeo com um pedido verbal de desbloqueio, segurando um documento oficial com foto para provar sua identidade.
“Enviamos a eles o vídeo e continuamos na mesma”, conta o investidor. “Já são mais de 40 horas sem nenhuma resposta, por isso estou preocupado. Eles são muito rápidos em bloquear a conta, mas demoram muito para resolver o problema”.
“Medida de segurança”
Pressionado no Twitter, o fundador da Celsius, Alex Mashinsky, disse nesta segunda-feira (30) que a ativação do Modo Hodl não passa de uma medida de segurança.
“Se virmos atividades suspeitas em sua conta, como logins com falha de endereços IP diferentes e você não tiver proteção suficiente, como 2FA [autenticação de dois fatores], tentaremos protegê-lo ativando o 2FA para dificultar o hacker”, escreveu.
Apesar disso, a empresa nunca alertou aos usuários que o Modo Hodl poderia ser ativado sem seu consentimento. Pelo contrário, o site oficial da Celsius afirma que “você [cliente] controla quando o Modo Hodl é ativado”.
Falta de liquidez?
Alguns críticos da Celsius — grupo que vem aumentando nas últimas semanas — suspeitam que essa é uma estratégia para frear ou pelo menos atrasar os saques dos clientes.
“Há a suspeita de que a Celsius não tenha liquidez para atender os pedidos de saque se todos os clientes quiserem retirar os ativos ao mesmo tempo”, contou o investidor El Txot.
Segundo ele, foi esse o motivo que o levou a tentar realizar o saque para a sua esposa na sexta-feira. Antes disso, ele já havia conseguido sacar os fundos da sua própria conta.
“Nos últimos dias retirei diferentes ativos que mantinha lá, como Bitcoin e Ethereum. Eles levaram apenas algumas horas para me pagar. As transferências de Chainlink, Stellar e Polkadot também foram instantâneas”, relata.
Alex Mashinsky descarta todas as suspeitas de falta de liquidez da empresa e afirma que os relatos que estão surgindo não passam de “medo e ódio para assustar os celsianos”.
Insegurança
O que não dá para negar é que a desconfiança que se instaura no mercado está levando a Celsius a perder clientes e, consequentemente, dinheiro.
A empresa costuma compartilhar toda semana dados sobre as entradas e saídas de fundos da sua plataforma.
Entre os dias 6 a 12 de maio, US$ 1,15 bilhão em criptomoedas deixaram a Celsius, contra US$ 396 milhões de entrada. Entre os dias 20 e 26 de maio, as saídas representaram outros US$ 364 milhões e as entradas foram de US$ 192 milhões.
Curiosamente, a empresa omitiu os dados da semana de 13 a 19 de maio, levantando ainda mais críticas na comunidade sobre a falta de transparência da empresa.
Crise da Celsius
As suspeitas do mercado em torno das operações da Celsius se intensificaram durante o colapso da Luna, evento que ligou o sinal de alerta para a forma como a empresa de empréstimos cripto usa o dinheiro dos clientes para financiar suas operações de risco.
A Celsius precisou correr contra o tempo para tirar R$ 2,7 bilhões em criptomoedas que mantinha no Anchor Protocol, o principal projeto DeFi da Terra, que oferecia rendimentos de 19,5% sobre os depósitos de UST.
Esse dinheiro provavelmente pertencia aos clientes da empresa, uma vez que a Celsius oferece rendimentos de 7% a 15,8% pelas criptomoedas depositadas na plataforma para serem emprestadas para outros investidores e instituições.
Com o derretimento do UST, o Anchor Protocol cortou as recompensas e a Celsius correu para tirar os fundos do projeto e transferi-los para o Aave v2, outro protocolo DeFi de empréstimo.
Na visão de críticos, a operação exemplifica o risco ao qual a empresa submete o dinheiro dos investidores.
Um investidor de bitcoin, em particular, tomou para si a missão de cobrar explicações da Celsius e se tornou o inimigo número um de Alex Mashinsky. Trata-se de Cory Klippsten, CEO da Swan Bitcoin e conselheiro da Riot Blockchain.
Ele criou uma campanha contra a Celsius: a cada usuário que tirasse 1 BTC ou mais da plataforma para fazer autocustódia de suas moedas, ganharia um ano de graça de assinatura nos serviços privados da Swan Bitcoin.