É possível utilizar criptomoedas para burlar o SWIFT?

Autor comenta narrativas sobre a Rússia contornar sanções por meio das criptomoedas
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(Foto: Shutterstock)

O SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), não é uma instituição financeira, mas um sistema de mensagens global utilizado por bancos para trocar instruções de transações. Portanto, ele não funciona como um sistema de pagamentos e não realiza movimentações de dinheiro.

No entanto ele não é o único sistema que atua nesta funcionalidade — existem outras plataformas como o SPFS (russo), o CIPS (chinês) e o INSTEX (europeu), este último criado para dar suporte humanitário ao Irã.

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Com a expulsão de bancos russos do SWIFT algumas narrativas surgiram apontando a possibilidade da utilização de criptoativos para contornar tais sanções, mas a Rússia não pode nem irá usar criptos para evitar tais bloqueios.

Primeiramente é preciso entender que essas sanções, para serem efetivas, possuem uma abordagem muito ampla, impedindo que qualquer indivíduo ou companhia realize transações diretas, indiretas ou facilite qualquer relação de pagamento com algumas dessas instituições bloqueadas.

Portanto, a sanção torna ilegal que um indíviduo nos Estados Unidos, por exemplo, realize transações com entidades localizadas em nações banidas do sistema SWIFT, e aqui não importa se a transação será realizada através do dólar, ouro ou bitcoin

Vale ressaltar que os bancos russos não foram banidos completamente do sistema financeiro global, eles foram banidos do SWIFT e ainda podem realizar transferências entre fronteiras, porém não por meio do SWIFT.

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O que temos é a impossibilidade de tais instituições adquirirem produtos e serviços americanos, isso inclui exchanges de criptomoedas que estão conectadas ao sistema. Logo, a capacidade de utilizar criptoativos não permite que entidades financeiras russas consigam escapar da sanção por esses meios.

Alternativas ao SWIFT

Se a Rússia tiver que usar alguma alternativa será por meio do CIPS da China, país que possui maior parceria econômica.

Além disso, o mercado de criptoativos ainda é muito pequeno, custoso e transparente para se tornar uma ferramenta realmente útil para a economia russa conseguir burlar as sanções, sem contar o fato de que existem pouquíssimas corretoras que negociam cripto no par do rublo russo.

E por último, avaliando as estratégias orquestradas por Putin para proteger a Rússia de possíveis sanções — e sim, ele está planejando isso há anos — é possível verificar que não houve nenhuma mobilização a nível estrutural do sistema financeiro russo para a utilização de criptoativos em larga escala na realização de liquidações financeiras.

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Sua estratégia basicamente foi diversificar suas reservas financeiras, aumentando alocações em yuan (renminbi) e ouro, além de estreitar as relações comerciais com países asiáticos.

O que temos verificado nos últimos dias foi o aumento do interesse dos cidadãos russos em utilizar criptomoedas. As sanções aplicadas à Rússia impactaram também sua população, que tem sofrido sanções por parte do próprio governo a fim de evitar a fuga de capitais para moedas estrangeiras.

Lá o BTC chegou a ser negociado a cotações superiores a US$ 20 mil em relação aos outros mercados. O CEO da Criptoloja, Pedro Borges, chamou atenção para o aumento da procura pelos serviços da empresa para auxiliar residentes da Rússia e Ucrânia a utilizarem criptoativos para escapar do conflito.

Estados e grandes instituições ainda não estão preparados para se beneficiar estruturalmente do ecossistema descentralizado dos criptoativos, mas os indivíduos estão aprendendo cada vez mais o exato propósito e utilidade de dominar essa tecnologia incensurável e descentralizada.

Sobre o autor

Lucas Passarini é trader especializado em cripto do Mercado Bitcoin e um dos analistas do Morning Call, live diária de investimentos que vai ao ar no Instagram da exchange. Formado em Administração de Empresas pela FEA-USP de Ribeirão Preto (SP) e CEA ANBIMA.

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