Criptomoeda que prometia revolucionar a Internet afunda 98% em um ano

ICP queria descentralizar tecnologias dominadas por Amazon e Google – mas acusações de golpe jogaram o preço do token para baixo
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Foto: Shutterstock

Volta e meia surge no mercado uma criptomoeda promissora e que apresenta metas grandiosas.

No início de 2021, essa criptomoeda era a Internet Computer (ICP). Foi apresentada como um projeto que iria revolucionar a Internet tradicional, descentralizando uma tecnologia concentrada nas mãos das Big Techs da área de tecnologia, como Amazon e Google.

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Quando começou a circular, no dia 10 de maio de 2021, o seu preço subiu tanto que chegou a um topo histórico nas primeiras 24 horas: US$ 750. o seu valor de mercado bateu os US$ 57 bilhões, segundo o CoinMarketCap. Esse número levou a ICP para a oitava posição no ranking das maiores criptomoedas do mundo.

Um ano após o lançamento, no entanto, a situação é desoladora. No dia 30 de abril, a ICP atingiu sua pior cotação da história, aos US$ 11,64 — 98% inferior ao seu preço de estreia. Como foi possível transformar a euforia em depressão?

As promessas

A chave para explicar a ICP é entender por que havia tanta expectativa depositada em cima do token.

A criptomoeda é um produto da empresa Dfinity Foundation, fundada na Suíça em 2014 pelo desenvolvedor Dominic Williams. A moeda em si é um dos componentes de um complexo ecossistema, que surgiu com a promessa de acabar com o monopólio dos serviços de internet.

A ideia central da Dfinity é ter uma blockchain que permita às pessoas hospedar sites e softwares diretamente na Internet pública por ela, dispensando a mediação de servidores comerciais em nuvem oferecidos por gigantes da tecnologia, como Google e Amazon.

Assim como as criptomoedas surgiram como alternativa para o dinheiro fiduciário, o ecossistema do Internet Computer queria ser uma alternativa para a Internet tradicional.

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Com essa promessa ousada, não demorou muito para a ICP chamar atenção das empresas de capital de risco mais prestigiadas do Vale do Silício.

Andreessen Horowitz, por exemplo, liderou duas rodadas de investimento de US$ 195 milhões para a Dfinity, antes mesmo do lançamento do Internet Computer.

Quando a ICP finalmente foi lançada em maio do ano passado, havia a esperança que a criptomoeda competiria de frente com grandes pesos do mercado, como Ethereum, Solana e Cardano — algo que não aconteceu.

Acusações de dump da Dfinity 

Em junho de 2021, a queda drástica de preços da ICP ficou um pouco mais fácil de entender após a empresa de análises Arkham Intelligence publicar um estudo especial sobre o assunto. 

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A investigação, que chegou a ser repercutida pelo jornal The New York Times na época, atribuiu as fortes quedas da moeda a um despejo de bilhões de dólares em ICP feito por insiders ligados à Dfinity, a empresa por trás da criptomoeda – um golpe chamado de dump.

Logo após a ICP ser lançada, endereços identificados como pertencentes à Dfinity (chamado de Tesouro) e aos insiders (pessoas de dentro do projeto com informações privilegiadas)  enviaram 18,9 milhões de ICP, no valor de US$ 3,6 bilhões no momento do depósito, para corretoras.

Essas quantias representaram 75% de todos os ICPs depositados nas corretoras em dois meses. Ou seja, foram pessoas próximas à companhia os responsáveis pela maior parte da liquidação do ativo no mercado.

Claro, a Dfinity sempre negou essas acusações. Um porta-voz da empresa disse na época que a culpa pela desvalorização da moeda era de atores mal-intencionados nas redes sociais e projetos concorrentes “antiéticos” que usaram o Reddit e o Twitter para “confundir o público”. 

Depois que essa história veio à tona, a Dfinity perdeu o apoio de parte expressiva da sua comunidade. O preço do “promissor” ICP foi sendo reduzidio cada vez mais e hoje está distante dos seus dias de glória.

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As promessas de descentralizar a Internet também parecem ter ficado em segundo plano.

As atenções voltaram brevemente para o Internet Computer no início da semana, quando a Dfinity resolveu processar o Facebook pela semelhança do seu logo com o novo adotado pela Meta. Ambos os logos são a estilização do símbolo do infinito, algo que parece bem distante da ICP neste momento.