BlueBenx relança token que foi a zero e insinua uso do ativo para pagar clientes

Criação de criptomoedas próprias como forma de ressarcir clientes é uma estratégia comum – e fracassada – entre pirâmides financeiras no Brasil
Imagem da matéria: BlueBenx relança token que foi a zero e insinua uso do ativo para pagar clientes

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A BlueBenx, empresa de investimentos em criptomoedas que bloqueou os saques dos clientes em agosto, anunciou na quarta-feira (21) a criação da uma nova versão do seu token BENX, apresentado como o fator que supostamente vai tirar a empresa da crise.

Embora a BlueBenx ainda não tenha dito explicitamente que vai pagar os clientes usando sua própria criptomoeda, afirmou que vai tokenizar todos os bens da empresa e que seu “plano de recuperação passa por seu token”.  

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Em e-mail enviado para clientes na quarta-feira (21) anunciando a criação do novo BENX, a empresa expôs sua articulação em vincular a valorização do token com uma oportunidade de pagar os clientes.

A BlueBenx disse, por exemplo, que está passando por um processo de due diligence – uma investigação nas contas da companhia – com “alguns interessados” em adquirir seus ativos. Sem citar qualquer nome, a diretoria promete que o sucesso dessa operação resultará num “aumento significativo da liquidez do token e, consequentemente, no cumprimento do plano de recuperação almejado”.

Histórico negativo

No entanto, o histórico do mercado cripto mostra que a ideia de empresas criarem seus próprios tokens para ressarcir clientes tem um retrospecto negativo. A estratégia é comum principalmente entre as pirâmides financeiras.

A Atlas Quantum, empresa que prometia gerar grandes lucros através da arbitragem de bitcoin, lançou o token BTCQ depois de desmoronar. A empresa dizia que o BTCQ representava os fundos presos dos investidores na plataforma, e que recompraria os tokens ao longo do tempo para ressarcir os clientes — o que nunca aconteceu.

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A Trust Investing, outra empresa cripto brasileira que deu calote nos clientes após ter sofrido um suposto ataque — discurso semelhante ao da BlueBenx — também lançou sua TrusterCoin. A empresa converteu os fundos dos clientes e, pouco antes de desmoronar, só os pagava com seu próprio token, sem qualquer valor real no mercado.

Outros pirâmides brasileiras que fizeram a mesma coisa no passado foram a Credminer, com seu token LQX, e a Genbit, com seu TPK. Pelo menos para a Genbit a história terminou mal. Juízes condenaram a prática, apontando em processos que a empresa “agiu com abuso ao mudar unilateralmente o que havia sido combinado, colocando o investidor em total situação de vulnerabilidade”.

O que tem de novo no BENX

No e-mail de ontem, a BlueBenx passou aos clientes o endereço do novo contrato inteligente do seu token criado na BNB Chain. Dessa forma, a empresa abandonou de forma definitiva a versão original do BENX, já que a troca de versões não representa uma atualização do token antigo, e sim a criação de um ativo novo a partir do zero. 

Isso contraria a proposta de realizar um hard fork, apontada pela empresa no seu plano de reestruturação inicial, lançado no final de agosto.

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Conforme mostra o CoinMarketCap, a versão antiga do token continua existindo no mercado com o mesmo nome BENX, mas seu valor é ínfimo. Nesta quinta (22), o preço do ativo está por volta de US$ 0,0005, uma cotação que representa uma queda de 99% do recorde de US$ 0,26, batido no final de junho deste ano.

Vale lembrar que os agregadores de preço, como CoinMarketCap e CoinGecko, continuam rastreando o preço da versão antiga do token, abandonado pela BlueBenx.

Baixa liquidez e concentração da oferta

Ao checar a nova versão do BENX no ApeSpace, uma plataforma que rastreia tokens criados na BNB Chain, seu preço atual está em cerca de US$ 0,0004. 

O próprio site faz um alerta de segurança importante para o investidor sobre o BENX, apontando sua baixa liquidez no mercado com o seu principal par, BUSD, que não passa de US$ 849.

“Esse par tem uma baixa liquidez que pode resultar em volatilidade significativa de preços e perda de fundos”, diz a mensagem.

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O site também apresenta uma auditoria automática do contrato inteligente do token BENX, que traz dois alertas de segurança. O primeiro é o fato que o token não tem propriedade renunciada, ou seja, uma pessoa tem controle total sobre o contrato e pode fazer mudanças. Outro alerta foi feito sobre a propriedade permanente do ativo, o que significa que é impossível mudar o dono do token.

Ao analisar os dados no Benx na blockchain da BNB Chain, é possível ver que o fornecimento do token (100 milhões de moedas) está todo concentrado em apenas nove carteiras.

O endereço mãe do token (BlueBenx Deployer) acumula 70 milhões de BENX, ou seja, 70% de toda a oferta da moeda.

O segundo endereço com a maior quantia de BENX no mercado (0x5…d8c4) também é controlado pela BlueBenx, já que recebeu 29,970,000 BENX do endereço mãe. Parte dos fundos desse endereço foi usado para criar pools de liquidez da moeda em exchanges descentralizadas, mas mesmo assim, o endereço segue detendo 23.218.435 BENX atualmente.

Dessa forma, a BlueBenx controla diretamente 93,2% do fornecimento da própria criptomoeda.

Todo fornecimento do token BENX está concentrado em nove endereços (Fonte: Bscscan)

A BlueBenx fez várias promessas de que a nova versão do token é superior à passada, dizendo que ela traz atualizações importantes no “algoritmo de agregação quantitativa do token BENX”, mas sem deixar claro que atualizações são essas.

“As atualizações do token bem como a redução significativa da quantidade disponível e o crescimento na adoção do BENX refletirão diretamente no processo de valorização do BENX, permitindo a realocação dos fundos restantes em USDT nos novos pools de liquidez em DeFi”, diz a nota.