As informações de que os governos do Brasil e da Argentina devem formar um grupo para estudar a criação uma nova moeda comum ganham corpo nesta segunda-feira (23), com o início da viagem do presidente Lula e do ministro da Fazenda Fernando Haddad ao país vizinho.
Agora, é a vez da comunidade das criptomoedas entrar na discussão, com a sugestão de que, ao invés de criar uma nova moeda do zero, os países adotem o Bitcoin.
Um dos que argumentaram a favor dessa ideia foi Brian Armstrong, o CEO da Coinbase, a maior corretora de criptomoedas dos Estados Unidos. Ao repercutir no Twitter uma reportagem do jornal Financial Times que tratava sobre o assunto, ele disse:
“Gostaria de saber se eles considerariam mudar para o Bitcoin — essa provavelmente seria a aposta certa a longo prazo.”
Wonder if they would consider moving to Bitcoin – that would probably be the right long term bet https://t.co/6EKJdwcSnO
— Brian Armstrong (@brian_armstrong) January 23, 2023
Mas nem todos concordam com o executivo, por uma série de motivos. O empresário Raoul Pal, por exemplo, aponta que a volatilidade da criptomoeda dificulta o seu uso por governos.
“Atualmente, ninguém pode ter uma moeda nacional com 100% de volatilidade que cai 65% na parte baixa do ciclo de negócios e sobe 10x no ciclo de alta. As empresas lutam para se planejar ou se proteger isso”, ressaltou Pal.
Currently no one can have a national currency with 100% volatility that declines 65% in the down part of the business cycle and rises 10x in the up cycle. Businesses struggle to plan or hedge that.
— Raoul Pal (@RaoulGMI) January 23, 2023
Ele foi rebatido pelo argumento de que, mesmo moedas nacionais respaldadas por governos, como o peso argentino, podem ter desvalorização da magnitude citada, mas não a valorização que uma criptomoeda pode ter em ciclos de alta.
“Muitas moedas nacionais caem muito mais do que 65% no ciclo de baixa, mas carecem do retorno de 10x+ no ciclo de alta. Bitcoin é menos volátil hoje do que pelo menos uma dúzia de moedas e está se tornando menos volátil com o passar do tempo”, respondeu o usuário @AsherHopp.
SUR: Uma moeda comum entre Brasil e Argentina
Com Lula e Haddad visitando Buenos Aires nesta semana para participar de encontro com países membros da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), a história da criação de uma moeda comum com os argentinos volta a ganhar força.
O mandatário braileiro e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, confirmaram que estudam criar uma nova moeda que una os dois países em artigo em conjunto no jornal Perfil no sábado (21). Em parte do texto, a dupla disse:
“Pretendemos superar barreiras às nossas trocas, simplificar e modernizar regras e incentivar o uso de moedas locais. Também decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda comum sul-americana que possa ser utilizada tanto para fluxos financeiros quanto comerciais, reduzindo os custos de operação e diminuindo a nossa vulnerabilidade externa.”
O ministro argentino da economia, Sergio Massa, adiantou ao Financial Times que discussões embrionárias sobre o assunto devem começar em breve e aponta “Sur” (Sul) como um possível nome para a moeda.
“Haverá uma decisão de começar a estudar os parâmetros necessários para uma moeda comum, o que inclui tudo, desde questões fiscais até o tamanho da economia e o papel dos bancos centrais. Seria um estudo de mecanismos de integração comercial. Eu não quero criar expectativas falsas, é o primeiro passo de um longo caminho que a América Latina deve percorrer”, disse.
A ideia da criação de uma moeda em comum entre os países latino-americanos já foi defendida no passado por Fernando Haddad. Em abril de 2021, o ministro assinou um artigo na Folha de S. Paulo junto com o economista Gabriel Galípolo, no qual defendeu a criação de uma moeda fiat comum entre os países da América do Sul.
“Um projeto de integração que fortaleça a América do Sul, aumente o comércio e o investimento combinado é capaz de conformar um bloco econômico com maior relevância na economia global e conferir maior liberdade ao desejo democrático, à definição do destino econômico dos participantes do bloco e à ampliação da soberania monetária”, defendeu Haddad na época.