Contratado pela Binance, Meirelles anuncia apoio a Lula e pode virar “embaixador” da corretora em eventual novo governo

Parte do mercado vê ex-presidente do BC abrindo as portas do mundo político para contatos da corretora; outro segmento descarta influência
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Ex-presidente do BC, Henrique Meirelles faz agora parte de conselho da Binance (Foto: Agência Brasil)

Ex-presidente do Banco Central e recém-anunciado como membro do conselho consultivo global da Binance, Henrique Meirelles anunciou nesta segunda-feira (19) apoio público à candidatura de Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) para as eleições presidenciais que ocorrem no dia 2 de outubro no Brasil.

Com a confirmação do apoio, ele despertou avaliações no mercado das criptomoedas de que poderá atuar como interlocutor entre a corretora e o mundo político um em eventual novo governo do ex-presidente, que lidera as pesquisas de intenção de voto.

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Segundo fontes, a visão predominante dos executivos do setor é que ele poderia ser uma espécie de “embaixador” para a Binance, que tem interesse direto em temas que dependem de tramitação política, como a Lei das Criptomoedas, que aguarda para ser votada pela Câmara dos Deputados.

Leia também: Exclusivo: Henrique Meirelles revela os planos da Binance para o Brasil

“[O apoio] Pode ser algo positivo aos interesses da Binance. O Meirelles sempre terá portas abertas em um governo Lula e a Binance ganharia um baita embaixador lá dentro”, diz uma fonte que acompanha os bastidores da política de Brasília.

Na avaliação dessa fonte, mesmo em caso de vitória do presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda havia espaço – ainda que menor – para a atuação do ex-ministro da Fazenda. “O Meirelles continua muito bem respeitado por várias instâncias de governo”.

No entanto, a fonte ressalta que eventuais decisões sobre a regulação das criptomoedas terão que passar pelo Banco Central – uma instituição que tem independência para sua atuação, livre de interferências políticas devido ao mandato fixo de sua diretoria, pelo menos em teoria.

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Um analista do mercado de criptomoedas concorda que a aproximação formal entre Meirelles e Lula representa “um canhão” para a corretora, mas faz uma ressalva: em sua opinião, o ex-ministro da Fazenda poderia ser mais útil à exchange fora de um eventual governo Lula do que dentro. “Caso ele aceite algum cargo, teria que se desincompatibilizar da Binance antes. Fora do governo, poderia circular com mais desenvoltura no Congresso e no Planalto”, diz.

Paulo Boghosian, co-head da TC Cripto, por sua vez, afirma que a aproximação “é um movimento importante tanto para a Binance quanto para a indústria de criptomoedas como um todo. Mas acho que em termos de regulamentação, o que vai pesar mais são as diretrizes econômicas do futuro governo como um todo, mais do que um nome individual”. Nesse sentido, ele diz acreditar que uma equipe econômica com perfil mais liberal, como a atual, seria mais adequada para o desenvolvimento do setor.

Já um executivo que ocupa cargo de liderança no setor de criptomoedas, no entanto, vê uma baixa relação entre o apoio político de Meirelles à Lula e os interesses da Binance. “Me parece um movimento natural. O Meirelles foi um integrante destacado do governo Lula. Acho que vão manter as coisas separadas”, afirma.

Henrique Meirelles foi presidente do Banco Central do Brasil durante os oito anos de governo Lula, emtre 2003 e 2010. Durante a presidência de Michel Temer foi Ministro da Fazenda e em 2018, foi candidato à presidência pelo MDB.

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Mais recentemente, o economista foi contratado pela Binance para fazer parte do conselho global da companhia. O político foi para Paris e conheceu o CEO da empresa, Changpeng “CZ” Zhao.

Apoio ao ex-presidente

O apoio de Meirelles para Lula foi explicitado nesta segunda (19) por meio de um encontro entre o petista e diversos outros políticos que já foram candidatos à presidência. Estiveram presentes o seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSOL), Cristovam Buarque (Cidadania), Marina Silva (REDE), Luciana Genro (PSOL) e João Goulart Filho (PC do B).

Procurado pelo Portal do Bitcoin, Henrique Meirelles encaminhou um comunicado onde afirma que “Durante toda a minha vida, sempre baseei as minhas decisões em fatos. Trabalhei no governo Lula durante oito anos, de 2003 até 2010, convidado para comandar o Banco Central. Neste período, mais de dez milhões de empregos foram criados no Brasil. Isso é um fato inquestionável”.

Na sequência, ele enumera diversos números da economia, sem citar a questão da Binance. Ele segue dizendo que “essa história de só falatório pode impressionar muita gente, mas eu acredito em fatos. Eu olho e vejo os resultados”. E finaliza: “Isso me fez participar hoje do evento de apoio ao Lula com tranquilidade e confiança, porque sei o que funciona e o que pode funcionar no Brasil”.

Meirelles e a Binance

Em entrevista exclusiva ao Portal do Bitcoin, Henrique Meirelles revelou os bastidores de sua contratação e falou sobre os planos de atuação junto à corretora no Brasil, especialmente sobre o que chama de “nosso diálogo com o Banco Central” – embora afirme que ainda precisa estudar o Projeto de Lei que regula as criptomoedas no Brasil, atualmente aguardando votação na Câmara dos Deputados, para avaliar como fazer propostas mais concretas.

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Ele diz que a corretora pretende “liderar o processo de autorregulamentação, com sistemas envolvendo tecnologia que assegurem principalmente a análise de origem do dinheiro”, fazendo referência aos processos de controle para impedir ilícitos como lavagem de dinheiro.

Meirelles revela que os contatos com a corretora começaram com uma viagem recente até Paris, onde recebeu um curso intensivo de dois dias sobre criptomoedas diretamente com Changpeng “CZ” Zhao, CEO da exchange. Meirelles afirma que o criador da corretora liderou as exposições e que ambos ficaram próximos durante o evento.

“Sim, eu me encontrei com ele [CZ] em Paris. Ele fez as apresentações durante os dois dias e no jantar ele pediu para eu sentar ao lado dele para podermos conversar mais”, disse.