Um cliente do Bitcoin Banco acreditou na promessa da arbitragem infinita entre as exchanges NegocieCoins e Tem BTC e apostou a vida na promessa da riqueza rápida e fácil. Em relato ao Portal do Bitcoin, ele detalhou como tudo aconteceu.
Por motivos de segurança, a identidade do investidor será mantida em sigilo. Sua história, no entanto, é semelhante a de milhares de pessoas que acreditaram na ilusão de altos rendimentos do chamado girinho.
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“Meu dinheiro estava investido na Atlas Quantum, estava rendendo lá. Daí eu fiquei sabendo do grupo Bitcoin Banco por uns canais no Youtube e em grupos do Telegram. Tinha muita gente feliz lá. O pessoal dizia: ‘Vamos imprimir dinheiro hoje’.
As pessoas davam a entender que o negócio era sustentável, que o Cláudio [Cláudio Oliveira, dono do Grupo Bitcoin Banco] tinha como sustentar.
Enquanto na Atlas eu estava fazendo a 3% ao mês, o pessoal falou que no GBB eu ganharia mais que isso por dia. Isso foi no mês de maio, menos de uma semana antes de travarem os saques.
Pensei: já que está dobrando tão rápido, eu vou dobrar esse dinheiro, tirar meu inicial e continuo, igual muitos fizeram.
Giro do Bitcoin sozinho
Um tempo depois, num fim de semana, descobri que sozinho eu ia ganhar muito mais e que não era necessário estar com ele pra ganhar. Foi quando saí do grupo e comecei a operar sozinho.
Então tirei os Bitcoins da Atlas, os coloquei na NegocieCoins e comecei o processo — era uma operação simples, qualquer um conseguiria fazer a arbitragem infinita.
Não tinha segredo. Eu via no site se o spread estava batendo e fazia arbitragem. Ficava o dia inteiro fazendo isso: vendia os Bitcoins na NegocieCoins e recomprava na Tem BTC. Era sempre um valor mais alto que o outro. Deviam ter um robô que automatizava.
Cheguei a ficar surpreso que o spread de arbitragem não fechava nunca, inclusive algumas pessoas me alertaram.
Como via muitas personalidades do meio indicando pra fazer, eu continuava. Mesmo tendo ainda algumas dúvidas, a esperança de receber aquele dinheiro me cegava.
Arbitragem de bitcoin a cada 45 min
A minha rotina diária era toda baseada no giro. No período entre maio e julho eu acordava e já fazia, nem dormia direito na verdade. À noite, a cada 45 minutos eu era alertado pelo despertador. Por cerca um mês, mais ou menos, eu quase não dormi.
Aquele intervalo de tempo era quando os Reais da NegocieCoins iam para a Tem BTC. Já para os Bitcoins irem da Tem BTC para a NegocieCoins era automático, no máximo em 2 min.
Tudo o que estava fazendo na vida era baseado no giro, na esperança de um dia receber aquele dinheiro — mesmo quando notícias mostravam que ninguém iria receber, que era um golpe.
Eu queria acreditar que o negócio era verdade, tanto é que continuei girando depois que os saques travaram. Quando atingi a casa dos muitos milhões, eu podia fazer apenas uns quatro giros num dia — tinha esse limite.
Porém, como eu tinha o limite de giro, eu ficava mais de olho no mercado, no preço do Bitcoin, esperando a hora certa de vender.
Aquilo era uma falsa esperança. Eu queria acreditar naquilo. E perdi várias oportunidades.
O pessoal da minha família ficou meio assustado com aquilo. E por eu não estar recebendo, diziam que eu estava fazendo aquilo de graça. Minha namorada, inclusive, dizia que aquilo era golpe e que eu nunca iria receber.
Tudo me apontava para um golpe. Mas eu vivia num mundo paralelo. Eu não pensava como eu penso hoje. Estava iludido.
Lucrando 3.000% em Bitcoin
Cheguei a fazer uns 30 giros diários, em torno de 0,2% cada um, dava uns 6% ao dia de lucro. Mas tinha dias, dependendo do mercado, que em apenas um giro dava cerca de 10%.
Tinha uns bugs também. Às vezes a cotação do Bitcoin ia de R$ 30 mil para R$ 40 mil e depois voltava para R$ 30 mil.
Muita inocência, mas é verdade. Eu fiz 30 vezes o meu valor (3.000% da banca em dois meses) em juros compostos. Isso porque naquela época o spread vinha caindo.
Eu sabia que o negócio não existia, mas aquilo se transformou num joguinho que virou um vício, como aqueles jogos que você junta moedas. Você sentia que era uma recompensa.
Era diferente da Atlas, que todo dia caia um valor pra você independentemente se você mexia ou não. A arbitragem infinita dava a entender que eu estava recebendo pelo meu próprio esforço.
Quebra do Bitcoin Banco
Quando o negócio começou a desmoronar eu achava que quem ia contra o GBB é que era responsável pelos problemas da empresa, como os bloqueios das contas.
Mesmo depois de parar de girar, eu ainda continuei acreditando em algumas coisas, como o Audax Bank, que todo mundo iria receber por ele…
Eu também cheguei a comprar muitas coisas na Get4Bit (plataforma de venda de produtos do GBB), como celular, MacBook — que nunca foram entregues.
Aprendizado contra golpes
A gente aprende que dinheiro fácil não existe. Essa é a verdade.
Hoje em dia 90% do mercado brasileiro de criptomoedas funciona de forma igual. Esses investimentos que rendem uma porcentagem alta, diária, mensal, não são sustentáveis. Uma hora eles quebram.
Quem começou em fevereiro, março, hoje está milionário com o dinheiro das pessoas que entraram depois. Quem entrou por último se ferrou. É um esquema.
No período da metade de julho até metade de agosto, quando fiquei sem girar, vi que aquilo estava errado e que ninguém iria receber. Depois de um tempo, vi que era só uma enganação.
Hoje eu já caí na real. Mas aquelas horas perdidas não vou ter de volta. Isso eu perdi pra sempre.
Além do dinheiro, as pessoas se afastaram de mim. Perdi dois meses da minha vida, perdi meus sonhos.