Depois de uma década de espera do mercado, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) finalmente aprovou nesta quarta-feira (10) a criação dos primeiros ETF de Bitcoin à vista do país.
“Hoje, a Comissão aprovou a listagem e negociação de uma série de ações de produtos negociados em bolsa (ETP) de bitcoin à vista”, disse o presidente da SEC, Gary Gensler, em um comunicado oficial, lembrando que o regulador, desde 2018, já reprovou mais de 20 pedidos de ETFs.
Foram aprovados 11 fundos negociados em bolsa (ETF), incluindo os das gestoras BlackRock, Fidelity, ARK Invest, Grayscale, Bitwise, VanEck, Galaxy Invesco, Franklin Templeton, WisdomTree, Valkyrie e da brasileira Hashdex. A expectativa é que parte dos ETFs já estejam disponíveis para negociação na quinta-feira (11).
“Mais que um grande avanço regulatório nos EUA, o lançamento do ETF Spot de Bitcoin representa uma conquista para todo o ecossistema de ativos digitais”, comemorou o CEO da Hashdex, Marcelo Sampaio, após a confirmação da aprovação.
O lançamento dos ETFs de Bitcoin à vista nos EUA era altamente aguardado porque esse produto é visto como uma porta de entrada para que uma nova onda de investidores, principalmente os institucionais, comece a ganhar exposição à criptomoeda líder. Na visão de especialistas, os ETFs podem impulsionar o setor cripto como um todo a atingir um valor de mercado de até US$ 100 bilhões ao longo de cinco a dez anos.
Para Dan Yamamura, sócio da Fuse Capital, os ETFs de Bitcoin são importantes para a cripto se tornar mainstream, pois traz mais liquidez e visibilidade para esse mercado. “O Bitcoin continuará sendo um ativo alternativo, um ativo de risco, porém, ele passa a ser um ativo em que as pessoas têm mais credibilidade no sentido de não entrar em algum tipo de golpe ou alguma estrutura de investimento não transparente”, afirma.
O executivo lembra ainda que esse tipo de produto traz mais liquidez ao mercado e mais players envolvidos, com uma tendência que isso se reflita de maneira mais transparente na precificação. “Quanto mais liquidez, mais justo é o preço.”
Já Sebastián Serrano, CEO e cofundador da Ripio, destaca que o ETF abrirá novas possibilidades de investimento e, inevitavelmente, expandirá o alcance e a adoção do ecossistema de criptoativos em diversas regiões.
“Isso cria um momento muito empolgante para o ecossistema, e é algo que estamos aguardando com grande expectativa. Notícias como essa geram grande interesse e novas ondas de adoção”, diz o executivo.
Na noite da última terça-feira (9), o mercado chegou a tomar um susto após a conta oficial da SEC no X (antigo Twitter) dizer que havia aprovado o ETF. Porém, minutos depois o presidente da entidade, Gary Gensler, disse que a conta do órgão havia sido comprometida e que nenhum ETF de Bitcoin realmente havia recebido luz verde.
Taxas dos ETFs
Nos últimos dias, conforme se aproximava a aprovação dos ETFs, as gestoras passaram a divulgar os detalhes de seus produtos, chamando atenção uma forte disputa para ver quem oferecia o produto com a menor taxa.
Inclusive, alguns grandes nomes, como a BlackRock e a ARK, chegaram a realizar mudanças nas taxas propostas depois de uma primeira divulgação. Confira abaixo como ficaram as cobranças de cada ETF aprovado:
GESTORA DO ETF DE BITCOIN | TAXA |
Fidelity | 0,25% |
BlackRock | 0,12% nos primeiros 12 meses ou até atingir US$ 5 bilhões em ativos sob gestão (AUM); depois, sobe para 0,25% |
ARK Invest | 0,00% nos primeiros 6 meses para o primeiro US$ 1 bilhão AUM; depois, sobe para 0,21% |
VanEck | 0,25% |
Galaxy Invesco | 0,00% nos primeiros 6 meses para o primeiro US$ 5 bi AUM; depois, sobre para 0,39% |
Grayscale | 1,50% |
BitWise | 0,00% nos primeiros 6 meses para o primeiro US$ 1 bilhão AUM; depois, sobe para 0,20% |
Franklin Templeton | 0,29% |
WisdomTree | 0,50% |
Valkyrie | 0,80% |
Hashdex | 0,90% |
A luta pela aprovação do ETF
A tentativa de ter um ETF de Bitcoin à vista nos EUA durou anos, sendo que há pelo menos cinco anos diversas gestoras já entraram com pedidos de um produto do tipo, sempre negados pela SEC. Por outro lado, já existem diversos ETFs de Bitcoin futuro no país.
A partir de 2020 passou a ganhar força as tentativas de se criar um ETF de Bitcoin, sendo um marco importante a tentativa da Grayscale, que após ter seu pedido negado em 2021, processou a SEC.
E foi apenas neste ano que a Justiça americana deu a vitória para a gestora, obrigando o regulador a rever sua decisão e abrindo a porta para que outras empresas – e todo o mercado – passassem a ver como apenas uma questão de tempo a aprovação de um ou mais ETFs.
O presidente da SEC, Gary Gensler, sempre foi um crítico às criptomoedas e foi tido como um dos pilares para a dificuldade de se aprovar um ETF de Bitcoin. Nos últimos dias, no cenário da iminente aprovação do fundo, ele fez um alerta de que as criptos representam investimentos arriscados, são explorados por fraudadores e “podem não estar cumprindo a lei”.
Como funciona um ETF de Bitcoin
Um ETF de Bitcoin à vista é um produto financeiro projetado para fornecer aos investidores exposição ao preço real do Bitcoin, permitindo-lhes negociar e investir na criptomoeda sem a necessidade de possuí-la diretamente.
Esse tipo de ETF é distinto dos ETFs baseados em futuros, que derivam seu valor de contratos futuros de Bitcoin. Os ETFs de Bitcoin à vista visam acompanhar o preço de mercado em tempo real do Bitcoin, tornando-os mais atraentes para investidores tradicionais que buscam exposição direta à criptomoeda.
Um ETF de Bitcoin à vista funciona da mesma forma que qualquer outro ETF. Os investidores compram ações do ETF através de qualquer corretora e negociam em uma bolsa tradicional, como a Nasdaq e B3 (dependendo de onde é lançado o produto), assim como negociam ações da Apple ou Petrobras, por exemplo.
Um ETF de Bitcoin à vista exige que o emissor gerencie o ativo subjacente e não um derivativo, o que diferencia os ETFs de Bitcoin à vista dos ETFs de futuros de Bitcoin que atualmente são negociados no mercado dos EUA.
Isso tem o potencial de ter um impacto significativo no Bitcoin e nos criptomercados como um todo. Em teoria, todos os investidores não tecnicamente especializados que negociam ações de um ETF de Bitcoin agora seriam indiretamente parte do ecossistema BTC, tornando-o menos suscetível a manipulações. E há também as expectativas sobre a escassez do ativo.
Há apenas uma quantidade limitada de Bitcoin disponível. Se houver uma forte demanda por ações de ETF de Bitcoin nos EUA, essa pressão de compra tornará o BTC mais escasso, porque os emissores de ETF devem manter um valor semelhante no ativo subjacente. E considerando que os Estados Unidos têm o mercado de ações mais ativo do mundo, estamos falando de um potencial impacto significativo na liquidez da moeda.
Tudo isso chega faltando meses para o halving do Bitcoin, esperado em abril, que limita ainda mais a emissão de novos bitcoins a cada quatro anos ao reduzir pela metade as recompensas dos mineradores.
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