O pastor Devanney Vieira, fundador da Midas Trend que deixou prejuízo de R$ 55 milhões aos seus clientes, agora atua como coach de finanças e ostenta nas redes sociais o luxo que tem vivido. Enquanto pessoas perderam esperança de receber o que aportou na empresa, Vieira posa de trader vencedor como se nunca atuasse em empresas suspeitas de pirâmide como a Bbom e a Ciclo 21.
Antes de se converter em coach, ele atuou com o irmão, Deinavir Santos, na Midas Trend, empresa que prometia alta rentabilidade com o uso de bots de arbitragem em criptomoedas. A empresa, porém, só possui dívidas e o que restou foram somente as promessas.
Há dois meses, Santos prometeu que colocaria todo o seu dinheiro que sobrou para trabalhar no suposto robô de arbitragem da Midas Trend e anunciou um produto novo que seria apenas a recauchutagem daquilo que já deu errado. Já Vieira adotou uma nova vida.
Pelo Instagram, não faltam fotos dele muito bem vestido, esbanjando em viagens pelo mundo. Numa delas, Vieira aparece sorridente com a vista da sua janela direta para a Torre Eiffel, em Paris.
Em outra foto, ele ostenta mais ainda e aparece sentado sobre o capô de uma BMW conversível. Na descrição dessa foto, o coaching citou a frase “a sorte favorece os destemidos”, a qual atribuiu a Alexandre Magno, imperador da Macedônia.
Vítimas da Midas Trend
Os destemidos, porém, que aportaram dinheiro na Midas Trend não tiveram a mesma sorte. Sacha Garcia foi dessas pessoas. Ela pegou R$ 600 mil, dinheiro que seria para quitar uma cobertura, e aportou na empresa que prometia alta rentabilidade com arbitragem em criptomoedas.
“Essa grana era para quitar a minha cobertura. Meu marido achou melhor aplicar na midas e pagar as parcelas com rendimento”.
A ideia era boa, caso não surgissem os percalços. Ela que começou a investir na empresa em janeiro do ano passado e pelas promessas da empresa deveria lucrar R$ 7 milhões, mas pelo somatório apresentado pela Midas Trend o valor total não chegou sequer a R$ 500 mil.
“Eles alegaram que foram roubados por hackers e agora a gente só tem direito a ‘raiz’ sem os lucros”.
A história para ela é estranha, pois “a empresa dizia que os nossos fundos ficava na Binance e na Bitfinex e não houve invasão hacker ali”.
O dinheiro, conforme contou Garcia, era depositado por meio da Urpay e depois que a essa empresa de pagamentos apresentou problemas a negociação passou a ser feita pela Midas Pay.
Ela mencionou que Deivanir Santos havia explicado que caso houvesse uma invasão hacker na Midas Trend, “o invasor não teria acesso aos valores que estavam nas corretoras, por isso acreditei nele”.
Promessas e nada mais
Cleiton Domingos, outra vítima da Midas Trend, disse que o sentimento já é de desesperança, pois o que se tem são “promessas e promessas”, mas nada de pagamento.
“Ele fica enrolando, sempre inventa algo, antes era pela midas pay para receber. Daí ele enrolou e pagou ninguém. Agora falou que vai pagar em Bitcoin e que todos têm de abrir uma carteira na exchange. Ele pediu fotos nossas com documentos. Eu não mandei. Vai que ele usa os nossos dados”.
Domingos disse que entrou por indicação de seu cunhado. Ele não aplicou muito dinheiro na Midas Trend não confiava tanto. A questão, porém, é que o cunhado dele não teve essa mesma desconfiança.
“Eu coloquei pouco. Foi só R$ 2.900 porque já desconfiava. Mas meu cunhado colocou mais de R$ 20 mil”.
Além dele, outras pessoas da sua família resolveram aplicar nessa empresa, mas nada de receber. O mesmo foi dito por Garcia, além dela seus irmãos e outros parentes tinham colocado dinheiro na Midas Trend.
Ela disse que todos saques solicitados foram estornados, “mas a empresa sustenta que pagou”.
O Coaching suspeito
Antes de liderarem a Midas Trend, os irmãos Devanney Vieira e Deivanir Santos já tinham experiência com empresas que se autodenominam Marketing Multinível mas que levantam suspeita de pirâmide.
A última delas foi a Ciclo 21, que prometia 300% de retorno financeiro. Mas a atuação deles em esquemas suspeitos vem desde outras década. Em 2013, o pastor que hoje posa de coaching junto com seu irmão, atuou na Bbom empresa que lesou milhares de pessoas.
Com a Midas Trend, a situação não parece tão diferente. Ela hoje possui R$ 55 milhões em débito com os clientes e não há qualquer posicionamento claro sobre quando vão pagar.
Até mesmo uma invasão hacker foi mencionada para justificar o calote. Enquanto isso, as denúncias no Reclame Aqui não param. No site já se contabiliza 238 reclamações e apenas quatro delas tem resposta da Midas Trend. Grande parte das denúncias é por falta de pagamento.
Numa das últimas reclamações feitas, um cliente menciona que espera desde outubro do ano passado receber o que havia aportado na empresa, mas que há nada resolvido.
Depois do calote, Deivanir Santos ainda chegou a fazer uma live anunciando uma nova empresa para começar a fazer os pagamentos. A nova plataforma Midas Trend 2.0 tem como único produto da empresa o Bot Midas, o mesmo de antigamente. Seria só uma repaginada naquilo que não funcionou.
Procurado, Devanney Vieira não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.